Australiana de 11 anos tem duas empresas e planeja se aposentar aos 15

E seguimos com mais um caso de romantização no maravilhoso mundo do empreendedorismo, onde histórias mirabolantes de sucesso na infância se tornam a norma. No centro desta narrativa está a australiana Pixie Curtis, que aos dois anos de idade já era aclamada como a “Princesa do Instagram” devido ao seu estrondoso sucesso nas redes sociais. Por trás dessa trajetória aparentemente encantadora, surge um olhar crítico sobre a realidade por trás da empreitada.

Pixie, atualmente sob os holofotes como fundadora de uma marca de tiaras e uma companhia de brinquedos infantis, conta com a administração de sua mãe, Roxy Jacenko. Esta última, munida de uma empresa e agência de relações públicas voltada para influenciadores digitais, decidiu transformar o fenômeno das redes em uma empreendedora em ascensão.

O primeiro empreendimento, Pixie’s Bows, nasceu em 2014 e prosperou, chegando ao ponto de conquistar a atenção da filha de Khloe Kardashian. Com o tempo, a empreitada se expandiu, incorporando uma linha de acessórios e joias para o público adulto, levando o nome da própria mãe.

Em março de 2021, lançaram a Pixie’s Fidgets, capitalizando na tendência global dos brinquedos fidgets. O resultado foi surpreendente, com um faturamento de US$ 200 mil já no primeiro mês. Ambos os negócios integram agora o conglomerado Pixie’s Pixs, especializado em brinquedos, jogos e alimentos direcionados ao mercado infantojuvenil.

Enquanto Roxy Jacenko figura como a gestora principal dos empreendimentos, grande parte do retorno financeiro é direcionado à sua filha. A perspectiva de aposentadoria precoce aos 15 anos, mencionada pela mãe em uma entrevista local, ilustra a dimensão do sucesso alcançado desde a tenra idade de Pixie. Contudo, por trás desta narrativa de sucesso, levanta-se um questionamento sobre os limites da romantização do trabalho infantil e a genuína autonomia e escolha de jovens empreendedores em ascensão.

Por que a sociedade valoriza tanto histórias miraculosas de sucesso e não valoriza os profissionais que trabalham diariamente nesse sistema sem sequer ter tempo para uma boa noite de sono? Não estou aqui escrevendo por inveja de uma garota que se tornou milionária em dois dias. Wow! Boa sorte para ela…

No entanto, a realidade é que estamos diante de um fenômeno que levanta sérias questões sobre os valores que orientam nossa sociedade. Pixie Curtis, aos 11 anos, já ostenta o título de milionária e planeja uma festa de aposentadoria ao completar 12. Enquanto sua história é amplamente celebrada, é crucial questionar se essa narrativa de sucesso precoce é uma exceção ou um padrão a ser almejado.

Pixie, que administra duas empresas com sua mãe, alega que sua decisão de “aposentadoria” é motivada pelo desejo de dedicar mais tempo aos estudos. Uma justificativa louvável, sem dúvida. Contudo, cabe refletir sobre o preço que pagamos ao colocar jovens empreendedores no pedestal, muitas vezes à custa de uma infância e adolescência plenas e do direito ao aprendizado e ao desenvolvimento holístico.

Enquanto celebramos histórias de sucesso mirabolantes, é crucial lembrar que a grande maioria da população trabalha incansavelmente dentro de um sistema que raramente oferece tempo suficiente para descanso adequado. Profissionais que sustentam as engrenagens do mundo muitas vezes sacrificam seu bem-estar em prol da produtividade e não recebem nem destaque nos veículos tradicionais.

Wanderson Dutch.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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