2026 se anuncia como um ano de tensão concentrada. Não apenas pelo calendário eleitoral, mas porque o país entra nele carregando fraturas abertas — sociais, raciais, econômicas e simbólicas. A polarização política não será ruído de fundo; será o palco inteiro.
Em Brasil, a disputa não se dará só entre projetos de governo, mas entre narrativas de mundo. De um lado, a promessa de ordem pela exclusão; de outro, a tentativa de reconstrução institucional em terreno minado. O centro? Cada vez mais rarefeito, sugado por extremos que aprendem a performar indignação como método.
Polarização como engenharia
A polaridade de 2026 não nasce espontânea. Ela é cultivada. Consultorias políticas, gabinetes digitais e laboratórios de dados sabem exatamente onde apertar: medo, ressentimento, identidade, fé, violência. O conflito é rentável. Engaja. Converte. Distrai.
Não se trata mais de convencer o eleitor, mas de capturá-lo emocionalmente. A lógica é simples: quem controla o afeto, controla o voto. E o algoritmo faz o trabalho sujo com precisão cirúrgica.
Manipulação em alta definição

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As fake news grosseiras dão lugar a meias-verdades elegantes. Vídeos “espontâneos”, indignações coreografadas, vazamentos estratégicos, escândalos fabricados. Tudo milimetricamente pensado para parecer orgânico.
A manipulação agora veste terno, fala manso e cita “dados”.
E enquanto a população discute símbolos, decisões estruturais passam longe do debate público.
Jogos empresariais: o poder que não aparece na urna
2026 também será o ano em que grandes grupos econômicos atuarão com ainda mais sofisticação. Bancos, plataformas digitais, conglomerados de mídia, setores do agronegócio e da segurança privada não disputam eleições — disputam agendas.
Financiamentos indiretos, pressão legislativa, chantagens econômicas e controle de narrativas moldam o terreno antes mesmo da campanha começar. O mercado não escolhe candidatos; escolhe limites. Quem ultrapassa, paga o preço.
E o movimento negro, onde está nesse tabuleiro?
Aqui a pergunta dói — porque ela expõe contradições. O movimento negro chega a 2026 mais visível, mais diverso, mais disputado… e também mais fragmentado. Há avanço simbólico, mas retrocesso material. Há representatividade estética, mas resistência a mudanças estruturais.

Eduardo Bolsonaro
Parte do movimento foi cooptada por discursos institucionais vazios. Outra parte permanece na linha de frente, denunciando genocídio, desigualdade, encarceramento em massa e racismo estrutural — muitas vezes sozinha, atacada por todos os lados.
A polarização tenta empurrar o movimento negro para um papel decorativo: apoio eleitoral sem autonomia política. Mas a história mostra que, quando a população negra é usada apenas como base e não como sujeito, o resultado é o mesmo de sempre.
O risco e a escolha
2026 será um ano de teste. Para a democracia. Para a ética pública. Para os movimentos sociais.
O risco não é apenas quem vence a eleição — é o que se normaliza no processo.
A pergunta que paira não é confortável, mas necessária:
o país vai escolher enfrentar suas estruturas de poder…
ou vai continuar brigando na superfície enquanto tudo segue igual por baixo?
Porque, em anos assim, o silêncio também vota.
