Kemet, o verdadeiro e mais famoso nome do antigo Egito, deriva-se do antigo egípcio “Kmt”, que significa “Terra dos homens pretos”. Esse nome é uma referência aos solos pretos e férteis das planícies de inundação do Hapi, também conhecido como o rio Nilo no antigo Egito, em contraste com a “terra vermelha” do deserto. A consolidação de Kemet ocorreu por volta do ano 3100 a.C., com a unificação política do Alto e do Baixo Egito. É interessante notar que o nome “Egito” é derivado do grego “Aígyptos”, prevalecendo devido à adoção pelos europeus, em vez do nome local, “Miṣr”, de origem árabe.
A egiptologia “afrocentrada” é um campo de pesquisa iniciado por Cheikh Anta Diop, que estuda a civilização de Kemet, antigo Egito, com base na premissa de que é uma civilização de africanos de pele preta. Diop argumenta a validade de sua posição através de uma série de considerações relativas às analogias estabelecidas entre as culturas sub-saarianas e as do antigo Egito, incluindo cor da pele, religião, proximidade linguística, sistema marital e organização social. Ele sugere que as populações da África subsaariana têm como ancestral direto os antigos keméticos, alguns dos quais podem ter migrado para a África Ocidental em particular.
Diop propõe testes de melanina como uma forma de determinar a pigmentação dos antigos keméticos e encerrar o debate sobre sua identidade racial. Ele expressa surpresa com a falta de generalização desses testes, dado sua confiabilidade. Diop solicitou ao curador do Museu do Cairo realizar um teste de melanina nas múmias egípcias, mas teve seu pedido recusado. No entanto, com amostras de pele de múmias egípcias obtidas no laboratório de antropologia física do Museu do Homem em Paris, Diop realizou pequenos cortes e, através da observação microscópica com luz ultravioleta, concluiu indubitavelmente que os antigos egípcios eram negros.
Além dos testes de melanina, Diop defende a utilização de medidas osteológicas como uma técnica que confirma os egípcios como negros. Ele enfatiza que, por meio de medidas osteológicas, como o tamanho corporal determinado por músculos e ossos, os antigos egípcios são identificados como um povo africano.
Diop também discute os tipos sanguíneos, observando que o grupo A seria característico da “raça” branca antes de qualquer miscigenação, enquanto o grupo B seria típico das populações da África Ocidental. Ele destaca a prevalência do grupo B entre os egípcios e propõe a realização de testes sanguíneos nas múmias egípcias para verificar a distribuição dos tipos sanguíneos. Diop explora a conexão do tipo sanguíneo do Grupo B entre as antigas e as modernas populações egípcias e a população africana da África Ocidental.
Segundo Cheikh Anta Diop, a comparação das cosmogonias egípcias com as cosmogonias africanas contemporâneas, como as dos povos Dogon, Ashanti e Yoruba, revela uma notável semelhança, indicando um parentesco cultural. Diop destaca, por exemplo, a similaridade entre o Deus-Serpente Dogon e o Deus-Serpente egípcio, assim como entre o Deus-Chacal dogon e o Deus-Chacal egípcio, ambos associados a elementos incestuosos. Ele também aponta para isomorfias como Noun/Nommo e Amon/Ama, além de festas agrárias e práticas cíclicas compartilhadas.
Diop ilustra como as inscrições divinas de Kemet associavam os sobrenomes dos deuses com a palavra “negra”, refletindo assim o conceito do bem (representado pelo preto) tanto nas pessoas quanto nos deuses.
Em relação às evidências bíblicas, Diop argumenta que os egípcios se autodenominavam “KMT”, que significa “os pretos”, termo do qual se derivaria a palavra bíblica “Kam” ou “Cam”. Ele explora como a Bíblia menciona o Egito mais de 750 vezes, classificando-o como um país habitado por “homens pretos” ou “queimados do sol”, segundo a tradição semítica judaica e árabe.
Diop também investiga o vínculo linguístico entre a antiga Kemet e outras regiões da África, argumentando que as línguas negro-africanas contemporâneas e o egípcio antigo têm um ancestral linguístico comum, denominado por Obenga como “negro-egípcio”. Diop, cuja língua materna era o wolof, aprendeu o egípcio antigo durante seus estudos de egiptologia, permitindo-lhe constatar as semelhanças entre as duas línguas.
O Papiro de Edwin Smith revela como os antigos egípcios dominavam procedimentos semelhantes aos da medicina moderna. No entanto, a origem da medicina praticada atualmente não se limita ao Egito, como muitos podem pensar. A civilização egípcia, denominada Kemet por seus habitantes, sem dúvida, fez contribuições significativas para o desenvolvimento da medicina, mas é importante reconhecer que outras culturas antigas também tiveram papéis importantes nesse processo.
Há cerca de 7 mil anos, no vale do Rio Nilo, surgia uma das sociedades mais prósperas da História Antiga: o Egito. O rio Nilo, com seus 6.671 quilômetros de extensão, desempenhou um papel crucial no desenvolvimento dessa civilização, depositando materiais orgânicos em suas margens e fertilizando o solo. As inundações sazonais do Nilo, embora trazendo fertilidade para a região, também apresentavam desafios, que foram enfrentados pelos egípcios com engenhosidade e técnicas de engenharia hidráulica.
A construção de barragens e canais de irrigação foi fundamental para controlar as inundações e aumentar as áreas de cultivo. No entanto, é importante reconhecer que essas obras muitas vezes envolviam trabalho forçado e contribuíam para a desigualdade social na sociedade egípcia.
Quanto à medicina, embora os antigos egípcios tenham desenvolvido procedimentos e práticas notáveis, é preciso lembrar que outras culturas antigas, como as mesopotâmicas, gregas e chinesas, também fizeram importantes contribuições para o campo da saúde. A medicina moderna é o resultado de uma longa evolução histórica que envolveu a contribuição de diversas culturas ao longo dos milênios.
Portanto, enquanto reconhecemos as realizações dos antigos egípcios, é importante não limitar nossa compreensão da medicina e da engenharia hidráulica ao contexto egípcio e considerar o papel de outras culturas e civilizações no desenvolvimento dessas áreas.