Dos 594 parlamentares que compõem o Congresso Nacional, 273 são empresários e 160 são fazendeiros, totalizando 72% das cadeiras ocupadas por representantes desses setores. Esse dado revela uma concentração significativa de poder legislativo nas mãos de grupos econômicos específicos, levantando questões sobre a diversidade de interesses representados nas decisões políticas do país.
A presença maciça de empresários e fazendeiros no Congresso não é um fenômeno recente, mas sua magnitude atual chama atenção. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), por exemplo, conta com cerca de 300 deputados, representando aproximadamente 58% da Câmara dos Deputados. Essa bancada tem influência significativa em pautas relacionadas ao agronegócio, meio ambiente e direitos indígenas.
A concentração de poder legislativo em mãos de empresários e fazendeiros levanta preocupações sobre a representatividade de outros segmentos da sociedade. Grupos como trabalhadores urbanos, indígenas, quilombolas e populações periféricas podem ter suas demandas negligenciadas em um Congresso dominado por interesses econômicos específicos.
Apesar desse cenário, surgem vozes dissonantes que desafiam a hegemonia estabelecida. A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), por exemplo, é uma liderança expressiva que tem se destacado na defesa dos direitos das populações marginalizadas. Eleita com mais de 256 mil votos, Erika é a primeira mulher trans e negra a ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados. Sua atuação tem sido marcada por propostas legislativas voltadas à inclusão social e combate às desigualdades.
A ascensão de lideranças como Erika Hilton indica uma possível mudança nos ventos políticos do país. Embora ainda minoritárias, essas vozes trazem à tona questões fundamentais sobre equidade, justiça social e inclusão, desafiando a predominância de interesses econômicos no cenário legislativo.
É crucial refletir sobre os caminhos que levaram à atual composição do Congresso e considerar formas de ampliar a diversidade de experiências e perspectivas na política nacional. A presença de empresários e fazendeiros no legislativo é legítima, mas a predominância quase absoluta desses grupos pode comprometer a pluralidade necessária para uma tomada de decisões mais equilibrada e justa.
A construção de um ambiente político mais inclusivo exige o fortalecimento de mecanismos que incentivem a participação de diversos segmentos da sociedade nas esferas de poder. Isso inclui a promoção de candidaturas de mulheres, negros, indígenas, pessoas LGBTQIA+ e representantes de comunidades periféricas, garantindo que suas vozes sejam ouvidas e consideradas nas decisões que afetam o país como um todo.
A transformação do Congresso em um espaço verdadeiramente plural e representativo é um desafio complexo, mas essencial para o avanço social e político do Brasil. A presença de lideranças comprometidas com a justiça social e a equidade, como Erika Hilton, oferece esperança de que mudanças significativas possam ocorrer, mesmo diante de um cenário dominado por interesses econômicos consolidados.
Em última análise, a democratização do poder legislativo passa pela conscientização da sociedade sobre a importância de eleger representantes que reflitam a diversidade e complexidade daquilo que se chama aqui de povo brasileiro. Somente assim será possível construir um país mais justo, inclusivo e equitativo para todos.