Bem vindo ao fim do mundo: kit existêncial de sobrevivência

Esse texto contém muitas ironias, mas vale a reflexão! Bom, vamos lá:

Adolph Trump decidiu trazer de volta o canudo de plástico. Sim, enquanto o planeta queima, as águas sobem e a biodiversidade entra em colapso, a grande batalha simbólica de sua administração é reabilitar o direito de sufocar tartarugas marinhas em nome da “liberdade”. Esse é o retrato perfeito do fim do mundo: um sistema tão decadente que, diante do colapso, escolhe dobrar a aposta na autodestruição.

Mas o retorno do canudo de plástico é apenas um detalhe cômico (e trágico) dentro de um cenário muito maior. O verdadeiro apocalipse não é repentino nem espetacular – ele se desenrola na ascensão de ideologias supremacistas que voltam a dar as caras sem qualquer disfarce. Nos EUA, na Europa e no Brasil, o fascismo já não se esconde. Ele marcha pelas ruas, ocupa cargos públicos, edita leis e destrói vidas. E, como sempre, usa a religião como escudo e arma. No Brasil, o fanatismo evangélico não apenas domina o discurso político, mas molda a estrutura do Estado, transformando-se em um poder paralelo que ameaça qualquer pensamento divergente. Enquanto isso, a Palestina sangra, e manifestar solidariedade a um povo massacrado pode ser suficiente para ser deportado da “terra da liberdade”.

O colapso não é um evento – é um processo. Ele não começa com um grande estouro, mas com a normalização da barbárie, com pequenas derrotas diárias que lentamente nos tornam anestesiados. Se você sente que algo está errado, mas não consegue nomear exatamente o que é, bem-vindo. Você está desperto no fim do mundo. E agora precisa aprender a sobreviver.

Donald Trump 2025.

1. A Mente é o Último Reduto

Quando tudo ao redor desmorona, a única coisa que ainda pode ser livre é sua mente. Mas essa liberdade não é automática – ela precisa ser conquistada. O sistema quer sua mente colonizada, distraída e fragmentada. Quer que você acredite que não há alternativa, que você precisa aceitar as regras do jogo, mesmo quando o jogo está obviamente corrompido.

O primeiro item no seu kit de sobrevivência existencial é a soberania mental. Isso significa questionar narrativas prontas, desconstruir condicionamentos, abandonar certezas cômodas. Meditação, leitura crítica, silêncio – qualquer ferramenta que permita recuperar o controle do que entra e do que sai da sua consciência. Se sua mente for tomada, sua liberdade já não existe, mesmo que seu corpo ainda esteja solto.

2. A Verdade Como Campo de Guerra

O fim do mundo não se traduz em ruínas físicas imediatas, mas na implosão da verdade como conceito. No Brasil, pastores vendem curas milagrosas enquanto enriquecem com dinheiro público. Nos EUA, a verdade é substituída pelo espetáculo político, onde decisões são tomadas não para resolver problemas, mas para alimentar narrativas que mantenham o poder intacto. O retorno do canudo de plástico não é sobre plástico – é sobre reafirmar o direito de destruir sem consequências.

Se a verdade é um campo de guerra, então pensamento crítico é armadura. Pergunte-se sempre: quem se beneficia dessa informação? O que não está sendo dito? Quem controla o discurso? Se você aceita qualquer narrativa sem resistência, já perdeu antes mesmo de começar a lutar.

3. O Tempo Acabou – Só Existe o Agora

O apocalipse moderno não segue um roteiro tradicional. Não há um “dia do juízo final”, apenas um colapso gradual de tudo o que considerávamos estável. O tempo linear – essa ideia de que o passado explica o presente e garante um futuro previsível – já não existe. Agora, vivemos num estado de colapso contínuo, onde cada dia pode trazer uma nova catástrofe ou uma nova revolução.

A solução? Presença absoluta. O passado não volta. O futuro é incerto. Se você não aprender a habitar o agora, será esmagado pelo peso da nostalgia ou pela ansiedade do que vem depois. No fim do mundo, quem domina o presente já tem metade da vitória.

4. Relacionamentos São a Nova Moeda

Quando as instituições falham, quando as certezas desaparecem, o que resta são as conexões humanas. No Brasil, o fanatismo religioso avança porque compreende isso muito bem: não vende apenas dogmas, mas comunidade e pertencimento. Se a extrema direita cresce, é porque aprendeu a construir redes de apoio e proteção, enquanto os que resistem ainda operam de maneira fragmentada.

No seu kit de sobrevivência, inclua alianças. Relacionamentos autênticos, baseados em confiança e reciprocidade. No novo mundo, não será o dinheiro ou o status que garantirão sua segurança, mas as pessoas ao seu redor. Escolha suas tribos com sabedoria.

5. A Estética do Colapso

O erro de quem resiste ao fim do mundo é tentar preservar o que já morreu. O velho mundo não pode ser salvo – e tentar segurá-lo só prolonga o sofrimento. A pergunta não é “como impedir o colapso?”, mas sim “o que podemos construir sobre as ruínas?”.

O colapso é feio, mas também é fértil. Ele abre espaço para a reinvenção, para novas formas de existir. A resistência não pode ser apenas oposição – ela precisa ser criação. Se tudo ao seu redor está desmoronando, torne-se um arquiteto do novo.

Sobrevivência Não é Apenas Viver, Mas Escolher Como Existir

O fim do mundo já aconteceu. Ele não foi anunciado em manchetes grandiosas, mas se infiltrou em pequenas mudanças, na erosão de direitos, na banalização do absurdo. Agora, só resta uma pergunta: o que você fará com isso?

Você pode se agarrar desesperadamente ao passado, insistindo que as coisas voltem a um estado que já não existe. Ou pode aceitar o caos como um convite – não para se submeter, mas para reinventar.

O kit existencial de sobrevivência não tem um manual rígido. Mas começa com um único princípio: não aceitar passivamente a realidade imposta. O colapso é real, mas a reconstrução também pode ser. A escolha, agora, é sua.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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