Muitos de vocês que me acompanham aqui talvez nem imaginem, mas minha relação com o universo da magia, do ocultismo e dos saberes esotéricos não é de hoje. E quando eu falo de magia, não me refiro àquelas caricaturas construídas pelo cinema, pelos desenhos animados ou, principalmente, pelos dogmas impostos pela igreja.
Estou falando de saberes ancestrais africanos, que atravessaram séculos, cruzaram oceanos e sobreviveram às tentativas de apagamento, perseguição e demonização. Saberes que, muitas vezes, vieram por meio da oralidade, passados de geração em geração, desde os povos do Nilo até os povos da diáspora espalhados pelo mundo.
Falo, por exemplo, da filosofia hermética presente no Caibalion, um texto que reúne os ensinamentos egípcios, escrito por Imhotep, que posteriormente ficou conhecido como Hermes Trismegisto, sábio africano, conhecido como “o três vezes grande”. Hermes foi mestre do Antigo Egito, muito antes das religiões abraâmicas surgirem. É dele que vem leis universais como o princípio do mentalismo, da vibração, da polaridade e da correspondência — aquela famosa máxima: “O que está em cima é como o que está embaixo.”
Mas claro… você não aprendeu isso na escola.
O sistema educacional, a igreja, o colonialismo e toda a estrutura ocidental fizeram questão de esconder que os fundamentos da alquimia, da astrologia, da magia cerimonial, do hermetismo, da cabala e de tantos outros saberes ocultistas são, na verdade, frutos do conhecimento africano, egípcio, etíope, núbio, e de tantos outros povos da nossa ancestralidade.
Quando a Europa começou a copiar, distorcer e embranquecer esses saberes, o que ela não conseguia entender, ela demonizou. E o que ela entendia… ela transformava em privilégio de poucos. Foi assim que a igreja católica queimou milhares de mulheres — muitas delas curandeiras, parteiras, erveiras, estudiosas dos astros, das plantas, das energias. Foram chamadas de bruxas. Foram chamadas de hereges.
E não pense que isso ficou no passado. Até hoje, quando alguém se conecta com saberes ancestrais — especialmente se forem saberes africanos — o racismo espiritual bate na porta. Tentam dizer que é coisa do mal, que é feitiçaria, que é errado. Mas quando é um europeu te vendendo um curso de tarô, de reiki ou de astrologia… de repente, virou autoconhecimento, desenvolvimento pessoal e espiritualidade gourmetizada.
Mas a história não acabou. Muito pelo contrário: a roda girou.
E hoje, no coração de São Paulo, está acontecendo um dos maiores movimentos de retomada desses saberes no Brasil e na América Latina.
O evento está acontecendo na Vila de Paranapiacaba, um distrito histórico localizado no município de Santo André, na região metropolitana de São Paulo.
A 20ª edição da Convenção de Bruxas e Magos ocorre nos dias 16, 17, 18, 24 e 25 de maio de 2025. A programação inclui palestras, workshops, feiras de produtos místicos, apresentações artísticas e diversas atividades relacionadas à espiritualidade e à magia
O evento, que pela primeira vez acontece em dois finais de semana, é um marco não só no Brasil, mas em toda América do Sul. São dias inteiros de atividades, feiras místicas, palestras, oficinas, círculos de cura, tarot, astrologia, radiestesia, hermetismo, xamanismo, magia cerimonial, benzimentos, práticas afrodiásporicas e muito mais.
Mas pra além dos incensos, dos cristais, das cartas, das velas e dos símbolos, o que realmente importa — e precisa ser dito — é que esse evento é, sim, uma forma de resistência cultural. É uma forma de resgate. É um grito coletivo contra séculos de apagamento espiritual.
O que se vê nesse festival não é só magia.
É história.
É filosofia.
É ciência ancestral.
É espiritualidade sem dono, sem igreja, sem colonialismo.
Porque, sim, os saberes que hoje muitos chamam de ocultismo foram sequestrados, embranquecidos e reembalados como se tivessem nascido na Europa.
Mas a verdade é cristalina pra quem estuda sério: a magia, o hermetismo, a alquimia, a astrologia, a numerologia, as leis universais, as práticas energéticas e espirituais nasceram nas margens do Nilo, nas cidades do Kemet (o nome original do Egito), muito antes de qualquer igreja cristã ou qualquer império europeu existir.
E agora, centenas de anos depois, a cena se inverte.
As ruas de São Paulo se enchem de bruxas, magos, ocultistas e buscadores.
E não… eles não estão se escondendo. Eles não estão sendo perseguidos. Eles não estão sendo queimados em praça pública.
Eles estão reunidos, visíveis, potentes, reafirmando que o conhecimento não pertence à igreja, nem ao Estado, nem a nenhuma instituição.
O saber é livre.
O saber é ancestral.
O saber é indomável.
E se você acha que isso é só um festival místico, se engana.
Isso é um movimento espiritual, social, histórico e político.
É uma retomada de consciência.
É o anúncio claro de que a magia voltou pra mão de quem nunca deveria ter perdido.
Se você, assim como eu, compreende que espiritualidade não é fuga, não é alienação, mas sim ferramenta de transformação, ferramenta de cura, de libertação e de reconstrução de mundos — então você entende o que esse evento representa.
E talvez agora você também entenda que quando eu falo em magia, eu não estou falando só de cartas, rituais ou cristais.
Eu estou falando de algo muito mais profundo.
Estou falando de saberes ancestrais.
De memória.
De história.
De poder.
E se você quiser testemunhar isso de perto, o convite tá feito.
São dois finais de semana, 17, 18, 24 e 25 de maio, em São Paulo.
Um encontro de milhares de almas livres, conscientes e comprometidas em lembrar ao mundo que nem a fogueira, nem o açoite, nem a colonização, nem o racismo espiritual foram capazes de apagar aquilo que carrega milênios de força:
O saber ancestral.
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