Ditadura Trump ataca: Khaby Lame, o maior T!kToker do mundo, é preso por visto vencido.

Khaby Lame, o maior TikToker do mundo, foi recentemente detido nos Estados Unidos por agentes da imigração (ICE) sob a alegação de permanência irregular no país. Mesmo sendo uma das figuras mais influentes da internet, com mais de 160 milhões de seguidores, Khaby não foi poupado do tratamento duro e simbólico promovido por um sistema que, sob o governo Trump, parece cada vez mais disposto a criminalizar a existência de corpos não-brancos em território americano.

Sua prisão foi rápida. Sua saída do país, “voluntária”, mas visivelmente forçada pelas circunstâncias. E enquanto muitos tentam minimizar o episódio como um simples caso de burocracia migratória, é impossível ignorar o cenário político que dá sustentação a esse tipo de ação: uma arquitetura autoritária travestida de lei, onde o racismo institucional ganha novas formas — mais discretas, mas não menos violentas.

Quando a lei serve para excluir

Nos Estados Unidos sob Donald Trump, a legalidade tornou-se uma linguagem de opressão. A letra da lei é usada seletivamente, moldada para servir uma política de medo, exclusão e controle. A detenção de Khaby Lame é mais um sintoma dessa engrenagem: uma política migratória que não busca justiça, mas sim exemplo. E quando se trata de pessoas pretas, especialmente aquelas que alcançaram destaque global, o “exemplo” se transforma em espetáculo.

Khaby foi tratado como um infrator, não por representar uma ameaça, mas por representar tudo o que o trumpismo não tolera: um homem africano, influente, livre, e com voz própria. Um símbolo de sucesso que não passou pela chancela dos centros de poder brancos. Para o regime silenciosamente autoritário que se instala, isso é imperdoável.

Trump e o uso do ICE como arma de propaganda

O ICE, a agência de imigração dos EUA, não é apenas um órgão de controle. Tornou-se, desde a primeira gestão de Trump, um braço ideológico do governo. Mais do que cumprir leis, atua para disciplinar corpos, espalhar medo e reforçar narrativas nacionalistas. Sob o segundo mandato de Trump, essa prática foi ainda mais aprofundada.

A prisão de Khaby Lame — por um suposto atraso no vencimento de visto — ganha uma dimensão simbólica perigosa. Afinal, se até mesmo a pessoa mais seguida do TikTok pode ser tratada como um criminoso por um detalhe burocrático, o que resta aos milhões de imigrantes anônimos que constroem a base social e econômica do país?

O silêncio da mídia e a anestesia coletiva

Um dos aspectos mais inquietantes desse episódio é a frieza com que foi tratado por grande parte da mídia tradicional. Manchetes mornas, cobertura superficial e ausência quase total de indignação. Não houve escândalo. Não houve pressão pública. Apenas notas técnicas, como se a prisão de Khaby fosse um mero desdobramento administrativo.

Essa normalização é perigosa. Quando a violência se apresenta como “rotina legal”, o senso crítico da população adormece. E é justamente nesse vácuo que regimes autoritários prosperam: enquanto todos acham que está tudo dentro da lei, as garantias democráticas vão sendo corroídas por dentro, lentamente.

Uma democracia que falha em proteger

O caso Khaby Lame deixa claro que a democracia americana está falhando em sua missão mais básica: proteger as liberdades civis, especialmente de quem não se encaixa no molde branco, cristão e “patriótico” que Trump deseja impor como padrão nacional.

Quando um artista africano, europeu, multimilionário e amplamente conhecido é tratado como uma ameaça simplesmente por ter ficado alguns dias a mais no país, não se trata apenas de imigração. Trata-se de uma política de exclusão racializada. Trata-se da tentativa de apagar, expulsar e marginalizar tudo aquilo que foge à ideia de pureza nacional.

Trump não precisa declarar ditadura. Ele a executa.

O governo Trump não precisa rasgar a Constituição em rede nacional para ser autoritário. Basta manipular as leis existentes, controlar o discurso público e agir com seletividade ideológica. A perseguição a imigrantes, ativistas, jornalistas e influenciadores “fora do padrão” já está em curso — silenciosa, calculada e legitimada por uma base política sedenta por revanche.

Khaby foi mais uma vítima desse projeto. Sua visibilidade foi usada contra ele. Seu sucesso, sua origem africana, sua leveza cômica — tudo isso foi reinterpretado por uma máquina de repressão que não tolera vozes pretas que escapam ao controle. Ele foi detido, expulso e transformado em recado: “ninguém está acima do nosso poder”.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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