O Calendário Etíope: Uma Jornada no Tempo e na Cultura

O calendário etíope, também conhecido como calendário ge’ez, oferece uma fascinante perspectiva sobre como o tempo é medido e vivenciado na Etiópia. Este sistema calendárico distinto tem raízes antigas, remontando ao período do Reino de Axum, e continua a ser uma parte essencial da identidade cultural etíope.

Diferentemente do calendário gregoriano amplamente utilizado em todo o mundo, o calendário etíope possui 13 meses, 12 com 30 dias cada e um mês adicional, Pagumē, com 5 ou 6 dias, dependendo se o ano é bissexto. Cada mês é nomeado com base em eventos sazonais e religiosos significativos.

O ano etíope inicia-se em 11 de setembro (ou 12 de setembro em anos bissextos) do calendário gregoriano. Esta discrepância nas datas resulta na diferença de aproximadamente 7 a 8 anos em relação ao calendário ocidental. Assim, enquanto escrevo este texto em 2024, na Etiópia, eles entraram agora no ano 2016.

A singularidade do calendário etíope não reside apenas em sua estrutura temporal, mas também em sua profunda ligação com a cultura e religião do país. Muitos dos meses recebem seus nomes de festivais religiosos cristãos ortodoxos, destacando a influência do Cristianismo Ortodoxo Etíope na sociedade.

O calendário etíope é mais do que uma medida do tempo; é um reflexo do rico patrimônio histórico e cultural da Etiópia. Sua utilização persistente não apenas destaca a resiliência cultural, mas também representa um lembrete da singularidade e diversidade que moldam as tradições etíopes ao longo dos séculos.

A história da Etiópia destaca-se como uma verdadeira revolução entre as nações africanas, pois é um dos raros exemplos de um território que não sucumbiu à colonização europeia. A independência etíope é um testemunho da resiliência e da capacidade de resistência do povo etíope diante das investidas imperialistas.

No decorrer do século XIX, período caracterizado pela corrida colonial europeia na África, a Etiópia enfrentou múltiplas ameaças de potências estrangeiras. A Batalha de Adwa, em 1896, foi um marco crucial que solidificou a independência etíope. Neste confronto, liderado pelo imperador Menelik II, as tropas etíopes derrotaram as forças italianas, frustrando a tentativa de expansão do Império Italiano sobre a Etiópia.

A chave para o sucesso etíope em resistir à colonização foi a habilidade de unir-se contra as ameaças externas. O imperador Menelik II desempenhou um papel central na formação de uma frente unida contra os invasores, e sua liderança estratégica na Batalha de Adwa tornou-se um símbolo duradouro de orgulho nacional.

Além disso, a geografia montanhosa e a complexidade cultural da Etiópia dificultaram a invasão e a ocupação efetiva por parte das potências coloniais. A resistência do povo etíope contra a colonização não foi apenas militar, mas também cultural, preservando suas tradições e identidade ao longo dos séculos.

A Etiópia, assim, permanece como um farol de independência na história africana, desafiando as narrativas coloniais predominantes e demonstrando que a resistência e a preservação da autonomia são possíveis mesmo em meio às pressões imperialistas que marcaram a época.

Haile Selassie, cujo nome significa “Poder da Trindade”, é uma figura de importância ímpar na história etíope e global. Como o último imperador da Etiópia, Selassie deixou um legado duradouro que transcendeu suas fronteiras nacionais e reverberou no cenário internacional.

Nascido em 1892, Selassie ascendeu ao trono em 1930 e, ao longo de seu reinado, desempenhou um papel crucial na defesa da soberania etíope contra as ameaças coloniais. Seu caráter firme foi evidente na Batalha de Adwa, onde as tropas etíopes derrotaram as forças italianas, marcando uma vitória simbólica contra o imperialismo europeu.

Além de suas realizações militares, Haile Selassie desempenhou um papel significativo na promoção da modernização e desenvolvimento na Etiópia. Introduziu reformas educacionais, infraestrutura e programas sociais, visando elevar o padrão de vida de seus súditos.

A importância de Haile Selassie vai além das fronteiras etíopes devido à sua associação com o movimento Rastafari. Selassie é considerado pelos rastafaris como a encarnação divina, referido como o “Leão Conquistador da Tribo de Judá” e, muitas vezes, como o próprio Deus. Essa adoração deu origem à imagem icônica de Selassie nos círculos culturais e musicais, especialmente através do reggae, com artistas como Bob Marley espalhando a mensagem rastafari para todo o mundo.

Contudo, seu reinado foi interrompido pela ocupação italiana durante a Segunda Guerra Mundial, e em 1974, Haile Selassie foi deposto durante uma revolução interna. Sua morte em 1975 marcou o fim de uma era na história etíope.

Por fim, a importância de Haile Selassie reside na sua liderança firme, na defesa da soberania etíope, nas reformas modernizadoras e, para muitos, na influência espiritual e cultural que transcendeu fronteiras, tornando-o uma figura ímpar na história mundial e uma fonte contínua de inspiração.

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Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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