África para Colorir: campanha de valorização da memória e da infância

Na última semana de setembro, um vento novo começou a soprar. Foi quando iniciamos a campanha do livro África para Colorir – Volume 1: Rainhas e Princesas Africanas. À primeira vista, pode parecer apenas um material lúdico, um livro para que crianças pintem desenhos. Mas, na verdade, o projeto nasce carregado de urgência histórica: resgatar memórias apagadas, oferecer referências positivas e transformar a forma como as novas gerações olham para si mesmas e para o mundo.

No coração de Capão Redondo, entre o fim de outubro e o início de novembro, vamos realizar um evento histórico: o lançamento do África para Colorir – Rainhas e Princesas Africanas, em celebração ao Mês da Consciência Negra. Mais do que um lançamento de livro, será um gesto coletivo de resgate e afirmação, com a distribuição gratuita de cerca de 200 exemplares para crianças, acompanhados de um kit especial. O palco dessa ação será a Associação de Moradores Expansão Cultural, espaço que há anos fortalece a comunidade e que agora se transforma em berço de novas memórias e referências positivas.

O projeto nasce do desejo de oferecer mais do que um material lúdico: ele entrega às crianças um contato direto com a história de rainhas, princesas e lideranças africanas que marcaram a humanidade. Cada página colorida é também um ato de reconexão com a ancestralidade, de fortalecimento da autoestima e de combate ao apagamento histórico. E este é apenas o início — a proposta é expandir o projeto para várias comunidades carentes, multiplicando sementes de identidade, orgulho e consciência.

Para que esse sonho coletivo se torne realidade, lançamos uma campanha de arrecadação. Cada contribuição, por mais simbólica que pareça, soma força e faz diferença. É a união de muitos pequenos gestos que ergue grandes realizações. Estamos construindo juntos um marco cultural, social e histórico, que poderá inspirar crianças e famílias inteiras a ressignificarem sua própria história.

A execução deste evento exige estrutura. O custo estimado é de cerca de R$ 15.000, valor que cobre desde a impressão dos livros até serviços essenciais, como fotografia, alimentação das crianças no dia e outros gastos adicionais. Esse investimento não é gasto: é semeadura. É o plantio de memórias que florescerão em gerações futuras. Apoiar essa campanha é ser parte da transformação, é escrever junto conosco um novo capítulo de abundância, dignidade e esperança.

No Brasil, onde ainda convivemos com os escombros da escravidão e com a ausência de representatividade nos espaços de poder e também no material didático, a infância negra continua crescendo muitas vezes sem ver sua imagem associada à beleza, à realeza ou à sabedoria. Esse vácuo simbólico deixa marcas profundas. Crescer sem referências que dignifiquem pode ser tão violento quanto qualquer outra forma de exclusão. É contra esse vazio que o projeto África para Colorir se posiciona.

O poder das primeiras referências

As crianças aprendem por meio de símbolos. Um simples desenho pode ser a centelha que acende um mundo inteiro de possibilidades na mente de alguém. Se oferecemos apenas princesas europeias como Cinderela, Branca de Neve ou Rapunzel, ensinamos que a beleza, a graça e a realeza têm cor, traços e origem geográfica bem delimitadas. Mas, quando colocamos diante das crianças figuras como a Rainha Nzinga de Angola, estrategista que desafiou os portugueses no século XVII; ou Makeda, a Rainha de Sabá, símbolo de inteligência e poder espiritual; ou ainda Amina de Zazzau, guerreira que comandava exércitos no território hoje chamado Nigéria — abrimos uma nova porta no imaginário.

Essas não são personagens de contos de fadas, mas mulheres que existiram, governaram, lutaram e inspiraram seus povos. Elas provam que a África não é apenas “berço da humanidade”, mas também território de impérios, de civilizações sofisticadas, de lideranças femininas que moldaram a história global. Quando uma criança pinta o rosto de Yaa Asantewaa, que liderou o levante contra os britânicos em Gana, ela não está apenas preenchendo um espaço com cores. Está entrando em contato com uma herança de coragem e resistência.

