A Holanda anunciou que devolverá mais de 100 Bronzes de Benin que foram saqueados por tropas britânicas na Nigéria no final do século XIX.
Milhares dessas esculturas e entalhes culturalmente significativos foram roubados durante a destruição violenta da Cidade de Benin, no atual estado de Edo, na Nigéria, em 1897.
Os tesouros foram vendidos, alguns para colecionadores particulares e outros para museus como o Wereldmuseum, na Holanda, que tem exibido esses artefatos por décadas.
Olugbile Holloway, diretor-geral da Comissão Nacional da Nigéria para Museus e Monumentos, afirmou que a devolução dos 119 artefatos é a “maior repatriação de antiguidades de Benin.
É muito cinismo dos europeus atuais ainda terem essa mentalidade opressora e tanta resistência em devolver artefatos do continente mais poderoso da face da terra.
Reparação histórica não é favorzinho, não é gentileza: é uma obrigação moral e política. O fato de países europeus ainda debaterem se devem ou não devolver obras e riquezas saqueadas da África é uma prova da permanência do colonialismo no imaginário ocidental. Eles roubaram na base da violência, incendiaram cidades, assassinaram reis, desmantelaram impérios e, séculos depois, ainda se dão ao luxo de decidir quando e como devolver o que nunca lhes pertenceu.
A recente decisão da Holanda de devolver 119 Bronzes de Benin à Nigéria deveria ser um exemplo, mas, na realidade, expõe a lentidão e a relutância com que esses processos acontecem. Esses artefatos foram retirados à força em 1897, durante a destruição brutal da Cidade de Benin por tropas britânicas. Milhares de esculturas e obras de arte, que faziam parte do coração cultural e espiritual do povo Edo, foram espalhadas pelo mundo, adornando museus europeus e coleções privadas que lucraram com o saque.
A devolução dessas peças não é um ato de generosidade; é a restituição de algo que nunca deveria ter saído de lá. Enquanto museus na Europa e nos Estados Unidos faturam milhões exibindo essas obras como se fossem seus legítimos donos, países africanos que lutam para preservar sua própria história ainda precisam implorar para reaver o que lhes foi arrancado. É um absurdo que, no século XXI, governos europeus e instituições culturais ainda argumentem sobre “preservação”, como se os africanos não tivessem capacidade de cuidar do seu próprio patrimônio.
A reparação histórica não se limita à devolução de objetos. Ela passa pelo reconhecimento do crime, pela indenização dos danos causados e pela mudança completa da narrativa colonial que ainda se sustenta nesses espaços. Os europeus precisam entender que sua posição de potência global se construiu às custas do saque e da exploração de outros povos. A riqueza de Paris, Londres, Amsterdã e Berlim não veio do nada – ela tem o sangue e a arte de impérios africanos que foram sistematicamente pilhados.
Se a Holanda pode devolver os Bronzes de Benin, então por que o Reino Unido ainda mantém a maior parte do saque? Por que o Museu Britânico continua se recusando a devolver não só artefatos africanos, mas também gregos, egípcios e de outras civilizações que tiveram sua história dilacerada pelo colonialismo? Por que a França ainda resiste em devolver os tesouros saqueados de reinos como o de Daomé (atual Benim)?
A questão aqui não é apenas sobre arte, mas sobre poder. Quem tem o direito de contar sua própria história? Quem define o que pertence a quem? Se os papéis fossem invertidos e fossem os africanos que tivessem saqueado catedrais europeias, roubado coroas e relíquias sagradas, será que haveria essa mesma paciência e resistência na devolução? Claro que não.
A devolução dos Bronzes de Benin pela Holanda é um pequeno passo, mas ainda estamos longe da verdadeira justiça. O Ocidente precisa entender que os tempos mudaram. A África está se reerguendo, e os museus coloniais não poderão continuar se sustentando na pilhagem para sempre. É tempo de devolver tudo. Sem desculpas, sem demora, sem condicionais.