O Esquecido Massacre de Zong: Quando 132 africanos escravizados foram jogados vivos ao mar

É espantoso como a história humana é permeada por atos de crueldade e injustiça que, com o tempo, são convenientemente esquecidos. Um desses horrores que a história gostaria de apagar é o Massacre de Zong, um capítulo sombrio da escravidão que envolveu o assassinato brutal de 132 escravizados, que foram lançados vivos ao mar como se fossem lixo. Essa atrocidade é uma mancha indelével na história da humanidade e na consciência daqueles que participaram e perpetuaram esse crime hediondo.

O Massacre de Zong ocorreu em 1781, a bordo do navio britânico Zong, que transportava escravizados africanos para serem vendidos nas plantações de açúcar nas Américas. A ganância dos comerciantes e a total desconsideração pela vida humana foram evidentes quando os suprimentos de água do navio começaram a escassear. Em vez de retornar à costa ou reduzir as porções de água para a tripulação e os escravizados, a decisão cruel foi tomar um atalho para aumentar o lucro.

O capitão do Zong, Luke Collingwood, e seus patrões fizeram um cálculo macabro. Eles decidiram que, se lançassem escravizados ao mar, poderiam alegar que os escravizados foram sacrificados para economizar água, e assim poderiam reivindicar uma indenização de seguro pelos “danos” à carga. Portanto, 132 seres humanos foram selecionados, acorrentados, amarrados e jogados ao oceano como se fossem nada mais do que mercadorias descartáveis.

A indiferença à vida humana que permeou essa decisão é uma representação chocante do mal que a escravidão causou à moralidade e à humanidade daqueles envolvidos. Essas vidas foram roubadas, não apenas pelo sofrimento insuportável da escravidão, mas pela crueldade deliberada de seus captores. O Massacre de Zong deveria ser lembrado não apenas como um exemplo da brutalidade da escravidão, mas também como um lembrete de como o dinheiro e o lucro podem corromper até mesmo as mentes mais aparentemente civilizadas.

Infelizmente, o Massacre de Zong permanece em grande parte esquecido nos anais da história. Muitas vezes, o foco é colocado em outros eventos históricos, enquanto esse ato desumano é relegado a uma nota de rodapé. No entanto, não podemos nos dar ao luxo de esquecer as vidas perdidas no Zong, nem as vidas perdidas em todos os navios negreiros que cruzaram os oceanos transportando vidas negras para uma existência de miséria e sofrimento.

É nosso dever lembrar o Massacre de Zong e outros horrores da escravidão não apenas como uma forma de honrar aqueles que sofreram, mas como um lembrete de que a crueldade e a ganância podem prosperar quando a humanidade se volta cega para o sofrimento alheio. Essas histórias dolorosas devem ser contadas e recontadas, para que nunca esqueçamos a capacidade da humanidade de cometer atos monstruosos e para que possamos nos esforçar para construir um mundo mais justo e compassivo.

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Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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