“O problema do Brasil é porque o pobre que só quer viver de auxílio”

As ideologias do patrimonialismo e do populismo são utilizadas pela elite para manter a desigualdade estrutural no Brasil, garantindo o acesso privilegiado aos capitais econômicos e culturais para os 20% da população, enquanto mantém os 80% restantes excluídos. Essas ideologias também servem como mecanismos de controle social, ao perpetuar a “distância social” entre as classes e arregimentar a classe média em defesa dos interesses da elite.

A hegemonia das ideologias arcaicas e conservadoras do patrimonialismo e populismo continuam a moldar a teoria e prática política brasileira. Essas ideologias são responsáveis por criar uma histeria em torno da corrupção política, que é vista pela população e pela imprensa como o maior problema nacional. No entanto, essa histeria advém do domínio dessas ideias e serve como um desvio de atenção para a realidade da ação predatória dos oligopólios e da intermediação financeira, que permanecem praticamente invisíveis.

A insistência na narrativa de uma suposta elite todo-poderosa no Estado, em detrimento do mercado, é uma suprema tolice que só é possível graças à hegemonia dessas ideologias. Além disso, a cantilena da corrupção como uma herança cultural portuguesa, alegando a existência de um patrimonialismo pré-moderno com racismo implícito, serve apenas para manter o discurso de “heranças culturais” em detrimento de uma análise científica dos conflitos sociais e da gênese da desigualdade social.

A tese dominante do patrimonialismo, como leitura hegemônica sobre a sociedade brasileira, é responsável por desviar a atenção da desigualdade social e tomar a corrupção política como aspecto central. Essa inversão absurda de perspectiva e de prioridade é o que impede a verdadeira mudança na teoria e prática política brasileira. É preciso quebrar a hegemonia dessas ideias arcaicas e conservadoras e começar a pensar de forma crítica e lúcida sobre a realidade brasileira. É hora de olharmos para além do patrimonialismo e populismo e começarmos a enfrentar os problemas reais de nossa sociedade.

“O problema do Brasil é o pobre que só quer ficar querendo viver na custa do governo”

Chegamos agora numa daquelas frases que vivem circulando por aí como um mantra do jovem coach-cristão de direita.

A afirmação de que o problema do Brasil é o “pobre que só quer ficar querendo viver na custa do governo” é, antes de mais nada, uma generalização injusta e preconceituosa. Ao atribuir a todos os pobres do país uma característica tão negativa, essa frase ignora a complexidade das situações de vida e das dificuldades enfrentadas por essas pessoas.

Em primeiro lugar, é importante lembrar que existem milhões de pessoas pobres no Brasil que trabalham duro todos os dias, muitas vezes em condições precárias, para sustentar suas famílias. Essas pessoas não querem “viver na custa do governo” – elas querem ter acesso a serviços básicos de saúde, educação e segurança, que muitas vezes são negligenciados pelas autoridades.

Além disso, a ideia de que o “pobre” é um problema em si mesmo é bastante equivocada. Na verdade, a desigualdade social e a falta de políticas públicas efetivas são os verdadeiros problemas do Brasil. A concentração de renda nas mãos de poucos, a falta de investimento em áreas essenciais como educação e saúde, e a corrupção endêmica na política são fatores que contribuem para a perpetuação da pobreza e das desigualdades no país.

É interessante como, mesmo após anos da publicação de “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago, ainda há quem ache que o livro se trata apenas de uma história fantástica sobre uma epidemia de cegueira. A verdade é que a obra do escritor português é uma dura crítica social e política que reflete muito bem os problemas que assolam o Brasil atualmente.

A falta de acesso à educação e saúde de qualidade, por exemplo, é um problema tão evidente que chega a ser quase cômico – se não fosse trágico. Afinal, é como se vivêssemos em um país que faz questão de manter a população ignorante e doente. Com políticas públicas precárias, muitas pessoas têm que se virar como podem para conseguir estudar ou ter acesso a atendimento médico adequado. Afinal, não é todo mundo que pode pagar planos de saúde caros ou estudar em escolas particulares de elite, não é mesmo?

Mas a verdade é que a falta de políticas públicas efetivas em áreas tão básicas como saúde e educação não é algo que acontece por acaso. Afinal, manter a população ignorante e doente é uma maneira eficaz de controlar a massa e perpetuar a desigualdade social. Porque, afinal, se as pessoas não tiverem acesso ao conhecimento e à informação, não vão saber exigir seus direitos. E se estiverem doentes, vão estar mais preocupadas em sobreviver do que em lutar por melhorias.

Mas não é só isso. A violência, outro grande problema social no Brasil, é tratada com tanto descaso pelas autoridades que chega a ser revoltante. E, claro, a violência atinge especialmente as comunidades mais pobres. Afinal, é muito mais fácil deixar essas pessoas lutando entre si do que investir em políticas de segurança efetivas ou em justiça social. Afinal, se houver mais igualdade, quem sabe a violência não diminui? Mas isso seria pedir demais, não é mesmo?

E o que dizer da corrupção? Ah, essa é uma verdadeira piada. Afinal, se alguém acredita que há uma luta real contra a corrupção no Brasil, é porque nunca esteve acordado durante as últimas décadas. Desvios de recursos públicos, nepotismo, favorecimento de amigos – tudo isso parece ser prática comum na política brasileira. E o pior é que muitas vezes as pessoas não se importam com isso, porque acham que é “normal”. Normal, gente? Sério mesmo?

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Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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