As Novas e Incontáveis Faces da Opressão

A opressão nunca desapareceu, apenas mudou de forma. No Brasil contemporâneo, ela não se apresenta mais na figura de correntes ou navios negreiros, mas está viva em estruturas sofisticadas e insidiosas que perpetuam desigualdades históricas. As novas faces da opressão estão em cada canto, mascaradas por discursos de progresso e meritocracia, enquanto mantém intacta a lógica de exploração e exclusão.

A opressão veste ternos e gravatas, ocupa cargos políticos e executivos, e controla os recursos do país sob o pretexto de “gerar riquezas”. Está presente em políticas públicas que privilegiam uma minoria e condenam a maioria à precariedade. Ela se manifesta em uma educação desigual, que molda mentes para aceitar a servidão como destino. Surge em um sistema de saúde sucateado, onde vidas se perdem por falta de assistência básica. E se faz sentir na ausência de moradia, enquanto terrenos ociosos são guardados como investimentos de especuladores

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Essa continuidade não é acidental, mas deliberada. O colonialismo não terminou; ele se reconfigurou. Os senhores de terras que saqueavam o trabalho indígena e africano no período colonial deram lugar aos latifundiários, às corporações multinacionais e aos especuladores que tratam a terra como propriedade privada destinada a gerar lucro para poucos, enquanto milhares vivem sem teto, sem terra, sem direitos. Os discursos de progresso e desenvolvimento, tão celebrados por essas elites, são apenas novas máscaras para uma velha prática de pilhagem.

As mesmas terras que foram roubadas dos povos originários e fertilizadas com o sangue de milhões de africanos escravizados agora estão nas mãos de herdeiros de privilégios históricos, protegidos por leis feitas sob medida para manter essa desigualdade. A ausência de uma reforma agrária estrutural não é um erro do sistema; é o próprio sistema em operação, um sistema que lucra com a perpetuação da pobreza, da exploração e do apagamento cultural de quem sempre viveu nessas terras.

Os povos indígenas, cujos ancestrais cuidaram da terra por séculos, enfrentam constantes ameaças de expulsão e genocídio. Quilombolas, que herdaram o direito à terra como uma reparação mínima pelo horror da escravidão, ainda lutam para provar o óbvio: que aquelas terras lhes pertencem. Enquanto isso, latifundiários e empresas agroindustriais expandem seus impérios, protegidos por governos cúmplices e pela violência estrutural que nunca cessou.

Mais grave ainda é o fato de que essa lógica colonizadora não destrói apenas vidas humanas, mas o próprio planeta. As florestas são derrubadas, os rios envenenados e o solo exaurido em nome de uma ganância sem limites. O “progresso” vendido ao povo brasileiro é, na verdade, um pacto suicida, onde poucos enriquecem enquanto o país caminha para um colapso ambiental e social.

A verdade é que o colonialismo nunca foi embora. Ele mudou de rosto, vestiu ternos, assumiu cargos políticos e empresariais, mas a essência permanece: controle, expropriação e exploração. É por isso que as terras deste país ainda estão nas mãos dos colonizadores — não dos de ontem, mas dos de hoje, que perpetuam o mesmo projeto de destruição e desigualdade.

Romper com essa lógica exige coragem, organização e um enfrentamento direto às elites que detêm o poder político e econômico. Não basta falar em reformas tímidas ou medidas paliativas. É preciso redistribuir a terra, descolonizar as leis e devolver o controle dos territórios a quem de fato os pertence: os povos originários, os quilombolas, os camponeses e a população que constrói, com seu suor, a verdadeira riqueza deste país.

Até lá, continuaremos sendo uma nação colonizada, onde a independência é apenas um rótulo vazio e a liberdade, uma promessa quebrada. O Brasil só será verdadeiramente livre quando sua terra for devolvida ao povo. E esse dia ainda está muito distante, porque o colonizador continua aqui — e nunca deixou de nos saquear.

