“Às vezes, o que tem visão são os mais cegos”

No ano de 2016, Rihanna lançou o álbum Anti, pela gravadora Westbury Road, com uma capa que já trazia um aviso oculto. Com tons predominantes de branco, uma mancha sugestiva de vermelho e uma imagem de Rihanna, ainda criança, com os olhos cobertos por uma coroa dourada. O detalhe mais perturbador? Uma frase em Braile: “Às vezes, os que têm visão são os mais cegos.” Era uma crítica sutil e poderosa ao mundo que ela conhecia bem – um mundo de consumo desenfreado, manipulação e superficialidade. Rihanna, assim como muitos outros artistas, nos alertava sobre o sistema em que vivemos, onde o brilho é apenas uma fachada que esconde um vazio muito mais profundo.

O trailer de divulgação do álbum traz imagens que remetem à sua infância em Barbados, em um cenário idílico de praia. No entanto, o tom muda quando as crianças começam a se afastar, caminhando em direção a uma porta escura. A cena sugere algo sinistro, um aviso de que há algo de profundamente errado escondido sob a superfície. Será que Rihanna estava nos alertando sobre o lado sombrio da indústria, sobre os crimes e abusos que acontecem nos bastidores, onde tudo que vemos é cuidadosamente embalado e vendido como entretenimento?

Lil Nas X, em seu polêmico álbum Industry Baby, também tentou nos mostrar algo semelhante. Ao gravar um clipe com dançarinos nus, ele não apenas provocou uma reação na sociedade, mas denunciou, de forma simbólica, os desejos reprimidos e as hipocrisias da indústria musical. A mensagem estava ali, clara: nem tudo o que reluz é ouro.

No entanto, essa crítica não se restringe à indústria do entretenimento. Ela se estende para todo o sistema capitalista, onde o consumo e a superficialidade reinam. Vivemos em uma cultura da embalagem, onde o que importa é a aparência, não o conteúdo. Tudo é projetado para ser consumido rapidamente, descartado e substituído por algo novo. Produtos, pessoas, ideias – tudo se torna mercadoria, vendido e embalado de maneira atraente para manter a máquina do consumo em funcionamento. 💸

A manipulação midiática é parte central desse sistema. A mídia não apenas vende produtos, mas constrói realidades, molda pensamentos e cria desejos que muitas vezes não são nossos. Ela nos ensina o que devemos querer, como devemos parecer, e até quem devemos ser. O brilho das celebridades, as tendências da moda, as novas tecnologias – tudo é cuidadosamente projetado para nos manter presos em um ciclo interminável de consumo, sempre insatisfeitos, sempre desejando mais. 🌪️

A lógica capitalista é perversa porque transforma tudo em mercadoria, inclusive a própria experiência humana. A cultura da embalagem não é apenas sobre produtos; é sobre como vivemos nossas vidas. Estamos constantemente envolvidos em um ciclo de produção e consumo de imagens, tanto nossas quanto dos outros. As redes sociais são um exemplo claro disso: estamos sempre vendendo uma versão de nós mesmos, cuidadosamente editada, para ser consumida pelos outros. E, ao mesmo tempo, consumimos as vidas de outras pessoas, muitas vezes sem perceber que também estamos sendo manipulados.

O capitalismo se sustenta na criação de necessidades artificiais. Precisamos do “novo” para nos sentirmos completos, mas essa sensação de plenitude nunca chega. Isso porque o sistema não é projetado para satisfazer, mas para manter a insatisfação constante.


A mídia, a publicidade e até a própria cultura de entretenimento trabalham juntas para perpetuar essa ilusão. Enquanto isso, o verdadeiro preço é pago por aqueles que estão nas margens – os trabalhadores explorados, as comunidades destruídas e, como sugere o trailer de Rihanna, talvez até mesmo as crianças que são levadas por essas portas escuras, vítimas de um sistema que as vê apenas como mais um recurso a ser explorado.

No fim, o brilho de Hollywood, a ostentação da cultura pop, e as promessas de felicidade oferecidas pelo capitalismo são apenas isso: promessas vazias. A verdade, como nos alertam artistas como Rihanna e Lil Nas X, é muito mais sombria. E quanto mais nos deixamos seduzir por esse espetáculo, mais nos afastamos da realidade. Nem tudo o que reluz é ouro, e quanto mais cedo reconhecermos isso, mais cedo poderemos começar a desmantelar esse sistema que se alimenta de ilusões.

Wanderson Dutch.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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