A ilusão do amor romântico- ser feliz com alguém é uma questão de escolha,não de necessidade.

Larissa Manoela se casa com André Luiz Frambach: ‘Estamos simplesmente destinados a ser’. A notícia do casamento dos atores rapidamente se espalhou, alimentando a ideia do conto de fadas moderno. A cobertura midiática exaltou o romance, reforçando a noção de que encontrar a felicidade plena só é possível ao lado de outra pessoa. No entanto, a realidade é mais complexa do que o cenário pintado por essa ilusão do amor romântico.

A romantização incessante das relações amorosas cria uma pressão sobre as pessoas, sugerindo que a verdadeira felicidade está condicionada à descoberta de um parceiro. Isso não apenas perpetua expectativas irreais, mas também desconsidera a autonomia individual na busca pela satisfação pessoal. A ideia de que a completude emocional só é alcançada por meio de um relacionamento muitas vezes obscurece a noção de que a felicidade pode ser encontrada de diversas formas, não apenas ao lado de outra pessoa.

A sociedade nos bombardeia com narrativas que romantizam a dependência emocional, alimentando a crença de que a realização pessoal está intrinsecamente ligada a encontrar um parceiro ideal. No entanto, essa visão limitada desconsidera a possibilidade de felicidade proveniente do autodesenvolvimento, das amizades, das realizações individuais e de uma variedade de experiências enriquecedoras que vão além do romantismo.

Ser feliz com alguém pode ser uma escolha genuína, mas a noção de que essa felicidade é uma necessidade ou uma obrigação é uma ilusão prejudicial. A liberdade de escolher ser feliz sozinho ou em um relacionamento, sem a pressão externa do ideal romântico, é crucial para uma busca genuína pela realização pessoal e emocional. É hora de questionar e desafiar essa ilusão do amor romântico que muitas vezes limita a compreensão da verdadeira felicidade.

Quem disse que a felicidade só é alcançada estando casado?

Ao longo da história, a idealização do amor romântico e a crença na necessidade de um relacionamento para atingir a felicidade plena têm raízes profundas em diferentes esferas sociais. Instituições, como a igreja, e movimentos culturais desempenharam papéis cruciais na formação e perpetuação desse ideal.

Através dos séculos, o casamento foi promovido como uma instituição sagrada, estabelecida pela igreja, fortalecendo a ideia de que a união entre duas pessoas era abençoada e transcendia os aspectos terrenos da vida. O discurso religioso reforçou a narrativa do “felizes para sempre”, criando expectativas irreais sobre a vida conjugal.

Além disso, movimentos culturais, especialmente durante o Romantismo, no século XIX, deram um impulso significativo à idealização do amor romântico. Obras literárias, peças teatrais e posteriormente o cinema reforçaram a imagem do amor como a busca pela alma gêmea, o encontro mágico e a realização máxima na vida de alguém.

A mídia, ao longo do tempo, contribuiu significativamente para a perpetuação dessas ideias. Filmes, programas de TV, músicas e literatura continuaram a retratar o amor como algo grandioso, capaz de curar todas as feridas e trazer a felicidade suprema.

No entanto, por trás desse ideal romântico há complexidades muitas vezes ignoradas. O peso das expectativas criadas por essa narrativa pode ser avassalador. Ela desconsidera as realidades individuais, a diversidade de perspectivas e a possibilidade legítima de encontrar satisfação pessoal fora dos padrões estabelecidos.

Além disso, essa idealização muitas vezes ignora a dinâmica dos relacionamentos humanos, onde conflitos, desafios e a necessidade de desenvolvimento pessoal e autonomia são frequentemente deixados de lado em prol do mito do “felizes para sempre”.

Desfazer essa narrativa requer uma revisão crítica de como o amor e o casamento são percebidos e propagados na sociedade. A aceitação de diferentes formas de felicidade, a valorização da individualidade e a compreensão da complexidade dos relacionamentos são passos fundamentais para desvincular a ideia de que a plenitude só é alcançada através do amor romântico.

Pessoas pobres geralmente não se casam apenas por amor, mas por uma questão de sobrevivência dentro de um sistema capitalista mesmo. 

A dinâmica do casamento entre pessoas de classes sociais menos favorecidas é muitas vezes moldada por condições impostas pelo sistema econômico predominante. Em um sistema capitalista, a luta pela sobrevivência é uma realidade enfrentada pela maioria, e o casamento pode ser encarado como um mecanismo de enfrentamento dessas adversidades.

Para muitos indivíduos economicamente desfavorecidos, a estabilidade financeira é uma preocupação constante. A ideia do casamento não necessariamente como resultado de um amor romântico, mas como uma parceria estratégica para lidar com despesas, dividir encargos financeiros e garantir uma base econômica mais sólida, é comum.

Nesse contexto, o casamento pode ser percebido como uma espécie de rede de segurança, uma forma de mitigar os desafios financeiros enfrentados individualmente. A falta de oportunidades iguais de crescimento econômico, acesso limitado a recursos e a necessidade de enfrentar despesas cotidianas podem pressionar as pessoas a priorizarem a estabilidade financeira sobre a busca por um relacionamento baseado puramente no afeto.

Essa realidade reflete não apenas a luta diária pela sobrevivência dentro do sistema, mas também evidencia as desigualdades sistêmicas que limitam as escolhas individuais. A pressão financeira pode, de certa forma, dominar a capacidade de tomar decisões baseadas exclusivamente em emoções e afetos.

Enfim, é importante compreender que essa dinâmica não é uma escolha deliberada, mas sim uma resposta a um sistema que muitas vezes torna a estabilidade financeira uma prioridade absoluta. Desafiar as desigualdades estruturais e criar oportunidades mais equitativas é essencial para permitir que todos tenham a liberdade de escolher suas relações com base em afeto genuíno, em vez de necessidades financeiras urgentes.

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Por: Wanderson Dutch.

 

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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