Depressão será a doença mais comum do mundo em 2030, diz OMS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou: a depressão deve se tornar a principal causa de incapacidade no mundo até 2030, ultrapassando doenças cardiovasculares e câncer em termos de impacto social e econômico. O dado é alarmante, mas não surpreendente. Vivemos em uma era de aceleração constante, marcada por crises globais, insegurança no trabalho, hiperconexão digital e fragilidade dos vínculos humanos. Tudo isso funciona como combustível para o avanço silencioso de um mal que atinge hoje cerca de 300 milhões de pessoas em todo o planeta.

O que é depressão e por que cresce tanto?

A depressão não é apenas “tristeza profunda” ou “falta de força de vontade”, como muitos ainda acreditam. É um transtorno mental complexo, resultado da interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais. Envolve desequilíbrios na química cerebral, experiências traumáticas, condições socioeconômicas adversas e também estilos de vida cada vez mais estressantes.

O crescimento da depressão está ligado a múltiplos fatores. A urbanização acelerada, por exemplo, traz consigo isolamento social e aumento da competitividade. As mudanças no mercado de trabalho, com a precarização de empregos e a lógica da “disponibilidade 24 horas”, ampliam o esgotamento mental. A hiperexposição nas redes sociais, com padrões de comparação irreais, reforça sentimentos de inadequação. Além disso, crises globais – como a pandemia de Covid-19, conflitos armados e desastres climáticos – deixaram marcas profundas na saúde mental coletiva.

O peso econômico da depressão

Segundo estimativas da OMS, a depressão e a ansiedade custam à economia global cerca de 1 trilhão de dólares por ano em perda de produtividade. Esse número se explica pelo alto índice de absenteísmo (faltas no trabalho) e presenteísmo (quando a pessoa está fisicamente presente, mas com baixo rendimento devido ao sofrimento psicológico).

Esse impacto não atinge apenas empresas, mas também sistemas de saúde. Pacientes com depressão apresentam maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes e problemas gastrointestinais, o que sobrecarrega hospitais e amplia os gastos públicos. Em muitos países, principalmente em desenvolvimento, o desafio é ainda maior porque faltam profissionais capacitados e políticas públicas voltadas à prevenção e ao tratamento.

O estigma que ainda persiste

Apesar de ser cada vez mais discutida, a depressão ainda carrega um estigma pesado. Muitas pessoas que sofrem com a doença não buscam ajuda por medo de julgamento, sendo vistas como fracas ou preguiçosas. Em contextos culturais mais conservadores, admitir sofrimento mental ainda é sinônimo de vergonha.

Esse estigma tem consequências sérias: segundo a OMS, menos da metade das pessoas com depressão recebem algum tipo de tratamento adequado. Em países de baixa renda, esse número pode cair para menos de 10%. É uma lacuna que precisa ser enfrentada com campanhas educativas, ampliação do acesso a psicólogos e psiquiatras, além da inclusão de debates sobre saúde mental nas escolas.

Fatores de risco e vulnerabilidades

A depressão pode atingir qualquer pessoa, mas há grupos mais vulneráveis. Entre eles estão jovens em idade escolar e universitária, expostos à pressão por desempenho e ao cyberbullying. Mulheres também apresentam taxas mais elevadas, devido a fatores hormonais e à sobrecarga de responsabilidades domésticas e profissionais.

Outro grupo de risco importante são os idosos, frequentemente isolados e negligenciados, que lidam com perdas afetivas e limitações físicas. Trabalhadores precarizados, migrantes e populações em situação de violência também estão mais propensos a desenvolver depressão. A multiplicidade desses perfis mostra que a depressão é um problema de saúde pública transversal, que exige abordagens diversas.

Caminhos para a prevenção

Se a previsão da OMS é que a depressão será a doença mais comum até 2030, a pergunta inevitável é: o que pode ser feito para frear essa tendência? Especialistas apontam para um conjunto de medidas.

Em primeiro lugar, é preciso investir em prevenção. Isso inclui campanhas de conscientização, redução do estigma e fortalecimento das redes de apoio social. Ambientes escolares e de trabalho precisam ser repensados para promover bem-estar, diminuindo a cultura da pressão excessiva e oferecendo espaços de diálogo.

O acesso a práticas de autocuidado – como atividade física regular, alimentação saudável, meditação e lazer – também é essencial. Políticas públicas devem priorizar saúde mental da mesma forma que fazem com doenças físicas. Em países onde o sistema público é sobrecarregado, parcerias com iniciativas comunitárias podem ampliar o alcance de serviços.

O papel da tecnologia: vilã ou aliada?

A tecnologia aparece nesse debate como uma faca de dois gumes. Por um lado, o uso excessivo de redes sociais está associado a quadros de depressão e ansiedade, especialmente entre adolescentes. Por outro, surgem novas ferramentas digitais que podem democratizar o acesso ao cuidado. Aplicativos de terapia online, programas de acompanhamento remoto e inteligência artificial aplicada ao diagnóstico precoce estão se consolidando como alternativas viáveis.

O desafio está em encontrar o equilíbrio: usar a tecnologia como aliada, sem deixar que ela se torne mais uma fonte de opressão psicológica.

O futuro do mundo com a depressão em primeiro lugar

Se as projeções da OMS se confirmarem, o cenário em 2030 será desafiador. Não se trata apenas de estatísticas de saúde, mas de uma reconfiguração da vida em sociedade. Um mundo onde a depressão é a doença mais comum é um mundo que precisa rever urgentemente suas prioridades: a forma como trabalhamos, como educamos, como cuidamos uns dos outros.

Não é apenas um problema médico, mas político, econômico e cultural. Implica questionar o modelo de desenvolvimento atual, que privilegia crescimento econômico às custas da saúde mental coletiva. Implica repensar a lógica do consumo, da hipercompetição e da hiperexposição.

Conclusão

A depressão já é considerada pela OMS como uma epidemia silenciosa e tende a ocupar um espaço ainda maior até 2030. Mas isso não significa que estamos condenados. É possível intervir, criar políticas públicas robustas, fortalecer comunidades, ampliar o acesso a tratamentos e, principalmente, mudar a forma como enxergamos o sofrimento mental.

A previsão da OMS deve ser lida menos como uma sentença e mais como um alerta: se nada for feito, a depressão dominará o futuro. Mas se encararmos o desafio de frente, talvez possamos transformar esse futuro em uma oportunidade para construir uma sociedade mais empática, equilibrada e humana.O

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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