Fanatismo religioso, arrebatamento e outras drogas sociais

Recentemente, a polêmica da ideia do arrendamento evangélico voltou a ser tema não somente nas redes sociais, mas também no BBB24. Outro episódio marcante foi quando, no Carnaval, a artista Baby do Brasil deixou a cantora Ivete Sangalo perplexa ao afirmar que um apocalipse ocorrerá em até 5 anos, levando muitos crentes. Mas qual a problemática disso tudo? Bom, vamos lá.

O fanatismo religioso evangélico no Brasil tem sido alimentado por ideias mirabolantes propagadas por líderes e figuras públicas que se autodenominam representantes de Deus. Essas ideias, muitas vezes distorcidas e sem base sólida, têm um potencial destrutivo enorme, afetando não apenas a vida espiritual das pessoas, mas também a sua saúde mental e o tecido social como um todo.

O problema não reside apenas na crença em um apocalipse iminente, mas na forma como essa crença é disseminada e utilizada para manipular e controlar as massas. Muitos líderes religiosos evangélicos exploram o medo e a incerteza das pessoas, prometendo salvação e proteção em troca de obediência cega e contribuições financeiras.

Essa mentalidade sectária e apocalíptica cria uma atmosfera de paranoia e intolerância, onde aqueles que questionam ou discordam são vistos como inimigos da fé. Isso não apenas mina o debate saudável e a liberdade de pensamento, mas também pode levar a atos extremos de violência e discriminação em nome da religião.

Além disso, o foco exagerado no “fim dos tempos” muitas vezes leva as pessoas a negligenciarem os problemas reais e urgentes que enfrentamos no presente, como a desigualdade social, a degradação ambiental e a falta de acesso a serviços básicos de saúde e educação.

É crucial que questionemos e critiquemos o fanatismo religioso evangélico no Brasil e em qualquer lugar do mundo, não como um ataque à fé em si, mas como uma defesa da racionalidade, da justiça social e da verdadeira liberdade espiritual. É hora de desafiar as narrativas simplistas e perigosas que são empurradas para nós e buscar uma compreensão mais ampla e inclusiva da espiritualidade e da religião.

“O mundo seria mais pacífico se todos fossem ateus.” Essa frase de José Saramago, muitas vezes citada em meio a debates sobre religião e sociedade, levanta uma questão importante sobre o impacto das crenças religiosas na paz e na estabilidade social. No Brasil, uma das crenças que continua a exercer influência significativa é a ideia do Inferno e do Diabo, que ainda atormenta muitos indivíduos e comunidades.

Apesar dos avanços na secularização e na diversidade de crenças, a concepção tradicional de Inferno e Diabo ainda exerce uma forte influência na cultura e na mentalidade brasileira. Essa ideia de um lugar de tormento eterno e um ser maligno que tenta e castiga os pecadores é profundamente enraizada na tradição cristã, especialmente no catolicismo e no protestantismo.

Para muitas pessoas, a ideia do Inferno e do Diabo funciona como um mecanismo de controle social, instilando medo e culpabilidade e servindo como uma ferramenta para garantir conformidade e obediência às normas religiosas e sociais. Esse medo do castigo eterno pode levar a um comportamento moralmente reprimido e a uma mentalidade de julgamento severo em relação aos outros.

Além disso, a persistência dessas crenças pode ter consequências negativas para a saúde mental das pessoas, gerando ansiedade, culpa e até mesmo trauma religioso. O constante temor do castigo divino pode impedir as pessoas de buscar ajuda profissional para problemas emocionais e psicológicos, levando a um ciclo de sofrimento silencioso e isolamento.

Em nível coletivo, a ideia do Inferno e do Diabo pode contribuir para a perpetuação de preconceitos e injustiças sociais, pois pode ser usada para justificar a exclusão e a marginalização de grupos considerados pecadores ou desviados. Isso cria divisões e conflitos dentro da sociedade, minando a coesão social e dificultando o progresso em direção a uma sociedade mais justa e inclusiva.

Portanto, enquanto a crença no Inferno e no Diabo continuar a atormentar a sociedade brasileira, é importante questionar e desafiar essas ideias, promovendo uma compreensão mais compassiva e empática da espiritualidade e da moralidade. A busca por uma fé que promova o amor, a aceitação e a reconciliação pode ser fundamental para construir um mundo verdadeiramente pacífico e harmonioso.

Dicas de filmes que discutem a temática da manipulação religiosa:

The Discovery” (2017): Dirigido por Charlie McDowell e disponível na Netflix, o filme se passa em um mundo onde a existência da vida após a morte é cientificamente comprovada, levando a uma onda de suicídios. Um cientista que fez essa descoberta controversa se encontra em um dilema moral e ético enquanto lida com questões sobre fé, ciência e o significado da existência.

Mr. Robot” é uma série de televisão que estreou em 2015 e rapidamente conquistou uma base de fãs dedicada devido à sua narrativa complexa, personagens multifacetados e temas provocativos. Criada por Sam Esmail, a série segue Elliot Alderson, um jovem programador que sofre de transtorno de ansiedade social e se envolve em atividades de hacking como forma de lidar com sua alienação e descontentamento com o mundo ao seu redor.

A série se destaca não apenas por sua trama intrigante e reviravoltas surpreendentes, mas também por sua exploração de temas sociais e políticos contemporâneos. “Mr. Robot” mergulha fundo nas questões de desigualdade econômica, corporativismo desenfreado e a natureza insidiosa do poder corporativo e governamental.

