Não tenho mais idade para me surpreender com a estupidez humana.

 

Não Tenho Mais Idade Para Suportar a Estupidez Humana

Eu confesso…

Essa frase do médico Drauzio Varella me atravessou como uma flecha precisa. “Não tenho mais idade para me surpreender com a estupidez humana.”

E quer saber? Eu assino embaixo.

Drauzio, que dispensa apresentações, é daqueles raros nomes que, só de serem citados, já transmitem uma certa confiança, uma certa credibilidade que anda em falta no nosso tempo. Médico, escritor, divulgador científico, humanista. Ateu convicto, nunca precisou se escorar em dogmas nem misticismos pra fazer aquilo que poucos fazem: acreditar no potencial humano — apesar dos humanos.

Passou boa parte da vida dentro dos presídios, escutando, cuidando, tratando, olhando no olho de quem a sociedade resolveu descartar. Esteve no meio de pandemias, enfrentou HIV nos anos em que sequer se podia falar sobre o tema. Sempre esteve onde poucos têm coragem de estar. E, ainda assim, depois de tantas décadas de serviço, de luta, de diálogo, Drauzio chega à mesma conclusão que eu, que você, que qualquer um que ainda conserva dois neurônios minimamente ativos nessa era da estupidez:

Não dá mais. Eu não tenho mais paciência pra idiotice coletiva.

A estupidez humana cansa. Ela esgota. Ela corrói a nossa fé na possibilidade de um mundo minimamente decente. E não, não estou falando de burrice acadêmica. Isso aqui não tem nada a ver com quem teve acesso ou não à universidade. Tô falando de ignorância cultivada, de burrice orgulhosa, de gente que fez da própria mediocridade um projeto de vida.

Gente que se recusa a ler, se recusa a ouvir, se recusa a refletir. E, pior, quer te convencer que ser assim é uma virtude.

Gente que idolatra e coloca pessoas públicas patéticas no patamar de um Deus.

Que defende político corrupto.

Que se curva pra religião que rouba, mata e oprime, desde que sirva aos próprios delírios.

Gente que acredita que o planeta é plano, que vacina mata, que educação é doutrinação, que livro é ameaça.

Eu olho ao redor e, sinceramente, muitas vezes a vontade é desligar tudo, sumir, ir morar no meio do mato. Mas sabe qual é o problema? A estupidez é global. Ela não tem CEP. Não tem bairro. Não tem fronteira.

E, sim, eu sou — ou pelo menos fui — uma pessoa que acredita no potencial humano. E talvez seja exatamente por isso que esse tipo de idiotice me impacta tanto. Porque, lá no fundo, eu sei que dava pra ser diferente. Eu sei que a humanidade tinha — e ainda tem — os recursos, a tecnologia, o conhecimento, o acesso, o acúmulo de sabedoria necessário pra fazer desse planeta um lugar extraordinário.

Mas o que a gente faz?

Investe bilhões em armas.

Em foguetes pra milionário brincar de Deus.

Em tecnologia pra manipular, controlar, espionar e explorar.

E enquanto isso, metade da população mundial não sabe se vai comer hoje. E tem quem ache isso normal. Tem quem defenda isso. Tem quem ache que falar sobre isso é “mimimi”.

Eu não tenho mais idade pra isso.

Nem disposição, nem paciência.

A estupidez humana não é mais só irritante. Ela é perigosa. Ela virou uma pandemia silenciosa. Mata mais que vírus, que bala, que guerra. Mata intelectualmente, emocionalmente, espiritualmente. Mata sonhos, mata projetos, mata futuros inteiros.

E sabe o que é mais triste?

A estupidez não age sozinha. Ela anda de mãos dadas com a arrogância. Com o narcisismo. Com o culto à própria ignorância. Porque hoje não basta ser ignorante. É preciso defender a ignorância como se fosse um direito sagrado.

E eu olho pra frase do Drauzio, olho pra trajetória dele, e penso:

Se até ele, que viveu a vida inteira lidando com o pior e o melhor da humanidade, chegou a esse ponto… quem sou eu pra achar que preciso aguentar calado?

Não, eu não aguento mais.

E não, isso não é sinônimo de desistir.

Isso é só um recado claro: não contem comigo pra alimentar discussões idiotas, brigas vazias, narrativas estúpidas.

O mundo precisa — urgente — de mais gente que lê, que pensa, que reflete, que questiona, que se observa.

E menos gente que vomita opinião sem nunca ter digerido um único pensamento próprio.

Não, eu não odeio as pessoas. Só prefiro quando elas não estão por perto.

 

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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