Nem todo irmão é irmão: o triste fim de Thomas Sankara

### Nem todo irmão é irmão

A história dos movimentos pan-africanistas e dos revolucionários pretos é marcada por uma luta incessante contra a opressão e a desigualdade. No entanto, essa história também é tragicamente pontuada por assassinatos brutais de líderes que ousaram desafiar o status quo e lutar por um mundo mais justo. Entre o século 20 e o início do século 21, muitos desses líderes foram silenciados de forma violenta, revelando tanto a força das suas ideias quanto a profunda resistência que enfrentaram.

Os assassinatos de figuras como Malcolm X, Martin Luther King Jr., Patrice Lumumba e muitos outros não foram meros atos de violência isolada, mas parte de uma estratégia maior para suprimir movimentos que ameaçavam a ordem estabelecida. Essas mortes servem como um doloroso lembrete de que os esforços para promover a justiça e a igualdade racial muitas vezes encontram oposição feroz.

Malcolm X, por exemplo, foi um dos mais ardentes defensores dos direitos dos pretos nos Estados Unidos, conhecido por sua eloquência e coragem em enfrentar a supremacia branca. Sua morte, em 1965, não apenas privou o movimento de um líder poderoso, mas também expôs as divisões internas e as vulnerabilidades que poderiam ser exploradas por seus adversários.

Patrice Lumumba, o primeiro primeiro-ministro do Congo independente, foi assassinado em 1961 após ser deposto em um golpe apoiado por interesses ocidentais. Sua luta pela verdadeira independência africana e sua resistência ao neocolonialismo tornaram-no um alvo inevitável. A morte de Lumumba simboliza o destino trágico de muitos líderes africanos que desafiaram as potências coloniais e pagaram com suas vidas.

Nos anos seguintes, outros líderes revolucionários e pan-africanistas enfrentaram destinos semelhantes. Thomas Sankara, presidente de Burkina Faso, foi assassinado em 1987. Conhecido como o “Che Guevara africano”, Sankara promoveu políticas de autossuficiência e combate à corrupção, mas foi derrubado por forças internas e externas que se opunham às suas reformas radicais.

A violência contra esses líderes não apenas interrompeu suas vidas e carreiras, mas também teve um efeito paralisante sobre os movimentos que lideravam. A perda de liderança carismática e visionária muitas vezes deixou esses movimentos desorganizados e vulneráveis a repressões adicionais.

A crítica profunda que emerge dessa reflexão é a de que esses assassinatos não foram apenas ataques contra indivíduos, mas contra a própria ideia de libertação e igualdade racial. Os interesses poderosos que se opõem a mudanças estruturais profundas têm repetidamente demonstrado que estão dispostos a recorrer à violência para manter o status quo.

Além disso, a luta desses líderes e seus sacrifícios nos lembram que a solidariedade e a unidade dentro dos movimentos de justiça racial são essenciais. Divisões internas, muitas vezes exacerbadas por influências externas, têm sido um fator que facilita a repressão. A lição aqui é clara: para enfrentar os poderosos interesses que se opõem à justiça, é crucial que os movimentos mantenham um sentido de propósito comum e uma estratégia unificada.

O homem que assassinou Thomas Sankara era seu amigo de infância, Blaise Compaoré.

Blaise Compaoré e Thomas Sankara cresceram juntos. Compaoré foi criado pelo pai de Sankara, e eles viviam como irmãos. Ambos ingressaram no exército de Burkina Faso e, quando Sankara se tornou presidente, nomeou Compaoré como seu vice-presidente.

Mal sabia Sankara que seu amigo e irmão de criação o mataria mais tarde. Cinco dias antes do assassinato, Sankara e Compaoré participaram de um evento onde dançaram e beberam juntos. Embora a Unidade de Inteligência do país tivesse informado Sankara sobre os planos de Compaoré para assassiná-lo, ele descartou a possibilidade de que seu amigo de infância e irmão fizesse isso com ele. Sankara estava relutante em agir contra Compaoré, pois não podia acreditar na traição de alguém com quem cresceu.

Em 15 de outubro de 1987, Thomas Sankara foi assassinado em um golpe liderado por Blaise Compaoré, o homem com quem cresceu e a quem amava como um irmão. Sankara foi alvejado com onze tiros no peito e quatro na cabeça pelos homens de Compaoré.

Após o golpe, o pai de Sankara perguntou a Compaoré: “Onde está seu irmão, Thomas?” Compaoré não conseguiu responder. Pouco depois, Blaise Compaoré assumiu a presidência de Burkina Faso, revertendo muitas das políticas pan-africanas de Sankara, reatando as relações com a França e voltando ao FMI.

Um patife, covarde!

#África #BurkinaFaso

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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