Há algo profundamente perturbador em observar o racismo religioso no Brasil. Parece que a intolerância e o ódio são abençoados por certas crenças e tradições, em uma mistura macabra de fé e preconceito.
A discriminação religiosa é um problema real e grave que permeia em nossa sociedade. Mas não se trata apenas de discriminação, é um racismo velado que se manifesta de diversas formas e que tem suas raízes na história de colonização do país.
A escravização dos povos africanos e a dos povos nativos foram marcas profundas na história do Brasil, deixando cicatrizes que perduram até hoje. E essas cicatrizes são visíveis nas relações sociais, inclusive nas religiosas.
Muitos evangélicos, por exemplo, propagam a ideia de que sua fé é a única verdadeira e que todas as outras crenças são falsas e demoníacas. Essa mentalidade fundamentalista é um dos pilares do racismo religioso no Brasil.
E não para por aí. Há casos de agressões verbais e físicas contra praticantes de religiões de matriz africana, que são associados à bruxaria e à magia negra. Há casos de vandalismo em terreiros de candomblé e umbanda, além de uma dificuldade enorme de se conseguir um terreno para construir um templo dessas religiões.
Sim, este assunto é complexo e multifacetado, que exige uma reflexão profunda e uma ação coletiva para ser combatido. É preciso romper com a mentalidade colonialista que ainda permeia nossa sociedade, e reconhecer que todas as crenças e tradições têm seu valor e merecem respeito.
Quando eu falo “ódio abençoado” eu estou falando uma clara ligação aos pastores e muitos outros líderes religiosos que diariamente propaga a cultura do ódio aos rituais das religiões de matriz africana.
Dizem que amam Jesus, mas odeiam o próximo. Hipocritas!
Um dos exemplos mais emblemáticos dessa cultura de ódio foi a Inquisição, instituída pela Igreja Católica na Idade Média, com o objetivo de perseguir e punir aqueles que eram considerados hereges. Durante séculos, milhares de pessoas foram torturadas, condenadas à morte e queimadas vivas por supostamente desafiar os dogmas da Igreja.
Outro exemplo notável foi a escravidão, que foi amplamente justificada pelos líderes cristãos da época como sendo algo natural e necessário para o bem-estar da sociedade. Na verdade, muitos dos escravos foram forçados a se converterem ao cristianismo como forma de submissão e controle.
Mais recentemente, temos visto um aumento no discurso de ódio de grupos religiosos contra minorias étnicas, sexuais e religiosas. O fundamentalismo cristão, por exemplo, tem sido usado como justificativa para discriminação e violência contra pessoas LGBT, mulheres e outras minorias.
O massacre de membros da comunidade LGBT na boate Pulse em Orlando, nos Estados Unidos, em 2016, foi um exemplo trágico desse fenômeno. O atirador, Omar Mateen, era um muçulmano devoto, mas também foi influenciado por pregações homofóbicas de pastores cristãos extremistas.
No Brasil, também vemos exemplos de como o discurso de ódio cristão pode levar a atos violentos e discriminatórios. Em 1993, o líder religioso Rosivaldo Ferreira da Silva, conhecido como “pastor Belo”, incitou um grupo de fiéis a atacar um terreiro de candomblé em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. O ataque resultou em dois mortos e diversas pessoas feridas.
Esses exemplos mostram como a cultura do ódio cristão ou qualquer outro tipo de religião homofóbica pode ter consequências graves e impactantes na sociedade.