Um dos aspectos mais fascinantes de “Mr. Robot” é sua representação do mundo do hacking e da tecnologia. A série apresenta uma visão realista e detalhada da cultura hacker, mostrando tanto os aspectos técnicos quanto éticos envolvidos nesse mundo clandestino. Além disso, “Mr. Robot” questiona constantemente os limites da privacidade, segurança cibernética e vigilância governamental, oferecendo uma visão provocativa sobre o futuro da tecnologia e sua interação com a sociedade.

No entanto, o coração da série reside nos personagens complexos e suas jornadas emocionais. Elliot, interpretado magistralmente por Rami Malek, é um protagonista profundamente humano, lutando com seus próprios demônios internos enquanto tenta desvendar os mistérios ao seu redor. O relacionamento de Elliot com Mr. Robot, seu alter ego e mentor hacker, adiciona camadas adicionais de intriga e complexidade à narrativa.

Além de Elliot, “Mr. Robot” apresenta uma variedade de personagens cativantes, cada um com suas próprias motivações e agendas. Desde a misteriosa líder hacker Darlene até o enigmático CEO de uma megacorporação, cada personagem contribui para a rica tapeçaria da série e desafia as percepções convencionais de bem e mal.

Mr. Robot” é muito mais do que uma simples série sobre hacking e conspirações. É uma reflexão perspicaz sobre a alienação moderna, a luta pelo poder e a busca pela verdade em um mundo cada vez mais complexo e interconectado. Ao longo de suas quatro temporadas, “Mr. Robot” cativa, desafia e inspira seus espectadores, deixando uma marca indelével no cenário da televisão contemporânea.

“The Good Place” é uma série de comédia que estreou em 2016 e rapidamente conquistou o público com sua abordagem original, humor inteligente e temas filosóficos profundos. Criada por Michael Schur, a série segue a história de Eleanor Shellstrop, interpretada por Kristen Bell, uma mulher que acorda após sua morte e descobre que foi enviada para o “Good Place”, uma versão utópica do pós-vida onde apenas as pessoas mais virtuosas são admitidas.

No entanto, conforme Eleanor começa a se ajustar ao seu novo ambiente, ela percebe que houve um erro e que ela não merece estar no Good Place. Com a ajuda de seus amigos, incluindo Chidi, um filósofo moral interpretado por William Jackson Harper, ela tenta melhorar como pessoa e evitar ser descoberta.

Uma das características mais marcantes de “The Good Place” é sua exploração de questões éticas e filosóficas complexas de uma forma acessível e divertida. A série faz referências a diversas correntes filosóficas, como o utilitarismo, o existencialismo e a ética deontológica, enquanto apresenta dilemas morais e debates sobre o que significa ser uma pessoa boa.

Além disso, “The Good Place” também aborda questões existenciais mais amplas, como o propósito da vida, o significado da morte e a natureza do livre-arbítrio. A série desafia os espectadores a refletir sobre suas próprias crenças e valores, enquanto oferece insights perspicazes sobre a condição humana.

Outro aspecto destacado de “The Good Place” é seu elenco talentoso e a química entre os personagens principais. Desde os protagonistas carismáticos até os coadjuvantes hilários, cada personagem contribui para o humor e a profundidade emocional da série, criando uma experiência de visualização verdadeiramente cativante.
”The Good Place” é uma série que vai além das convenções tradicionais da comédia de televisão, oferecendo uma mistura única de humor inteligente, reflexão filosófica e emoção genuína. Com seu roteiro engenhoso, personagens memoráveis e mensagens inspiradoras, a série deixou uma marca duradoura no mundo da televisão e conquistou um lugar especial nos corações dos fãs.

Por fim, não se trata de temas religiosos em si, mas questões super relevantes:

True Detective” é uma série de televisão que estreou em 2014 e desde então tem sido aclamada pela crítica e pelos fãs por sua narrativa envolvente, performances de destaque e atmosfera sombria e intrigante. Criada por Nic Pizzolatto, a série é composta por temporadas independentes, cada uma apresentando uma história e elenco diferentes, mas mantendo um tema central de investigação de crimes complexos e perturbadores.

Uma das características mais distintivas de “True Detective” é a sua estrutura narrativa não linear e multitemporal, que permite explorar os eventos do passado e do presente de forma interconectada, revelando gradualmente os segredos e mistérios por trás dos casos investigados. A série é conhecida por suas reviravoltas surpreendentes e por manter o espectador intrigado e envolvido até o último momento.

Cada temporada de “True Detective” apresenta um novo par de detetives encarregados de resolver um caso complicado e muitas vezes macabro. Os protagonistas são frequentemente personagens complexos e atormentados, lutando não apenas com os desafios da investigação, mas também com seus próprios demônios internos e traumas do passado.

Além da trama central de investigação, “True Detective” também explora temas mais profundos e universais, como o bem e o mal, a corrupção, a redenção e a natureza da verdade. A série frequentemente mergulha em questões filosóficas e existenciais, oferecendo reflexões sobre a natureza da vida, da morte e do destino humano.

Outro aspecto destacado de “True Detective” é sua cinematografia impressionante e atmosfera visualmente imersiva. A série utiliza paisagens desoladas e cenários sombrios para criar uma sensação de melancolia e desespero, contribuindo para a atmosfera única e inquietante da série.
“True Detective” é muito mais do que uma simples série policial. É uma jornada emocionante e introspectiva que mergulha nas profundezas da psique humana, explorando os mistérios da mente humana e os segredos escondidos por trás da fachada da civilização. Ao longo de suas temporadas, a série desafia e fascina seus espectadores, deixando uma marca duradoura no cenário televisivo contemporâneo.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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