Pouco se fala sobre Maria Firmina dos Reis

O apagamento proposital das histórias de sucesso dos negros brasileiros que conseguiram obter destaque e sucesso em um período de extrema repressão racial faz parte do racismo estrutural que nega às próprias comunidades negras o direito de conhecer sobre sua própria história. É revoltante, mas estamos aqui para lembrar e falar sobre cada um deles e suas respectivas vitórias. Um exemplo notável desse apagamento é o caso de Maria Firmina dos Reis.

Foi uma notável escritora e poetisa brasileira nascida em 1822, é uma figura importante na literatura e na história do Brasil. Ela é reconhecida como a primeira romancista negra do país e uma das primeiras do continente americano. O seu trabalho literário, juntamente com sua atuação como professora e abolicionista, são testemunhos notáveis de resistência em um contexto de repressão racial.

Em 1859, Maria Firmina dos Reis publicou o romance “Úrsula,” que é frequentemente considerado o primeiro romance abolicionista do Brasil. Em suas páginas, ela denunciou as injustiças da escravidão e o tratamento desumano dos escravizados, contribuindo assim para o movimento abolicionista e a conscientização sobre a questão da escravidão no país.

Maria Firmina também foi uma educadora comprometida, trabalhando como professora em escolas públicas e defendendo a educação como uma ferramenta fundamental para a emancipação dos afrodescendentes. Sua influência nas gerações seguintes de escritores negros e na luta pela igualdade racial não deve ser subestimada.

No entanto, é triste notar que a história de Maria Firmina dos Reis e suas contribuições frequentemente passaram despercebidas e foram negligenciadas nos registros históricos por um longo tempo. Isso é um reflexo do racismo estrutural que ainda existe no Brasil e em muitos outros lugares, onde as histórias de sucesso e as contribuições de negros são apagadas ou minimizadas.

Hoje, é fundamental destacar figuras como Maria Firmina dos Reis e suas realizações notáveis. Ela é um exemplo inspirador de como, mesmo em tempos de repressão racial, indivíduos negros no Brasil lutaram contra a adversidade, contribuíram para a mudança social e cultural e continuam a ser uma fonte de orgulho para as comunidades negras e para o Brasil como um todo. A lembrança de sua história e suas conquistas é essencial para combater o racismo estrutural e construir um futuro mais justo e igualitário.

O apagamento de grandes nomes negros da história é um sintoma perturbador do racismo estrutural que persiste em todo o mundo, inclusive nos dias de hoje. Essa forma de discriminação sistemática resulta na marginalização e na sub-representação de pessoas negras em diversos aspectos da sociedade, incluindo a história e a cultura.

Em muitas partes do mundo, as narrativas históricas têm sido moldadas por muito tempo para destacar predominantemente figuras brancas e ocultar as contribuições significativas de líderes, pensadores e artistas negros. Esse apagamento é um reflexo do viés racial profundamente enraizado na maneira como a história é ensinada, documentada e celebrada.

O racismo estrutural não se limita apenas à história, mas permeia todas as esferas da vida, incluindo a educação, o mercado de trabalho, o sistema de justiça, a política e a mídia. Ele é a razão pela qual muitas vezes vemos desigualdades alarmantes nas taxas de encarceramento, oportunidades econômicas limitadas e disparidades de acesso à educação de qualidade para pessoas negras.

O apagamento de figuras negras notáveis na história é especialmente prejudicial, pois perpetua a ideia de que as contribuições de pessoas negras são secundárias ou não merecem reconhecimento. É um lembrete de como o racismo estrutural se manifesta na forma como a história é contada e valorizada. Isso também tem implicações no presente, pois a falta de modelos e referências positivas pode limitar as aspirações e o senso de autoestima de jovens negros.

No entanto, é fundamental destacar que, apesar desses obstáculos, a resiliência e o talento de pessoas negras continuam a brilhar. Grandes nomes negros que foram apagados ou sub-representados na história muitas vezes enfrentaram desafios extraordinários e, no entanto, deixaram um legado duradouro de realizações notáveis. Celebrar essas conquistas e desafiar o apagamento é uma maneira poderosa de combater o racismo estrutural.

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Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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