Como enfrentar os nossos monstros Internos e Gavetas Enferrujadas

Os monstros internos não são criaturas fantásticas de contos de fadas, mas sim os medos, as inseguranças e as sombras que habitam nossas mentes. São os vestígios de traumas passados, as dúvidas que cultivamos sobre nós mesmos, as culpas que carregamos em silêncio. Eles se alimentam de nossas fraquezas, crescendo nas profundezas do nosso ser, até que se tornem tão grandes que pareçam intransponíveis.

As gavetas enferrujadas, por sua vez, são os compartimentos da alma onde escondemos as memórias dolorosas, os arrependimentos e os sonhos abandonados. Essas gavetas foram fechadas há muito tempo, e o metal que as lacra foi corroído pela passagem do tempo e pelo peso do esquecimento. No entanto, esses segredos guardados não desapareceram. Eles permanecem ali, como cartas nunca enviadas ou promessas nunca cumpridas, esperando pelo momento em que finalmente tenhamos coragem de enfrentá-los.

A chave para lidar com esses monstros e abrir essas gavetas está na coragem de nos olharmos no espelho, não com os olhos da crítica, mas com os olhos da compaixão. Enfrentar nossos monstros internos não é sobre lutar contra eles, mas sim sobre reconhecê-los e compreendê-los. Eles não são nossos inimigos, mas reflexos de nossas experiências e emoções não resolvidas. Ao olharmos para eles com clareza, podemos começar a desarmá-los, pouco a pouco, desvendando as camadas de dor que os envolvem.

Sozinho

As gavetas enferrujadas, por outro lado, exigem um toque delicado. Abrir uma gaveta que não é aberta há anos requer paciência e cuidado. O processo de destrancar essas memórias e confrontar os sentimentos que elas evocam pode ser doloroso, mas também é libertador. Cada gaveta aberta é uma chance de reconciliação com o passado, uma oportunidade de libertar-se do peso que carregamos por tanto tempo.

Há uma beleza intrínseca na vulnerabilidade que surge quando enfrentamos esses aspectos ocultos de nós mesmos. Nessa jornada, descobrimos que a verdadeira força não está em evitar a dor, mas em abraçá-la e transformá-la. Quando enfrentamos nossos monstros e abrimos nossas gavetas, não estamos apenas curando feridas antigas, mas também criando espaço para o novo. O processo é árduo, mas cada passo dado é uma vitória sobre as limitações que nos impusemos.

Há um provérbio africano muito famoso que diz o seguinte: “Quando não há inimigos internos, não há inimigos externos.” Esse provérbio me faz lembrar do pensamento maravilhoso: “E disse o divino: ‘Ame a seu inimigo!’ E eu obedeci e amei a mim mesmo.” Khalil Gibran captura, com essa frase, a essência do conflito humano: a batalha interna que muitas vezes travamos contra nós mesmos.

Somos, muitas vezes, nossos piores inimigos. Carregamos dentro de nós uma crítica implacável, que amplifica nossos defeitos, minimiza nossas qualidades e nos faz duvidar de nossas capacidades. Essa voz interna, quando alimentada por inseguranças e medos, se torna o maior obstáculo para nosso crescimento. Ela nos paralisa, nos faz evitar desafios e nos prende a padrões destrutivos de pensamento.

No entanto, essa mesma força que pode nos destruir também possui o poder de nos salvar. A solução para essa batalha interna reside na aceitação e no amor-próprio. Quando começamos a nos tratar com compaixão, reconhecendo nossas falhas, mas também celebrando nossas virtudes, começamos a transformar esse inimigo interno em um aliado poderoso. A chave está em perceber que não precisamos ser perfeitos, apenas genuínos em nossa busca por sermos a melhor versão de nós mesmos.

A transformação começa quando nos responsabilizamos por nossas escolhas e atitudes. É fácil culpar fatores externos por nossas dificuldades, mas o verdadeiro poder está em reconhecer que somos os arquitetos de nosso destino. Quando nos tornamos conscientes de nossa responsabilidade sobre nossa própria vida, adquirimos o poder de mudar o que não nos serve, de romper com hábitos nocivos e de nos moldar conforme nossos ideais mais elevados.

Esse processo de autotransformação não é simples, mas é profundamente libertador. Requer coragem para enfrentar nossos demônios internos e determinação para substituí-los por pensamentos e comportamentos que promovam nosso bem-estar. E, acima de tudo, requer amor—o tipo de amor que nos permite ver a nós mesmos com ternura, entender nossos limites e celebrar nossas conquistas.

Portanto, o maior desafio que enfrentamos na vida não está fora de nós, mas dentro. Somos ao mesmo tempo o problema e a solução. Quando reconhecemos essa dualidade e escolhemos agir de acordo com nosso potencial mais elevado, abrimos a porta para uma vida de maior harmonia e realização.

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Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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