Existe um ditado antigo que atravessa gerações: “O peixe morre pela boca.”
Talvez você tenha ouvido isso como um alerta contra a língua solta, a fala impensada. Mas hoje ele se revela com um sentido ainda mais profundo: morremos pela boca também pelo que colocamos dentro dela — e nem sempre por escolha livre, mas por condicionamento político e espiritual.
Comer mal não é apenas uma casualidade urbana, uma questão de pressa ou falta de dinheiro. É um projeto. Um projeto sofisticado, silencioso, estrategicamente estruturado para manter corpos inflamados, mentes embotadas e espíritos adormecidos. E quanto mais doentes, mais lucrativos esses corpos se tornam para a indústria — seja ela alimentícia, farmacêutica ou da estética.
Mas há uma verdade ainda mais incômoda: apesar de todo o aparato que nos empurra veneno como se fosse comida, nós também somos responsáveis pelo que colocamos em nosso corpo. A boca, nesse cenário, é tanto uma entrada sagrada quanto uma armadilha. E a escolha do que entra por ela define mais do que nossa saúde: define nosso destino.
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O sistema sabe o que você vai comer antes de você pensar
As grandes indústrias sabem exatamente o que você vai comer amanhã. E não porque você decidiu. Mas porque elas já moldaram seu paladar, seus hábitos e até sua autoestima há décadas. Elas decidiram, junto com agências de marketing e governos silenciosos, que você vai achar normal:
- Comer açúcar em tudo desde os dois anos de idade;
- Achar que um refrigerante gelado “desce redondo” num dia de calor;
- Associar prazer à gordura saturada e afeto à comida embalada;
- Achar que o natural é sem graça e que o saudável é “radical demais”.
Tudo isso é cálculo. Não é por acaso que os alimentos mais nocivos são os mais baratos e acessíveis nas periferias. Isso se chama colonização alimentar, e ela é parte de um processo mais amplo de dominação que começa pela boca e termina no hospital.
E se você acha que isso não é político, basta observar quem lucra com isso.
Comida industrial: o novo colonizador
O ultraprocessado é o novo colonizador. Ele chega disfarçado de modernidade, mas destrói tudo que toca: microbiota, vitalidade, ancestralidade. Ele não respeita a terra, não respeita o tempo do corpo, e menos ainda a inteligência de quem consome. Ele transforma o sagrado em refém do fast food.
Nos tornamos dependentes de sabores fabricados em laboratório. Ingredientes que não curam, não nutrem, não sustentam. Comemos muito, mas nos sentimos vazios. Estamos saciados de toxinas, mas famintos de energia real.
E nesse ciclo de entorpecimento alimentar, perdemos não só a saúde física, mas também a lucidez espiritual. Porque um corpo inflamado não sustenta meditação. Uma mente congestionada por açúcar não acessa profundidade. Uma alma intoxicada não ouve o sagrado.
O corpo é templo — e o templo está em ruínas
Nas tradições ancestrais, o corpo era mais do que biologia. Era templo de energia, morada da alma, ferramenta da escuta interior. Por isso, comer era ritual. Era oferenda. Era reverência.
Não se comia qualquer coisa, em qualquer momento, de qualquer jeito. Sabia-se que a comida podia curar ou matar, expandir ou aprisionar. Sabia-se que a terra dava de acordo com o ciclo, e que a fome podia ser sanada com pouco — se houvesse presença, gratidão e consciência.
Mas hoje o corpo é visto como máquina a ser domada. Como vitrine. Como depósito de compensações emocionais. Estamos usando a comida para preencher um buraco que não é físico. E isso nos mata em silêncio, de dentro pra fora.
É hora de retomar o corpo como santuário. E santuário não se profana com conveniência.
O sistema pode ser cruel. Mas a escolha é sua.
Não adianta terceirizar tudo. A indústria engana? Sim. O marketing manipula? Sim. O governo se omite? Sem dúvida.
Mas em algum momento, a responsabilidade pelo que entra na sua boca é só sua.
Você escolhe entre o suco natural ou o de caixinha. Você decide entre o pão fermentado ou o ultraprocessado. Você opta por conhecer seu corpo ou seguir sendo prisioneiro dos desejos que te programaram.
Assumir essa responsabilidade não é se culpar. É se libertar.
É olhar para seu prato com reverência. É se perguntar: “Isso aqui me cura ou me enfraquece?”
É entender que cozinhar pode ser um ato de revolução. Que o autocuidado não é vaidade — é retorno ao centro.
🌱Reeducar-se é relembrar
Comer bem não é luxo. É memória.
Memória do que você é, do que seus ancestrais sabiam, do que seu corpo implora. Comer bem é declarar ao sistema:
“Eu sei quem sou. E não vou morrer pela boca.”
A revolução começa no mercado, na cozinha, no copo d’água com limão em vez do refrigerante, no prato colorido ao invés do embutido cinza. Cada garfada pode ser um ato de cura. Ou de distração. Você escolhe.
“O que entra pela boca molda o que sai da mente. Coma com consciência. Viva com potência.”