A Era da Burrice: O Culto à Estupidez

Discussões inúteis, intermináveis, agressivas. Gente defendendo as maiores asneiras, e se orgulhando disso. Pessoas perseguindo e ameaçando as outras, como se a intolerância fosse o único idioma que conhecem. Um tsunami infinito de informações falsas, inundando nossas mentes e afogando a verdade. Reuniões, projetos, esforços que se dissipam como fumaça, deixando um rastro de frustração e ineficácia. Decisões erradas sendo tomadas com a convicção de que são certas, como se a sensatez tivesse se tornado um mito distante. Líderes políticos imbecis, cujas ações ecoam a voz da ignorância e do egoísmo. De uns tempos para cá, parece que o mundo se lançou de cabeça em um abismo de estupidez.

Você já teve essa sensação? Uma angústia crescente diante da aparente insanidade que se desenrola à nossa volta? Talvez não seja somente uma sensação, mas uma dura realidade que estamos sendo forçados a encarar. Estudos meticulosos, realizados com dezenas de milhares de pessoas em vários países, lançam luz sobre algo tão inédito quanto assustador: a inteligência humana, uma vez celebrada como uma joia rara da evolução, parece estar em declínio.

O cenário é desolador. Em uma era em que a informação é abundantemente acessível, somos sufocados por um vácuo de sabedoria. O espaço que deveria ser reservado para debates racionais e trocas de conhecimento foi invadido por uma horda de vozes que enaltecem o absurdo e a irracionalidade. A capacidade de discernir entre o fato e a ficção se desvanece, enquanto teorias conspiratórias se entrelaçam com a realidade de maneira alarmante.

O panorama político não é menos perturbador. Decisões vitais são tomadas com base em impulsos momentâneos, sem consideração pelas consequências de longo prazo. Líderes que deveriam servir como faróis de racionalidade parecem estar mais interessados em aplausos imediatos do que na construção de um futuro sólido. Aqueles que almejam o poder muitas vezes se baseiam em discursos vazios que apelam às emoções mais baixas, em vez de propor soluções fundamentadas.

A pergunta inevitável é: como chegamos a esse ponto? O que levou a essa decadência intelectual? Será que estamos condenados a sermos espectadores de nosso próprio declínio? O quadro pode parecer sombrio, mas a resistência não deve ser subestimada. O despertar para essa crise é o primeiro passo para combatê-la. Devemos reivindicar a razão e a lógica como nossas armas contra a ignorância crescente. A educação, o pensamento crítico e a busca pela verdade devem ser nossos guias nesse labirinto de obscuridade.

Enquanto as sombras da estupidez ameaçam engolfar a humanidade, é nosso dever desafiar esse destino. Olhar para além do superficial, questionar as narrativas convenientes e elevar o discurso público são tarefas cruciais em tempos tão críticos. Que possamos reacender o brilho da inteligência humana, dissipando as trevas da ignorância que ameaçam nos consumir. Tudo um grande horror

O culto à burrice e a intolerância aos intolerantes:

No cenário contemporâneo, a era da burrice parece ter se estabelecido, e o culto à estupidez se ergue como uma força preocupante que ameaça corroer os alicerces do conhecimento e da racionalidade. Este declínio intelectual, em vez de ser uma simples anomalia, é resultado da confluência de vários fatores que têm pavimentado o caminho para a glorificação da ignorância. Assim como apontado por Isaac Asimov, o anti-intelectualismo tem encontrado espaço fértil na nossa vida política e cultural, alimentado por uma compreensão distorcida da democracia.

Em primeiro lugar, a disseminação das redes sociais e das plataformas digitais tem dado voz a todos, independentemente da validade ou veracidade do que dizem. A instantaneidade desses meios muitas vezes favorece o sensacionalismo em detrimento da análise criteriosa. A viralização de informações falsas, criadas para atrair cliques e compartilhamentos, contribui para a proliferação da estupidez, afastando-nos cada vez mais do terreno firme da realidade.

Além disso, a polarização política e a fragmentação das bolhas de informação agravam o problema. A ideia de que “minha opinião é tão válida quanto o seu conhecimento” encontra terreno fértil nessas divisões. A rejeição do pensamento crítico em favor de visões unilaterais gera um ambiente onde a ignorância é não apenas tolerada, mas também celebrada.

O anti-intelectualismo também é impulsionado pela desconfiança nas instituições educacionais e científicas. Em uma época em que as teorias da conspiração ganham espaço e os especialistas são frequentemente desacreditados, o conhecimento embasado em pesquisa é colocado sob suspeita. A ideia de que “todos sabemos o suficiente” mina a autoridade das vozes instruídas, abrindo espaço para o vazio da estupidez.

Isaac Asimov destacou a falsa noção de que a democracia nivelaria o campo entre a ignorância e o conhecimento. Essa interpretação distorcida da democracia contribui para a formação de uma cultura onde o culto à burrice é exaltado. A crença de que a opinião individual vale tanto quanto uma base sólida de conhecimento perpetua o ciclo de desinformação e embota a capacidade de distinguir entre a sabedoria e a tolice.

Em um mundo onde a busca pelo conhecimento e a celebração da inteligência deveriam ser prioridades, o culto à burrice e estupidez é uma ameaça grave que merece ser enfrentada. O desafio é combater os fatores que alimentam essa tendência, promovendo a educação, o pensamento crítico e a valorização do conhecimento embasado. Somente através dessas ações poderemos esperar reverter a maré da ignorância que nos rodeia e revitalizar a importância da razão e da lucidez.

Wanderson Dutch.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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