O Legado Africano Roubado: a matemática

A história do continente africano é marcada por uma narrativa distorcida, cuidadosamente construída para apagar seu protagonismo no desenvolvimento da civilização. Entre as maiores mentiras que o colonizado nos ensinou está a de que a África sempre foi um lugar de atraso e dependência. No entanto, a cada novo estudo, a verdade se impõe: os povos africanos, incluindo os antigos egípcios, detinham conhecimentos científicos e matemáticos avançados que rivalizam e, em muitos casos, superam os de outras culturas ditas “civilizadas.”

O célebre papiro de Amósis, também conhecido como papiro matemático de Rhind, é um exemplo inquestionável da sofisticação matemática do Egito Antigo, que por sua vez, é parte indissociável do legado africano. Este manuscrito, que remonta a cerca de 1.500 anos a.C., nos oferece um vislumbre das complexas operações matemáticas empregadas na construção das icônicas pirâmides. O papiro contém a solução para problemas de trigonometria, geometria e aritmética, todos desenvolvidos muito antes de civilizações europeias sequer sonharem com esses avanços.

Mas, como a narrativa colonizadora tem mostrado ao longo dos séculos, o conhecimento africano foi constantemente desvalorizado ou, pior, apropriado. Ao longo da história, a Europa não apenas saqueou os recursos naturais do continente, mas também se apropriou de seu patrimônio intelectual e cultural. A geometria das pirâmides, muitas vezes descrita como “mistério” ou atribuída a intervenções externas, é, na realidade, o resultado de milênios de observação e refinamento científico pelos próprios africanos.

O papiro de Rhind, com seus cálculos precisos sobre áreas, volumes e inclinações de pirâmides, desmonta o mito de que esses monumentos foram frutos de uma “ajuda divina” ou de alienígenas, como tantas teorias esdrúxulas tentam sugerir. Não, os povos africanos possuíam conhecimento científico avançado, e suas contribuições para a humanidade foram deliberadamente apagadas ou reinterpretadas sob uma ótica eurocêntrica.

Ao explorar o papiro, fica claro que os egípcios dominavam conceitos que seriam redescobertos séculos depois pelos gregos e romanos, que, por sua vez, são frequentemente apresentados como os “pais da ciência”. No entanto, é preciso lembrar que muitos dos textos matemáticos e filosóficos gregos se basearam no aprendizado obtido em Alexandria, um dos maiores centros de saber do mundo antigo, em solo africano.

O que o colonizado não quer que você saiba é que a construção de pirâmides envolvia cálculos complexos que até hoje fascinam engenheiros e matemáticos. Problemas como o cálculo do “seked”, descrito por Amósis, mostram uma aplicação prática e avançada da trigonometria. Através de um método sistemático, os egípcios calculavam a inclinação das pirâmides, garantindo precisão estrutural e estética, um feito que ainda desafia a compreensão moderna.

A Descoberta e Conservação do Papiro Rhind

O Papiro Rhind, um dos mais importantes documentos matemáticos do Egito Antigo, foi encontrado em condições fragmentadas. Originalmente com 5 metros de comprimento, o papiro estava dividido em duas partes, com uma seção central de aproximadamente 18 cm faltando. É provável que esses cortes tenham sido feitos por ladrões em tempos modernos, buscando aumentar o valor das partes separadas no mercado de antiguidades.

Em 1858, o arqueólogo inglês Alexander Henry Rhind adquiriu as duas seções principais em Luxor. Após sua morte, o papiro foi transferido para o acervo do Museu Britânico, onde permanece até hoje. Atualmente, o museu detém duas partes significativas do papiro: a primeira, contendo 40 problemas algébricos, e a segunda, que abrange 20 problemas de geometria e medições.

A terceira parte, crucial para a compreensão completa da obra, foi redescoberta apenas em 1922, de forma inusitada. Fragmentos desta seção estavam guardados no acervo da Sociedade Histórica de Nova York. Após sua identificação, esses fragmentos foram transferidos para o Museu do Brooklyn, onde estão preservados atualmente.

A reunião dessas partes foi fundamental para a reconstrução e análise do Papiro Rhind, permitindo um entendimento mais amplo das avançadas técnicas matemáticas do Egito Antigo.

EVES, Howard. Introdução à História da Matemática. Campinas: Editora Unicamp, 1997.

•Papiro Matemático de Rhind. Museu Britânico. Disponível em: [link para o site do museu].•Fragmentos do Papiro Matemático de Rhind. Museu do Brooklyn. Disponível em: [link para o site do museu].•Papiro Matemático de Rhind. Planet Math. Disponível em: [link para o site do Planet Math]. Acesso em:

•GILLINGS, Richard J. Mathematics in the Time of the Pharaohs. New York: Dover Publications, 1982.

•CLAGETT, Marshall. Ancient Egyptian Science: A Source Book. Volume III: Ancient Egyptian Mathematics. Philadelphia: American Philosophical Society, 1999.

•BARD, Kathryn A. An Introduction to the Archaeology of Ancient Egypt. Malden, MA: Wiley-Blackwell, 2015.

•ROBINS, Gay; SHUTE, Charles C. D. The Rhind Mathematical Papyrus: An Ancient Egyptian Text. London: British Museum Publications, 1987.

•CHACE, Arnold Buffum. The Rhind Mathematical Papyrus: Free Translation and Commentary with Selected Photographic Reproductions. Classics of Science Series. Chicago: The Open Court Publishing, 1927.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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