A criação do “Dia Municipal do Patriota” em Porto Alegre, aparentemente uma iniciativa de homenagem à pátria, revela-se uma afronta às noções de democracia e respeito à ordem constitucional. Sob a fachada de patriotismo, essa data é uma clara referência aos alarmantes ataques perpetrados por extremistas bolsonaristas no início do ano, quando sedes dos três poderes em Brasília foram invadidas e depredadas.
Essa efeméride, incluída no Calendário de Datas Comemorativas e de Conscientização do Município, expõe uma atitude preocupante da Câmara de Porto Alegre, liderada pelo presidente Hamilton Sossmeier. Ao não submeter a proposta ao escrutínio pleno no plenário, mas sim promulgá-la por conta própria, Sossmeier demonstra um desrespeito à necessária deliberação democrática.
A passividade do prefeito Sebastião Melo também é digna de questionamento. Ao abster-se de vetar ou sancionar a medida, ele parece endossar indiretamente uma celebração que, na verdade, ecoa um ato de vandalismo contra os pilares da nação. Sua postura de silêncio diante da legitimação dessa data levanta questionamentos sobre seu comprometimento com os princípios democráticos e a estabilidade do país.
Em um momento em que a defesa da democracia é de vital importância, a decisão de promover uma efeméride com raízes em um episódio perturbador de violência política é, no mínimo, insensata. A cidade de Porto Alegre, assim como o Brasil em seu todo, merece lideranças que se empenhem em unir a sociedade em torno dos valores democráticos, em vez de evocar eventos que ameaçam a coesão nacional.
O “Dia Municipal do Patriota”, criado sem o devido debate público e com uma conotação que glorifica ações prejudiciais à harmonia política, é um exemplo claro de como símbolos e datas podem ser manipulados para servir a agendas questionáveis. A verdadeira promoção do patriotismo deve estar baseada na valorização dos princípios democráticos, na busca pelo diálogo e na preservação das instituições que garantem a estabilidade e o progresso da nação.
Wanderson Dutch