Breve introdução da história africana da Matemática

Quando pensamos em História da Matemática, logo nos vem à mente a Grécia Antiga. Nos aprofundando um pouco mais, ouvimos falar sobre o Antigo Egito, mas muitas vezes essa civilização é considerada como uma entidade separada do continente africano. Quando ouvimos falar sobre o Antigo Egito, não pensamos na África dos homens e mulheres de pele preta, mas sim em um povo de origem branca. Isso é refletido em programas de TV, novelas, seriados e filmes, que frequentemente escalam atores de origem branca para representar figuras egípcias antigas. E, quando pensamos na África, muitas vezes nosso foco recai sobre a época colonial, a escravidão e os desafios financeiros enfrentados pelo continente.

No entanto, um artefato intrigante, o Osso de Ishango, nos lembra da rica e complexa história matemática de África, muito antes do período colonial. Descoberto na República Democrática do Congo, o Osso de Ishango é um testemunho da sofisticação intelectual dos antigos africanos. Datado de aproximadamente 20.000 a.C., o osso é notável por suas marcas entalhadas que revelam uma compreensão avançada de números e padrões.

Em termos gerais, a História da Matemática pode ser sintetizada iniciando-se com as civilizações antigas que floresceram nas margens de grandes rios. A Mesopotâmia, cuja etimologia significa “terra entre rios”, desenvolveu-se entre os rios Tigre e Eufrates, na região que corresponde ao atual Iraque, sendo marcada pelas contribuições dos babilônios e sumérios. Em seguida, o Antigo Egito, situado às margens do rio Nilo, também desempenhou um papel significativo. O surgimento do conhecimento matemático na Grécia Antiga é notável, destacando-se a proliferação de matemáticos renomados e o avanço das ideias matemáticas. A Matemática Árabe é evidenciada através de inovações como a Álgebra, o sistema de numeração hindu e as contribuições de Al-Khwarizmi, enquanto a Matemática Chinesa também apresenta seus próprios desenvolvimentos. O progresso matemático na Europa, especialmente a partir do Renascimento, é igualmente relevante. No entanto, é crucial reconhecer que, assim como em várias áreas do conhecimento, a História da Matemática não é imune ao eurocentrismo, que exerce uma influência marcante neste campo.

O Que é o Osso de Ishango?

O Osso de Ishango é um fragmento de osso de hipopótamo, que foi encontrado em Ishango. O que o torna especial são as marcas entalhadas em sua superfície, que parecem formar um sistema de contagem. Essas marcas, dispostas em grupos distintos, indicam uma capacidade impressionante para entender e aplicar conceitos matemáticos básicos.

Significado e Interpretação

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As marcas no Osso de Ishango foram interpretadas de várias maneiras. Alguns estudiosos acreditam que representam um sistema aritmético primitivo, possivelmente utilizado para registros de dados ou mesmo para propósitos educacionais. Outras teorias sugerem que o osso poderia ter uma função ritual ou simbólica, refletindo a importância da matemática e da observação na vida cotidiana e espiritual dos povos antigos.

Contribuições para a História da Matemática

O Osso de Ishango desafia a visão convencional da história da matemática, destacando que as habilidades matemáticas sofisticadas estavam presentes na África muito antes do que se imaginava. Ele representa uma prova tangível de que a matemática e a ciência eram profundamente valorizadas e desenvolvidas no continente africano, muito antes do surgimento das civilizações europeias e da Grécia Antiga.

Buscar o conhecimento decolonial é essencial para uma compreensão mais justa e precisa da História e da civilização global. Ao longo dos séculos, a narrativa dominante tem frequentemente minimizado ou ignorado as contribuições das civilizações africanas para o desenvolvimento da humanidade. No entanto, os africanos desempenharam papéis cruciais na construção das bases sobre as quais as sociedades modernas se erigiram.

Civilizações africanas antigas, como o Egito, Cartago e o Império Mali, foram pioneiras em áreas como matemática, astronomia, medicina e engenharia muito antes do que geralmente é reconhecido. As universidades de Timbuktu, por exemplo, eram centros de excelência intelectual e acadêmica que rivalizavam com as melhores instituições da época. Além disso, a invenção de sistemas de escrita e técnicas avançadas de comércio e arquitetura pelos africanos são testemunhos da riqueza e complexidade de suas culturas.

Reconhecer e estudar essas contribuições não apenas corrige uma visão historicamente distorcida, mas também enriquece nosso entendimento do desenvolvimento humano. A decolonização do conhecimento permite uma apreciação mais profunda da diversidade intelectual e cultural que moldou o mundo, e afirma a importância de uma visão mais inclusiva e equilibrada da História. Ao reavaliar e integrar essas contribuições africanas, podemos construir uma base mais sólida para o futuro, onde todas as culturas e civilizações são devidamente reconhecidas e valorizadas.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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