Os Dogon, povo ancestral que habita as regiões do Mali e do Burkina Faso, emergem como guardiões de um conhecimento milenar que desafia os limites do tempo e da compreensão humana. Ao longo dos séculos, os Dogon acumularam um profundo entendimento sobre astrologia e astronomia, revelando uma sabedoria que muito mais tarde seria corroborada pela ciência moderna.
A perplexidade dos cientistas e pesquisadores diante desse fenômeno é compreensível. Como um povo oriundo de eras tão distantes, desprovido das tecnologias e metodologias de pesquisa da ciência contemporânea, foi capaz de alcançar um domínio tão avançado em um tema tão complexo? Essa interrogação ecoa pelos corredores das instituições acadêmicas, ecoando o fascínio e a admiração diante do conhecimento dos Dogon.
Para os Dogon, a observação meticulosa do céu noturno não era apenas uma prática científica, mas uma parte intrínseca de sua cultura e espiritualidade. Por meio de séculos de observação atenta, eles desenvolveram um sistema de conhecimento que integrava aspectos cosmológicos, religiosos e práticos de suas vidas.
Os Dogon tinham uma compreensão precisa da órbita da estrela Sirius, a estrela mais brilhante do céu noturno, e de suas propriedades binárias. Surpreendentemente, eles também tinham conhecimento sobre a existência de uma terceira estrela em órbita ao redor de Sirius, algo que só foi confirmado pela ciência moderna no século XX.
Essa habilidade de observação e interpretação cósmica dos Dogon desafia noções preconcebidas sobre o progresso humano e o desenvolvimento do conhecimento. Eles nos lembram da riqueza e profundidade do saber ancestral, que muitas vezes transcende as fronteiras do tempo e da tecnologia.
À medida que exploramos os mistérios do universo, os Dogon nos convidam a olhar para trás, para aqueles que vieram antes de nós, e a reconhecer a sabedoria que eles deixaram como legado. Eles nos lembram que, embora a ciência possa nos proporcionar um entendimento mais profundo do cosmos, há conhecimentos que só podem ser alcançados através da observação paciente, da conexão espiritual e do respeito pelas tradições ancestrais.
Em 1976, Robert Temple imortalizou o fascinante legado dos Dogon em sua obra “O Mistério Sirius”. Neste livro, Temple revela a profunda compreensão cósmica deste povo ancestral, que antecipou descobertas astronômicas modernas com uma precisão surpreendente.
Os Dogon não apenas reconheciam a estrela Sirius como parte de um sistema binário, incluindo a misteriosa estrela anã branca Sirius B, invisível ao olho humano, mas também realizavam uma celebração a cada 50 anos em honra a essa estrela. Esta órbita de 50 anos de Sirius B só foi confirmada pela ciência em 1844, através de cálculos matemáticos realizados por Friedrich Bessel. Como, então, os Dogon possuíam esse conhecimento prévio?
A resposta a esse enigma reside na complexa figura espiritual central da religião Dogon: o Nommo, também conhecido como a “Serpente”. Descrito como tendo a capacidade de metamorfosear-se em todas as cores do arco-íris, o Nommo é frequentemente associado aos “espíritos da água”. Segundo a tradição Dogon, os Nommos seriam visitantes extraterrestres vindos de Sirius, que compartilharam com a tribo seu vasto conhecimento astronômico.
Essa conexão cósmica entre os Dogon e Sirius levanta questões profundas sobre a natureza do conhecimento humano e sua possível origem extraterrestre. Robert Temple, em seu livro, lança o desafio: de onde teria vindo todo o conhecimento astronômico da tribo Dogon? Essa indagação continua a inspirar a busca por respostas sobre as origens e os mistérios do universo, elevando os Dogon à posição de guardiões de uma sabedoria ancestral que transcende os limites do tempo e do espaço.
Nós carregamos este mundo nas costas! Não é possível pensar na história da medicina, geometria, filosofia, matemática, biologia; isto é, não é possível entender a humanidade sem estudar a história da África. Antes do colonizador inventar essa “historinha” de “só Jesus Salva”, a África já abundava em sabedoria. Antes mesmo do nascimento de Platão, o primeiro filósofo e escritor Vizir PtahHotep da V Dinastia do Antigo Egito já tinha escrito suas poderosas máximas com uma filosofia moral contendo conselhos atemporais.
Quando falamos que somos descendentes de reis e rainhas, não estamos romantizando nossa história ou tentando massagear nosso ego. De fato, somos. A forçada e sangrante diáspora africana que perdura até os dias atuais trabalhou por séculos para que nossa história fosse totalmente apagada. No entanto, é crucial reconhecer e celebrar a riqueza intelectual e cultural que a África legou ao mundo, sendo berço de civilizações antigas e de pensadores que moldaram disciplinas fundamentais.
Os antigos egípcios, em particular, representam um bastião de conhecimento e sabedoria que ressoa através dos tempos. Suas contribuições para a medicina, a arquitetura, a astronomia e a filosofia deixaram um legado duradouro que ainda influencia o pensamento humano até hoje. A construção das majestosas pirâmides, o desenvolvimento de sistemas de escrita e o cultivo de uma complexa cosmologia são apenas alguns exemplos do vasto conhecimento que os egípcios antigos possuíam.
Em muitos aspectos, há uma correlação notável entre a sabedoria dos egípcios e a dos Dogon, um povo ancestral que habita as regiões do Mali e do Burkina Faso. Assim como os egípcios, os Dogon acumularam ao longo dos séculos um profundo conhecimento sobre astrologia e astronomia, revelando uma sabedoria que surpreende e intriga os cientistas modernos. Essa conexão entre as duas civilizações africana ressalta a importância e a profundidade do conhecimento que a África legou ao mundo.
Tendo dito isso, é fundamental lembrar de um movimento de importância vital para todos nós negros: o Pan-Africanismo.
O Pan-Africanismo vai além de ser apenas um movimento político para combater o racismo. Ele representa uma chamada profunda para reconectar-se às raízes culturais, intelectuais e históricas da África. Este movimento transcende fronteiras geográficas e ideológicas, buscando não apenas a igualdade racial, mas também o resgate e a celebração da rica herança africana.
Ao abraçar o Pan-Africanismo, os povos negros se unem como membros de uma única família: a família África. Essa união fortalece a identidade e a autoestima das comunidades negras em todo o mundo, promovendo uma sensação de pertencimento e solidariedade. Além disso, o Pan-Africanismo serve como um catalisador para a colaboração e cooperação entre as nações africanas e as diásporas, impulsionando o desenvolvimento econômico, social e cultural de todo o continente.
Ao reconhecer e valorizar a contribuição significativa que a África deu à humanidade em diversas áreas, o Pan-Africanismo inspira um novo sentido de orgulho e respeito por suas raízes ancestrais. É um chamado para celebrar a diversidade e a riqueza da experiência africana, enquanto se trabalha coletivamente para superar os desafios e construir um futuro de igualdade, justiça e prosperidade para todos os povos africanos e afrodescendentes.
Se você chegou até aqui, parabéns! Você faz parte de um grupo seleto neste país que ainda valoriza a leitura. Não estou exagerando! Parabéns!
Wanderson Dutch.