‘Nem esquerda, nem direita.O caminho é o panafricanismo, diz KLJ”

KLJ, DJ e empresário dos Racionais, fez uma declaração contundente: “O caminho para a libertação espiritual e financeira do povo preto no Brasil e no mundo é o panafricanismo”. Essa fala ressoa profundamente, especialmente em um cenário onde tantas vezes somos empurrados para escolher entre dois lados que, no fim, não nos representam. Para KLJ, dane-se a esquerda, dane-se a direita. O foco precisa estar em outra direção, uma que nos reconecte com nossa essência e nos liberte das amarras impostas pelo colonizador.

O panafricanismo defendido por KLJ é mais do que um ideal político. É um chamado para que criemos, entre nós, negócios, redes de apoio e uma verdadeira comunidade. A proposta aqui não é gastar energia tentando modificar uma sociedade construída sobre alicerces racistas, mas sim construir uma nova, que valorize nossa ancestralidade e nos fortaleça mutuamente. Marcus Garvey e Malcolm X já indicaram esse caminho, e KLJ reafirma: a verdadeira revolução está em nós nos organizarmos e conscientizarmos os nossos irmãos.

Esse movimento de retorno às nossas raízes não significa apenas voltar fisicamente à África, mas permitir que a África renasça dentro de cada um de nós. É sobre rejeitar o que o colonizador nos impôs: religiões, nomes, identidades que nunca foram nossas. E assim, voltarmos nosso olhar para a ancestralidade, para as práticas e saberes que nos foram arrancados. Essa é a libertação que KLJ propõe, e é essa a libertação que o panafricanismo nos oferece.

No texto anterior, eu já falei que o caminho é apoiar projetos já consolidados, e eu continuo acreditando nisso. Mas concordo com KLJ que essa caminhada precisa de mais: de autonomia, de negócios entre nós e para nós, de organização. É sobre tomar as rédeas do nosso destino sem esperar que a esquerda ou a direita resolvam nossos problemas. Nossa força está na comunidade preta global, na nossa ancestralidade, na nossa união.

O panafricanismo é mais do que uma resposta ao sistema opressor; é uma via para a nossa própria reconexão espiritual e financeira. Um caminho de volta para nós mesmos, para o que somos e para o que sempre fomos: uma família unida pela ancestralidade e pelo desejo de construir nosso próprio futuro.

7 Objetivos do Panafricanismo: O Caminho para a Libertação Preta

O panafricanismo é mais do que uma filosofia ou um movimento político; é uma jornada coletiva de reconexão, resistência e libertação para os povos pretos no mundo todo. Ele nasce do entendimento de que nossas lutas, sejam no Brasil, nos Estados Unidos, ou na África, são interconectadas. Aqui estão sete dos principais objetivos do panafricanismo, que nos guiam nessa caminhada em direção à emancipação total.

1. Unir a diáspora preta global
O primeiro objetivo do panafricanismo é promover a união entre todos os descendentes de África, independentemente de onde estejam. Seja na América Latina, na Europa ou na própria África, a diáspora preta é uma só família. Nossa força está na nossa capacidade de nos organizarmos juntos, superando as fronteiras impostas pelo colonialismo e pelo racismo.

2. Reconectar com a ancestralidade africana
Para o panafricanismo, é essencial reconectar-se com a ancestralidade africana. Esse retorno não é apenas físico, mas espiritual e cultural. É sobre rejeitar as imposições coloniais, como religiões e costumes que nos afastaram de nossas raízes, e redescobrir nossas tradições, espiritualidades e modos de vida.

3. Criar autonomia econômica para o povo preto
O panafricanismo acredita na construção de negócios próprios, de nós para nós. Autonomia financeira é fundamental para a libertação total. Quando criamos e fortalecemos negócios dentro da nossa comunidade, construímos uma rede de apoio e prosperidade, onde nossos recursos permanecem em nossas mãos e não nas de quem nos explora.

4. Lutar contra o imperialismo e o colonialismo em todas as suas formas
O panafricanismo tem como objetivo resistir às diversas formas de opressão imperialista e colonialista. Essa luta vai além da independência formal de nações africanas; trata-se de desmantelar os sistemas que ainda perpetuam a exploração de nossos povos, seja por meio de políticas econômicas, culturais ou sociais.

5. Promover a educação libertadora
Educar para libertar é um dos princípios centrais do panafricanismo. Isso significa garantir que nossos jovens tenham acesso a uma educação que valorize suas origens, suas histórias e suas contribuições para o mundo. É sobre descolonizar o currículo, tornando o conhecimento africano central na formação de uma nova geração consciente e empoderada.

6. Construir redes de solidariedade entre os povos pretos
O panafricanismo não é apenas sobre unidade; é sobre solidariedade prática. A luta de um preto no Brasil é a mesma de um preto no Quênia ou no Haiti. O objetivo é criar redes de apoio mútuo que transcendam fronteiras e fortaleçam a luta preta em todo o mundo, de forma que possamos nos proteger e nos ajudar mutuamente em tempos de necessidade.

7. Buscar a libertação espiritual do povo preto
O último, mas talvez o mais profundo objetivo do panafricanismo, é a libertação espiritual. Isso envolve uma rejeição das estruturas espirituais impostas pelo colonizador e o retorno às nossas práticas ancestrais. A espiritualidade africana, com suas crenças e rituais, é uma parte fundamental de quem somos, e resgatar esse legado nos fortalece como indivíduos e como coletividade.

Esses sete objetivos não são apenas ideias; são um chamado para a ação. O panafricanismo nos lembra que a verdadeira libertação vem da unidade, da autonomia e da reconexão com quem realmente somos. O caminho é árduo, mas juntos podemos transformar nossa realidade.

Wanderson Dutch.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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