A mídia corporativa brasileira tem ignorado um dos eventos econômicos mais significativos do nosso tempo. Elon Musk, o magnata da tecnologia e figura emblemática do capitalismo moderno, está vendo seu império, construído essencialmente sobre fundamentos frágeis, desmoronar. Quem diria que esse personagem do jogo doentio do capitalismo teria suas bases, nada sólidas, derretendo em tão pouco tempo, assim como foi sua ascensão meteórica e desproporcional em tantos níveis.
É crucial esclarecer, especialmente para aqueles que acreditam que criticar um modelo econômico falido é sinônimo de pensamento limitante ou algo semelhante: ninguém aqui defende a pobreza ou a escassez. Muito pelo contrário. Valorizamos a riqueza, a abundância e desejamos que todos vivam assim, pois a natureza é pura abundância. Portanto, este modelo social em que a pobreza é incentivada por meio de decisões políticas é, absurdamente, a raiz do caos social. Quando um prefeito cristão desvia dinheiro da educação ou da saúde em regiões carentes, onde as pessoas já pagam impostos, ele está agindo como um agente da manutenção da pobreza, obstruindo recursos que deveriam ser entregues a essas comunidades. Isso é apenas um exemplo. É válido discutir sobre a mentalidade da pobreza da qual devemos nos libertar, mas é ainda mais válido denunciar aqueles que estão agindo para aprofundar desigualdades já terríveis.
Pois bem, vamos falar de Elon Musk.
O declínio de um império construído sobre especulação
Nos últimos três meses, os vendedores a descoberto da Tesla embolsaram US$ 16,2 bilhões, enquanto as ações da empresa de carros elétricos caíram pela metade. Elon Musk, que já foi o homem mais rico do mundo, viu sua fortuna pessoal despencar em US$ 200 bilhões, estabelecendo um novo recorde mundial para a maior perda de riqueza pessoal na história.
Desde 17 de dezembro de 2024, o valor de mercado da Tesla despencou mais de US$ 700 bilhões, eliminando bilhões dos investidores. Os vendedores a descoberto, que lucram quando os preços das ações caem, aproveitaram ao máximo essa queda.
A queda das ações da Tesla foi impulsionada por uma combinação de fatores, incluindo uma queda nas vendas na Europa e na China, protestos contra os cortes de Musk na força de trabalho do governo federal nos EUA e preocupações sobre como Musk gerenciará seu papel de liderança na fabricante de carros elétricos com seus compromissos no Departamento de Eficiência Governamental, bem como na SpaceX, sua empresa de exploração espacial.
Além disso, a Tesla foi envolvida em uma venda mais ampla no mercado de ações, incluindo entre os chamados Sete Magníficos gigantes da tecnologia dos EUA, devido a preocupações dos investidores de que a política comercial de Trump e os cortes de empregos no governo poderiam levar a maior economia do mundo à recessão.
A falácia do empreendedorismo como salvação
A narrativa do “empreendedor visionário” que salva o mundo por meio da inovação tecnológica é uma das mais perigosas do capitalismo moderno. Ela mascara as verdadeiras intenções de acumulação de capital e poder, muitas vezes às custas do bem-estar coletivo.
Elon Musk personifica essa narrativa. Apresentado como um gênio inovador, ele construiu sua fortuna explorando brechas no sistema, recebendo subsídios governamentais e manipulando mercados financeiros. Enquanto isso, seus empreendimentos têm sido marcados por práticas trabalhistas questionáveis, promessas não cumpridas e uma cultura corporativa tóxica.
A recente queda de suas empresas revela a fragilidade desse modelo. Quando a especulação não é mais suficiente para sustentar os preços das ações, o castelo de cartas desmorona, deixando para trás trabalhadores desempregados, investidores lesados e comunidades prejudicadas.
O capitalismo como sistema de exclusão
O caso de Elon Musk é emblemático de como o capitalismo funciona como um sistema de exclusão. Ele concentra riqueza e poder nas mãos de poucos, enquanto a maioria luta para sobreviver. As decisões tomadas por figuras como Musk têm impactos profundos na vida de milhões, desde cortes em programas sociais até a precarização do trabalho.
Além disso, o sistema recompensa comportamentos antiéticos e penaliza aqueles que buscam alternativas mais justas. Empreendedores sociais, cooperativas e iniciativas comunitárias enfrentam enormes barreiras para acessar recursos e mercados, enquanto corporações como a Tesla recebem incentivos fiscais e apoio governamental.
A necessidade de um novo modelo econômico
Diante das evidências, é urgente repensar o modelo econômico vigente. Precisamos de um sistema que priorize o bem-estar coletivo, a justiça social e a sustentabilidade ambiental. Isso implica em valorizar formas alternativas de organização econômica, como a economia solidária, o cooperativismo e as finanças éticas.
Também é fundamental promover uma cultura que valorize a colaboração em vez da competição, o cuidado em vez do lucro e a equidade em vez da acumulação desenfreada. Somente assim poderemos construir uma sociedade mais justa e resiliente.
A queda de Elon Musk e da Tesla é um sintoma de um sistema econômico falido, que prioriza o lucro acima de tudo e perpetua desigualdades. É hora de questionar as narrativas que glorificam figuras como Musk e de buscar alternativas que coloquem as pessoas e o planeta no centro das decisões econômicas.
A mudança não virá de cima para baixo, mas da mobilização coletiva e da construção de novas formas de organização social e econômica. É um caminho desafiador, mas necessário para garantir um futuro mais justo e sustentável para todos.