O colonialismo foi e, sem nenhum tipo de dúvida, ainda é até os nossos dias atuais um sistema de exploração econômica e dominação política. Pode mesmo ser entendido como um modo de percepção e falsa ordem do mundo. Produziu e ainda produz formas de enquadramento da vida social e criou relações fundadas em forças hegemônicas — sempre em tensão construtiva com imagens contra-hegemônicas.
A influência persistente do colonialismo é inegável. A maneira como moldou as estruturas econômicas e políticas continua a ecoar nas sociedades atuais, alimentando relações de poder e influenciando a dinâmica global.
Noam Chomsky, falo muito dele com vocês, o renomado linguista e filósofo, já escreveu diversos textos e por várias vezes em entrevistas já nos alertou sobre as estratégias utilizadas para a dominação e manipulação de massas nos meios de comunicação e no contexto político.
1. **Controle do Fluxo de Informações:** Durante os períodos coloniais, os colonizadores controlavam a narrativa, divulgando informações que retratavam os povos nativos como inferiores, justificando a dominação. Atualmente, vemos esse controle nas narrativas históricas que minimizam as contribuições das culturas africanas ou indígenas na formação das sociedades contemporâneas. Isso ficou muito evidente no genocídio do povo palestino. A imprensa internacional vem adotando uma narrativa desonesta pra manipular a opinião popular.
2. **Criação de Consensos:** Através da disseminação de estereótipos e ideias preconcebidas sobre raças, os meios de comunicação contribuem para a aceitação tácita de estigmas raciais. Isso cria um consenso social que perpetua a discriminação, como a associação da violência ao comportamento de determinados grupos étnicos.
3. **Desvio do Debate:** O desvio do debate ocorre quando questões cruciais sobre desigualdades estruturais são substituídas por polêmicas irrelevantes. Por exemplo, em vez de discutir a reparação histórica para as comunidades afrodescendentes, o foco pode ser desviado para debates inúteis sobre a existência do racismo.
4. **Orquestração da Distração:**
A utilização de entretenimento para distrair da realidade social é evidente na criação de estereótipos raciais em programas de TV ou na glamourização de narrativas históricas que minimizam o impacto do colonialismo sobre as populações indígenas e africanas.
5. **Desacreditação e Desqualificação:** Fontes alternativas que discutem questões raciais são frequentemente desacreditadas, rotuladas como radicais ou irrelevantes. Movimentos ativistas que buscam promover a igualdade racial são muitas vezes desqualificados, desencorajando a discussão crítica.
6. **Manutenção da Apatia e do Conformismo:** A percepção de que a luta contra o racismo é uma batalha perdida ou irrelevante mantém muitos indivíduos alheios ou desinteressados em tomar atitudes significativas contra a discriminação.
7. **Controle do Pensamento Crítico:** Reduzir a educação crítica sobre a história colonial e seus efeitos contínuos permite que as estruturas racistas persistam, impedindo uma análise aprofundada das desigualdades raciais.
Essas estratégias estão entrelaçadas com o racismo estrutural e a continuidade do colonialismo, moldando percepções, mantendo sistemas de desigualdade e inibindo a busca por igualdade e justiça para todas as raças.
Como o racismo ainda é um crime perfeito ?
O racismo persiste como um “crime perfeito” no Brasil por diversas razões intrincadas e profundamente arraigadas na estrutura social do país.
1. **Impunidade e subnotificação:** O racismo frequentemente passa despercebido ou não é denunciado devido à falta de confiança nas instituições de justiça, além da ausência de legislação específica para casos de discriminação racial. Isso resulta em uma subnotificação significativa dos casos e na impunidade dos agressores.
2. **Naturalização do racismo:** O racismo está tão enraizado na sociedade que muitas vezes é considerado algo “normal”. Atitudes e práticas discriminatórias são toleradas e, em alguns casos, até mesmo incentivadas, perpetuando a ideia de inferioridade de determinados grupos étnicos.
3. **Estruturas sociais e econômicas:** O racismo se manifesta em estruturas sociais e econômicas que perpetuam desigualdades. A população negra no Brasil, por exemplo, enfrenta maiores índices de pobreza, falta de acesso à educação de qualidade e oportunidades de trabalho, sendo vítima de um sistema que favorece grupos racialmente privilegiados.
4. **Negacionismo e invisibilização:** A negação da existência do racismo ou a minimização de suas consequências cria uma barreira para a discussão e enfrentamento do problema. O racismo é frequentemente negado ou ignorado, o que dificulta o reconhecimento de suas nuances e impactos.
5. **Estereótipos e violência simbólica:** Estereótipos raciais são amplamente difundidos na mídia e na cultura popular, reforçando preconceitos e legitimando a discriminação. A violência simbólica, expressa em comentários, piadas ou representações que perpetuam estereótipos, contribui para a manutenção do racismo.
O racismo persiste no Brasil como um “crime perfeito” porque, embora ilegal, suas estruturas são tão profundamente enraizadas na sociedade que enfrentam pouca resistência efetiva.
A luta contra o racismo demanda uma transformação estrutural, institucional e cultural, exigindo o reconhecimento do problema e ações concretas para superá-lo.
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