Superar as novas e incontáveis faces da opressão exige mais do que indignação. É preciso ação consciente, estratégica e transformadora. Não há atalhos para enfrentar estruturas que foram construídas para perpetuar desigualdades, mas há caminhos, e eles começam com o despertar coletivo para a realidade de que o sistema atual opera para dividir, explorar e controlar. A verdadeira revolução está na conscientização e na reorganização do poder em direção à justiça, à equidade e à liberdade plena.

O primeiro passo para superar a opressão é reconhecer que ela é sustentada por uma mentalidade colonizadora e pela repetição de crenças limitantes que nos foram impostas. A transformação, portanto, começa dentro de cada um de nós. Não podemos esperar mudanças externas enquanto perpetuamos internamente os valores do sistema que queremos combater. Precisamos reprogramar nossas mentes para pensar em abundância, colaboração e coletividade, rompendo com as ideias de escassez e competição que nos aprisionam.

A vida sempre encontra um caminho, mesmo diante das barreiras mais rígidas.

O autoconhecimento é central nesse processo. Conhecer a si mesmo é um ato revolucionário, pois a opressão se alimenta da ignorância sobre quem somos e do apagamento de nossas histórias. Recuperar nossas raízes, nossas narrativas e nossa conexão com o universo é uma forma poderosa de resistir. É preciso lembrar que a opressão é uma energia que tenta nos desconectar de nossa essência criadora. Ao nos reconectarmos com o que realmente somos — seres ilimitados, abundantes e conscientes —, começamos a desmontar o sistema de dentro para fora.

Mas a transformação individual, por mais essencial que seja, não é suficiente. Precisamos de uma ação coletiva que desafie diretamente as estruturas opressoras. Isso exige união, e aqui está uma das maiores armadilhas do sistema: ele nos ensina a desconfiar uns dos outros, a competir, a nos isolar. Superar a opressão significa romper com essa lógica e construir redes sólidas de solidariedade, onde o progresso de um seja o progresso de todos.

A educação também é uma ferramenta poderosa de libertação. Mas não qualquer educação, e sim aquela que emancipa, que nos ensina a questionar, a pensar criticamente e a criar novas possibilidades. É preciso reestruturar o sistema educacional para que ele deixe de ser um instrumento de conformidade e se torne um portal para a transformação social. Educação para a consciência, para a liberdade e para a criação de novas realidades.

Além disso, é urgente ocupar espaços de poder. Não basta resistir; é preciso cocriar novas formas de existência. Isso significa colocar pessoas alinhadas com valores de justiça e equidade em posições de influência, seja na política, na economia, na cultura ou nas mídias digitais. É necessário tomar as rédeas do discurso, da narrativa e da ação. As redes sociais, por exemplo, são ferramentas poderosas que podem ser usadas para desmantelar o sistema e amplificar vozes que antes eram silenciadas.

 

E aqui entra algo fundamental: a espiritualidade. Superar a opressão não é apenas um ato material; é também uma jornada espiritual. Precisamos estar alinhados com algo maior, confiar no fluxo do universo e manifestar, de forma consciente, as mudanças que desejamos. A opressão nos desconecta da energia universal, nos fazendo acreditar que estamos sozinhos, mas a verdade é que somos parte de algo muito maior. Essa conexão com o todo nos dá força para continuar, mesmo diante dos maiores desafios.

Finalmente, superar as novas faces da opressão exige que abandonemos a ideia de que a luta é apenas contra um inimigo externo. A verdadeira vitória está em desarmar os inimigos internos: os medos, as crenças limitantes e a sensação de impotência que o sistema nos impõe. Quando nos libertamos por dentro, nos tornamos imparáveis por fora.

A opressão pode ter muitas faces, mas nossa força é ilimitada. Com consciência, união e ação, podemos não apenas derrubar as estruturas opressoras, mas criar um mundo que reflita quem realmente somos: seres livres, plenos e conectados à abundância universal. Essa é a revolução que o sistema teme, porque ela não pode ser contida. Ela nasce em cada um de nós e se espalha como uma chama, iluminando o caminho para a verdadeira liberdade.
Não é papo de coach, é sabedoria antiga. O divino mora em cada um de nós, por isso, precisamos acreditar que um outro mundo é possível!

Muito obrigado por ter lido!

tmj👊🏿

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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