Mãos de doces de chocolate ainda são vendidas na Bélgica, apesar do genocídio do rei Leopoldo no Congo

Os europeus inventaram uma lenda para encobrir os atos sanguinários de Leopoldo II, uma história que se assemelha a tantas outras fábulas criadas para ocultar a brutalidade da colonização. Diz a lenda que na antiga cidade de Antuérpia, na Bélgica, um gigante chamado Druon Antigon aterrorizou os comerciantes que cruzavam o rio Escalda. Ele exigia taxas de pedágio que não havia merecido e puniria qualquer desobediência cortando a mão direita de suas infelizes vítimas.

Como todas as boas histórias, um herói – Silvius Brabo, superou a tirania e cortou a mão do gigante. Para selar o acordo, ele jogou aquela mão que causou tanto mal no mesmo rio que outrora foi o centro nevrálgico do terrível governo de Antígona. Até hoje, a cidade de Antuérpia vende chocolates em formato de mão (Antuérpia Handjes) em comemoração ao heroísmo de Brabo e à consequente morte do reinado de terror do gigante.

No entanto, a realidade é muito mais sombria do que essa lenda para ludibriar olhos desatentos.

Leopoldo II, o tirano belga que governou de 1865 a 1909, deixou um rastro de horror que a Europa insiste em ocultar até os dias de hoje. Sob sua brutal liderança, o Congo testemunhou um dos genocídios mais hediondos da história, com a perda devastadora de mais de 15 milhões de vidas africanas.

Um dos atos mais abomináveis que ele perpetrou foi a prática sistemática de amputação de mãos, uma crueldade desumana imposta a homens, mulheres e até crianças, todos reduzidos a meros objetos explorados para alimentar a insaciável ganância da Bélgica.

A monstruosidade das ações de Leopoldo não pode mais ser varrida para debaixo do tapete. A Europa dominante, que persiste em manter um silêncio ensurdecedor, deve encarar sua responsabilidade. Este silenciamento é, na verdade, uma estratégia calculada para proteger as estruturas sórdidas que sustentaram o ascenso do capitalismo europeu.

Por que os horrores de Hitler não são varridos para debaixo do tapete e transformados em souvenires, como fazem com Leopoldo II? A resposta é clara: um matou europeus brancos, o outro exterminou africanos negros, e aparentemente, isso faz uma diferença gritante aos olhos do mundo.

É crucial que exponhamos essas feridas históricas para que as elites no poder não continuem a urdir seus planos sórdidos. A ocultação estratégica dessas memórias é uma tragédia em si mesma, uma tragédia que permite que cidades como Antuérpia, apelidada de “capital do chocolate,” vendam de forma grotesca mãos de escravizados decepadas como um doce típico regional.

Isso é um ultraje, um ato de sadismo puro que ilustra como o passado sombrio persiste na cultura contemporânea. O caos social que enfrentamos hoje não é mera coincidência; é uma manifestação de uma tragédia planejada, com uma população silenciada e desinformada. É hora de romper com esse ciclo perverso, rejeitar a complacência e buscar a verdade. A memória coletiva deve prevalecer sobre o esquecimento conveniente, para que possamos construir um mundo verdadeiramente justo e humano.

Wanderson Dutch .

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

apoia.se