Romeu Zema oficializa pré-candidatura à Presidência com apoio da direita: alerta para um Plano Novo reconfigurado.

Na data de 16 de agosto de 2025, o Partido Novo lançará oficialmente o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, como pré-candidato à Presidência da República. O evento, organizado em São Paulo, reunirá cerca de 2 mil pessoas, entre lideranças da chamada “direita liberal” e simpatizantes de uma pauta econômica voltada ao mercado ─ um movimento estratégico que vai além de formalidades partidárias e sinaliza o recomeço de uma narrativa política pós-Bolsonaro  .

1. O cenário político: por que agora?

Zema, 60 anos, vive um momento de projeção crescente. Reeleito com larga vantagem em Minas Gerais (56% dos votos) e com aprovação estadual de cerca de 62%, conforme pesquisa da Financial Times  , o governador vem se consolidando como um nome que equilibra discurso liberal na economia com postura pragmática na administração pública. A cerimônia paulista em agosto será mais que simbólica: sinaliza que o Novo pretende pivotar seu discurso para o cenário nacional, com ambições claras de ocupar o espaço da direita moderada que surgia como saldo do esfriamento da era Bolsonaro  .

2. Apoio tático e estratégia eleitoral

O Partido Novo decidiu instalar o palco do anúncio em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, reforçando a estratégia de visibilidade máxima e capilaridade política  . Esse movimento estratégico também traz uma guinada tática: em meados de julho, Zema se reuniu com Jair Bolsonaro, que endossou o lançamento e sinalizou apoio — por vídeo, devido às restrições judiciais do ex-presidente  . A parceria, embora incomum para quem se define “liberal”, reforça que seu projeto mira um eleitorado de direita moderada, planejando disputar votos tanto do centro quanto do bolsonarismo. Essa combinação pode ampliar sua capilaridade eleitoral, mas também acende luzes de alerta sobre coerência ideológica.

3. A ecologia da centro-direita em transformação

Com Bolsonaro inelegível até 2030, o campo da direita brasileira passou por uma recomposição acelerada  . Nomes como Tarcísio de Freitas, Ratinho Jr., Ronaldo Caiado e Eduardo Leite surgem como possíveis adversários ou aliados, dependendo de acordos de aliança e pulverização de candidaturas locais. Mas Zema aposta numa narrativa própria: a de que é possível conciliar postura liberal econômica com gestão eficiente, ainda que carregue disputas internas e críticas sobre o impacto de suas decisões, sobretudo na área ambiental ﹘ alvo de severas críticas pela fragilização da governança ambiental em Minas  .

4. Fortalezas e vulnerabilidades

Fortalezas:

  • Aprovação ampla em MG: cerca de 62% segundo FT  .
  • Perfil de gestor “fora da política tradicional”, postulando-se como alternativa técnica à disputa polarizada.
  • Conexão com pautas de direita e mobilização liberal, o que lhe confere base eleitoral.

Vulnerabilidades:

  • Discrepância na agenda liberal: o apoio explícito a Bolsonaro traz sombras de dependência de uma narrativa populista e conservadora, o que pode comprometer sua imagem inovadora.
  • Questionamentos sobre priorização de gestão pública: críticos apontam que, embora tenha atraído investimentos enormes (como aumento da capacidade solar e renegociação da dívida do estado), ele deixou lacunas em políticas sociais e ambientais  .
  • Fragilidade frente ao nome petista: Lula já sinalizou intenção de reeleição, e uma campanha centrada no combate ao “desgoverno” Lula pode dar a Zema a visibilidade que falta, mas também pode estreitar seu espaço caso a narrativa pública se mantenha favorável ao governo federal.

5. O Novo sob o holofote

O lançamento de Zema não é apenas individual; é também uma decisão de posicionamento do partido. O Partido Novo, fundado em 2015 com discurso de renovação, agora se arrisca no tabuleiro nacional, num momento em que outras legendas da chamada “nova direita” se consolidam como alternativas ao centro e à esquerda tradicionais  .

O risco? Perder identidade ao assinar acordos amplos com o bolsonarismo e comprometer sua narrativa de governança inovadora — um dilema que ficará ainda mais claro após o evento em agosto.

6. O desafio do discurso nacional

Para que Zema transforme seu reconhecimento em Minas num projeto nacional, precisará:

  1. Conectar com o Brasil profundo, abrangendo o Norte e Nordeste, onde o Novo ainda não tem expressão relevante.
  2. Ajustar a retórica: driblar críticas por recuar em pautas ambientais e reforçar ações concretas em políticas sociais.
  3. Administrar o apoio conservador, mantendo a base bolsonarista sem perder eleitores centristas que temem retrocessos autoritários.

7. O que esperar até 2026?

  • Após 16 de agosto, Zema e sua equipe tendem a acelerar viagens pelo país, participando de roadshows e eventos regionais  .
  • O Novo poderá costurar alianças: mas quem será seu vice? Com partidos como PSD e União Brasil articulando candidatos próprios, Zema precisará consolidar espaço sem antagonizar nomes como Tarcísio, Ratinho ou Caiado.

O desempenho econômico em Minas — equilíbrio da conta pública, investimentos e respostas à crise hídrica ou ambiental — ganharão atenção nacional. A forma como Zema se posicionará diante de Lula será decisiva: será oposição crítica ou colaborativa?

A intenção de Zema de disputar a Presidência em 2026 representa a tentativa mais séria do Partido Novo de sair de sua zona de conforto estadual e explorar o campo amplo da centro-direita liberal-conservadora. Com capacidade de mobilização, discursos identitários e imagem de eficiência estadual, o governador mineiro tem trunfos. Mas também acumula desafios: conciliar coerência política com pragmatismo eleitoral, reforçar propostas socioambientais e ampliar sua narrativa além de Minas.

O que vai decidir sua trajetória? Se ele conseguir se manter coerente e visional, o lançamento do dia 16 pode ser o ponto de partida de uma alternativa nacional, empurrando a polarização pro mercado político. Mas se escorregar no pragmatismo eleitoral, arrisca se tornar o rosto de um “novo jeito” que traiu sua própria essência.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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