Volume 1: princesas, rainhas e lideranças

O primeiro volume de África para Colorir reúne cinquenta figuras históricas femininas que atravessaram séculos. Cada ilustração é um convite não apenas ao ato de colorir, mas à descoberta. Colorir passa a ser também um gesto político, um exercício de memória. O projeto busca chegar a escolas, bibliotecas comunitárias e também às mãos de crianças que dificilmente teriam acesso a esse tipo de material. É aí que a campanha se torna mais do que editorial: torna-se social.

Em um país onde a desigualdade ainda define o acesso a livros e cultura, levar exemplares gratuitamente a quem não teria condições de comprar é também quebrar um ciclo de exclusão. É afirmar que cada criança merece sonhar grande, e sonhar a partir de referências que reflitam sua história e ancestralidade.

Volume 2: reis, magos e imperadores

Mas o projeto não para por aí. Já está em andamento o Volume 2, previsto para ser lançado em novembro, mês da Consciência Negra. Dessa vez, o foco será em Reis, Magos e Imperadores Africanos. Figuras masculinas que igualmente marcaram a história do continente.

Nomes como Mansa Musa, imperador do Mali, lembrado como o homem mais rico da história — não pela ostentação, mas pela capacidade de gerir e redistribuir riquezas. Ou Sundiata Keita, fundador do Império Mali e símbolo de liderança visionária. Ou ainda Tenkamenin, rei de Gana conhecido pela justiça com que governava. Ao trazer esses nomes, o segundo volume amplia o leque de referências, reforçando que a África foi palco de civilizações avançadas e de lideranças respeitadas mundialmente muito antes da colonização europeia.

A previsão de lançamento em novembro não é por acaso. O mês da Consciência Negra é um tempo de reflexão, mas também de afirmação. Trazer à tona essas figuras justamente nesse período é também uma forma de dialogar com o calendário simbólico do Brasil, ressignificando-o.

Educação, memória e futuro

África para Colorir não é um livro de história. Mas é uma porta de entrada. A criança que colore Nzinga hoje pode se interessar amanhã em ler mais sobre Angola. Quem descobre Mansa Musa no papel pode crescer curioso sobre a trajetória dos impérios africanos. Educação não se faz apenas em sala de aula, mas em cada estímulo que oferecemos à mente em formação.

Essa é a convicção que sustenta a campanha: oferecer material de qualidade, que desperte orgulho, que fortaleça a autoestima e que, acima de tudo, insira as crianças numa narrativa em que elas não são coadjuvantes, mas protagonistas.

Um convite coletivo

O projeto só existe porque é coletivo. A campanha iniciada em setembro está aberta à participação de quem acredita na transformação pela memória e pela educação. Cada contribuição é um gesto para que mais exemplares cheguem às mãos de quem precisa. Afinal, colorir é também um modo de imaginar futuros possíveis.

Mais do que lançar um livro, buscamos lançar sementes. Sementes de dignidade, de pertencimento, de imaginação. Porque toda revolução começa na mente de uma criança que se permite sonhar.

Já posso comprar o meu exemplar?

O livro África para Colorir – Rainhas e Princesas Africanas já está sendo lançado pela Amazon e pode ser encontrado facilmente no site oficial da plataforma. Basta CLICAR AQUI ou digitar no campo de pesquisa: África para Colorir Rainhas e Princesas Africanas. Lá você encontrará este título, assim como outro projeto que publiquei na mesma editora: África: o que a mídia e a escola esconderam de você, voltado ao público adulto e igualmente comprometido com a valorização da memória histórica africana.

No entanto, neste momento, meu foco principal não é a venda individual pela Amazon. O que mobiliza esta campanha é a arrecadação para a realização do evento de lançamento em outubro, mês das crianças, em que levaremos exemplares para crianças que não teriam condições de adquirir o livro. Esse é o coração do projeto: garantir que a memória e o imaginário de realeza, força e sabedoria africana estejam acessíveis a todas as crianças, sobretudo aquelas das periferias e comunidades que mais precisam dessas referências.

Por isso, caso você queira contribuir de forma direta e fazer parte dessa transformação, o caminho é simples: clique aqui para acessar o Apoia-se da campanha e ajude a tornar este evento realidade. Cada contribuição amplia o alcance da iniciativa e permite que mais crianças tenham contato com histórias que empoderam, fortalecem e ressignificam a visão de mundo.


Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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