Descoberta no Egito: arqueólogos encontram cidade perdida de 2.500 anos.

Em julho de 2025, pesquisadores da Universidade de Manchester, no Reino Unido, em colaboração com a Universidade de Sadat City, no Egito, anunciaram a descoberta de uma antiga cidade egípcia com cerca de 2.500 anos — o local arqueológico conhecido como Imet, também referido como Tell el‑Fara’in ou Tell Nabasha, situado no delta oriental do Nilo  .

Artefatos de positos para diversos fins.

A descoberta e sua técnica

A identificação inicial de Imet ocorreu por meio da análise de imagens de satélite de alta resolução, que revelaram aglomerados característicos de tijolos de barro — indícios de estruturação urbana enterrada sob a areia  . Essa técnica moderna direcionou a equipe diretamente para áreas com potencial arqueológico, tornando a exploração mais eficiente e certeira.

A escavação foi liderada pelo egiptólogo Nicky Nielsen, da Universidade de Manchester, que já trabalhava na região desde o século XIX — embora nas primeiras incursões os focos tenham sido o templo e o cemitério, e não o núcleo urbano propriamente dito  .

2. Infraestrutura urbana surpreendente

A equipe desenterrou casas-torre, construções de vários andares erigidas com fundações robustas de barro — estruturas típicas do Período Tardio e da era romana no delta do rio, raras em outras regiões do Egito  .

Essas habitações revelam que Imet era densamente povoada e próspera, com uma infraestrutura urbana planejada e complexa, evidenciada por ruas pavimentadas, celeiros e áreas para o processamento de grãos — sinal de economia local ativa  .

Um edifício significativo com piso de gesso calcário e pilares maciços, datado do Período Ptolemaico (até cerca de 30 a.C.), foi descoberto ao lado de uma estrada cerimonial que ligava à proximidade de um templo dedicado a Wadjet, conhecida como a deusa-cobra protetora do Baixo Egito  .

3. Cultura espiritual e objetos religiosos

Os artefatos encontrados destacam a intensa vivência religiosa da população de Imet:

  • Ushabti de faiança, um selo funerário usado na vida após a morte, datado da 26ª Dinastia (~700–600 a.C.)  .
  • Stela dedicada ao deus Harpócrates, usada para proteção contra doenças  .
  • Sistro de bronze adornado com heads da deusa Hathor, símbolo da música e da alegria  .
  • Placa com Harpócrates sobre crocodilos, possivelmente parte de práticas protetoras  .

Esses objetos demonstram o entrelaçamento entre o cotidiano e o ritual, ao mesmo tempo que reforçam o papel central da espiritualidade na comunidade ().

4. Cotidiano: do pão ao peixe

Detalhes surpreendentes emergiram das escavações domésticas: em uma casa foi encontrada uma panela sobre uma lareira, contendo ossos de tilápia — vestígios de um guisado — ao lado de travessas usadas para fermentação de pão ao sol  .

Esse registro de alimentação revela práticas alimentares da época, com produtos locais frescos e técnicas de preparo tradicionais, abrindo uma janela para hábitos comuns de uma cidade que vivia intensamente o seu cotidiano.

5. Transformações religiosas sob influência externa

O grande edifício cerimonial construído sobre a antiga estrada processional aponta para o declínio dos cultos tradicionais, especialmente o culto à Wadjet, e reflete transformações religiosas aceleradas pelas conquistas externas, especialmente com a chegada dos gregos-macedônios liderados por Alexandre, o Grande, e o estabelecimento do domínio ptolomaico  .

Essas mudanças abalaram rotinas locais, indicando que Imet participou ativamente das profundas transições políticas e religiosas do Egito helenístico.

6. A relevância de Imet para a arqueologia do período tardio

Nielsen afirma que Imet está se firmando como “um sítio-chave para repensar a arqueologia do Egito do Período Tardio”  . O conjunto de edificações, artefatos e evidências econômicas desafia a narrativa dominante sobre a urbanização e a vida cotidiana no Egito pré-ptrô , destacando essa região como um núcleo de cultura, fé e comercio.

7. Contexto histórico

  • O Período Tardio no Egito (c. 664–332 a.C.) marcou a retomada de soberania após invasões líbias, assírias e persas.
  • Durante esse período, cidades cresceram e se organizaram com maior densidade, especialmente no delta, refletindo dinamismo urbano  .
  • A conquista por Alexandre difundiu novas dinâmicas políticas e religiosas, com maior helenização no Egito.
  • A transição para a** domínio ptolemaico** (de 305 a.C. até a morte de Cleópatra em 30 a.C.) alterou profundamente as estruturas urbanas e os cultos locais ().

8. Por que essa descoberta importa

  1. Redefine a narrativa urbana: antes focada em megasítios como Mênfis e Tebas, a arqueologia agora volta-se também para centros menores — porém dinâmicos — como Imet, proporcionando uma visão mais equilibrada.
  2. Ilumina a vida diária: comida, habitação, transporte, fé e trabalho se revelam em detalhes, aproximando o Egito antigo da humanidade cotidiana.
  3. Conecta história, religião e política: Imet proporciona evidência direta das alterações provocadas pelas conquistas estrangeiras — não apenas nas moedas e línguas, mas na forma como as pessoas viviam e acreditavam.
  4. Aperfeiçoa métodos de pesquisa: o sucesso do sensoriamento remoto combinado com escavações tradicionais aponta para novas frentes de exploração no delta e em regiões circundantes.

9. O futuro de Imet

A pesquisa segue em curso. Os próximos passos incluem:

  • Mapear completamente o perímetro urbano de Imet, expandindo o sítio e definindo limites demográficos.
  • Realizar análises de isótopos em ossos e cerâmicas para entender dieta, origem demográfica e padrões de migração da população local.
  • Decifrar os textos hieroglíficos ou demóticos eventualmente encontrados, enriquecendo o conhecimento de níveis administrativos, econômicos e ritualísticos.
  • Integrar os achados com outras cidades do delta para criar um panorama comparativo de urbanismo e redescobrimento cultural.

A revelação de Imet é mais que uma nova ruína arqueológica; é um convite para repensar o cotidiano e as transições de uma sociedade que vivia em um momento de tensão entre tradição e inovação — entre o eterno Nilo, os deuses ancestrais e um mundo em transformação.

Enquanto algumas cidades egípcias eternas no imaginário mundial se mantêm como símbolos de grandiosidade (pense em Gizé, Luxor ou Alexandria), Imet traz algo diferente: proximidade. Com suas casas-torre, seus pães fermentando ao sol e seus rituais domésticos, ela humaniza o Egito antigo e nos surpreende ao mostrar que fomos e continuamos sendo, fundamentalmente, seres que constroem lares, reúnem famílias e buscam significado em cada altar.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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