O cristianismo por si só já é uma doença na humanidade, e na versão cristã neopentecostal brasileira é um câncer social. Pronto. Tendo dito isso, a recente decisão da Igreja Evangélica Pentecostal Deus é Amor (IPDA) de proibir maquiagem, roupas “sensuais” e até penteados afro é um reflexo do autoritarismo e da distorção da fé que marca muitas dessas denominações. Ao invés de focar no que realmente importa – a transformação interna do indivíduo e o amor ao próximo –, essas igrejas impõem regras rígidas e superficiais, que não têm nada a ver com os ensinamentos originais de Cristo.
A proibição de penteados afro, em particular, é um gesto de discriminação racial camuflado sob a alegação de preservar a “santidade”. No entanto, essa medida vai contra a diversidade cultural, étnica e histórica dos próprios fiéis. Ao criminalizar um estilo de cabelo associado à resistência e à identidade de milhares de brasileiros negros, a IPDA adota um padrão estético eurocêntrico e colonialista, desrespeitando a riqueza da diversidade de sua congregação. Em nome de uma santidade imposta, a igreja desconsidera a pluralidade das pessoas que formam seu corpo de fiéis, tratando suas diferenças como algo a ser apagado.
O fanatismo religioso no Brasil atinge níveis alarmantes, como exemplifica a recente “doutrina” da Igreja Deus é Amor, que proíbe maquiagem, roupas consideradas sensuais e penteados afro, sob a justificativa de que os fiéis devem “refletir a santidade”. Essa imposição, além de autoritária, escancara um racismo enraizado e uma hipocrisia que tem sido a marca registrada de instituições como essa.
É curioso — e profundamente revoltante — que uma igreja envolvida em inúmeros escândalos, incluindo casos de abuso sexual, tenha a ousadia de ditar o que é ou não “santo”. Afinal, onde está a santidade em proteger líderes religiosos corruptos e abusadores? Onde está a moralidade em usar a fé alheia como ferramenta de controle? Ao mesmo tempo que seus próprios líderes mergulham em condutas imorais, pregam que usar um penteado afro é um “pecado”. Essa visão é não apenas absurda, mas também explicitamente racista.
A proibição de penteados afro não reflete santidade, mas sim a perpetuação de estigmas históricos contra características negras. Ao condenar algo tão natural quanto a textura de um cabelo, essa doutrina desumaniza e marginaliza. Não é sobre fé, mas sobre o controle de corpos e a manutenção de preconceitos. Qualquer pretexto de santidade cai por terra diante de tamanha discriminação.
O uso do discurso religioso para justificar o racismo é uma mancha na sociedade brasileira. Em vez de promover o amor, como o nome da igreja sugere, o que se vê é a perpetuação de um sistema que oprime, segrega e condena. É mais um exemplo de como o fanatismo se tornou um instrumento de opressão, desviando-se completamente da mensagem de igualdade e respeito que deveria nortear a espiritualidade.
A pergunta que fica é: até quando permitiremos que instituições hipócritas usem a religião para encobrir abusos e reforçar preconceitos? A verdadeira santidade não está em controlar o corpo e a expressão de indivíduos, mas em promover justiça, dignidade e amor real — algo que parece estar ausente em doutrinas como essa.