Antes de começar a explorar as sete maiores mentiras da humanidade, é crucial reconhecermos a magnitude do desafio que enfrentamos. Desde o momento em que somos introduzidos neste mundo, somos imersos em narrativas que moldam nossa compreensão da realidade. Essas narrativas não são meramente histórias ou fatos isolados, mas sim construções complexas que permeiam todas as facetas da nossa existência. Elas moldam nossas crenças, nossos valores e até mesmo nossas identidades individuais e coletivas.
Ao longo da história, várias forças têm trabalhado ativamente para perpetuar e promover essas narrativas, muitas vezes em detrimento da verdade objetiva. Governos, instituições religiosas, elites políticas e econômicas, entre outros, têm interesse em manter o controle sobre a narrativa dominante. Isso pode resultar na supressão de informações, na distorção de fatos e na disseminação deliberada de mentiras para servir a seus próprios objetivos e agendas.
A complexidade dessas narrativas deixa muitos de nós em um estado de constante desconfiança e questionamento. No entanto, também é importante reconhecer que as mentiras não são apenas impostas de cima para baixo, mas também são internalizadas e perpetuadas por indivíduos e comunidades em todos os níveis da sociedade. Nosso próprio viés cognitivo, nossas experiências pessoais e nossas interações sociais contribuem para a perpetuação dessas falsidades.
Primeira grande mentira: Egito Branco
O mito do “Egito Branco” é uma distorção profundamente enraizada na percepção ocidental da história, que tenta apagar as raízes africanas da civilização egípcia. Essa narrativa eurocêntrica não só deturpa a verdade histórica, mas também perpetua o racismo estrutural ao reforçar a ideia de superioridade branca e subestimar as contribuições significativas dos povos africanos para o desenvolvimento da humanidade.
Ao longo dos séculos, o Antigo Egito tem sido frequentemente retratado em obras de arte, literatura e até mesmo em narrativas acadêmicas como uma civilização essencialmente branca, ignorando-se a realidade de que o Egito estava localizado na África e foi habitado por povos africanos. Essa tentativa de “branquear” a história não apenas nega a herança cultural e étnica africana, mas também marginaliza as contribuições fundamentais dos egípcios para a civilização humana.
A história do Egito antigo é rica e diversificada, com uma herança cultural que influenciou profundamente várias sociedades ao redor do mundo. Desde as grandes pirâmides até os avanços na medicina, matemática e arquitetura, o legado do Egito antigo é inegavelmente uma das maiores realizações da história humana. No entanto, essa riqueza cultural muitas vezes é reduzida e obscurecida pela narrativa do “Egito Branco”, que promove uma visão distorcida e prejudicial da história.
Em 1974, durante um simpósio na cidade do Cairo, um momento crucial na história da egiptologia e da compreensão da civilização egípcia ocorreu. Cheikh Anta Diop, um notável polímata e pensador, africano, apresentou sua teoria revolucionária, desafiando as concepções eurocêntricas racistas sobre a antiguidade do Egito. Sua tese não apenas sacudiu os alicerces do pensamento convencional, mas também derrubou definitivamente o racismo científico ao demonstrar de forma incontestável que o antigo Egito, também conhecido como Kemet, era uma civilização negra, assim como as primeiras sociedades construídas pelos egípcios.
A contribuição de Cheikh Anta Diop foi um divisor de águas, fornecendo uma base sólida para redefinir a narrativa histórica do Egito antigo. Sua pesquisa meticulosa e análise minuciosa das evidências arqueológicas, linguísticas e antropológicas desafiaram diretamente as interpretações eurocêntricas que tentavam apagar as raízes africanas da civilização egípcia. Ao fornecer uma narrativa alternativa baseada em evidências concretas, Diop não apenas reivindicou a herança africana do Egito, mas também desmascarou a falsidade do mito do “Egito Branco”.
Desde então, a tese de Cheikh Anta Diop se tornou amplamente aceita na academia e entre os especialistas em egiptologia, deslocando a discussão sobre a identidade étnica do antigo Egito para um terreno mais fundamentado em evidências científicas. No entanto, apesar da clareza e solidez dos argumentos de Diop, resquícios do racismo científico persistem em algumas esferas, alimentando narrativas obsoletas e preconceituosas sobre a civilização egípcia.
Ainda hoje, existe uma resistência por parte de alguns indivíduos e grupos que se agarram às falácias do opressor, negando a verdade histórica em favor de uma visão distorcida e prejudicial do mundo. No entanto, é essencial reconhecer que a discussão sobre a etnicidade do Egito antigo está encerrada na academia, e que qualquer insistência em argumentos racistas é uma demonstração flagrante de ignorância e preconceito. A herança africana do Egito é inegável e deve ser celebrada como parte integrante da riqueza e diversidade da história humana.
Atribuição exclusiva dos gregos à invenção da filosofia:
Tudo o que os gregos sabem sobre filosofia eles apreenderam com mestres africanos. Tudo, nenhum se salva! A filosofia grega náo passa de um grande roubo dos ensinamentos africanos.
A ideia branca perpetuada de que a filosofia teve sua origem exclusivamente na Grécia Antiga é um exemplo flagrante de cinismo racista arraigado que persiste até os dias atuais. Essa narrativa reducionista não apenas subestima, mas ativamente apaga as ricas tradições filosóficas de civilizações anteriores, especialmente aquelas de origem africana, como o Antigo Egito (Kemet). O cinismo racista subjacente é evidente na tentativa contínua de silenciar e desvalorizar sistematicamente as contribuições intelectuais não europeias ao longo da história.
Ao analisarmos criticamente o eurocentrismo presente na história da filosofia, torna-se claro que a marginalização das tradições filosóficas africanas é uma manifestação do racismo estrutural e do poder colonial que permeiam as estruturas acadêmicas e sociais. O cinismo racista se manifesta na perpetuação de narrativas que enaltecem a superioridade cultural e intelectual do Ocidente, enquanto menosprezam e ignoram as realizações de outras culturas.
Por exemplo, as Máximas de Vizir Ptá-Hotepe, datando de cerca de 4 mil anos antes atrás, antes mesmo do nascimento de Platão, são um testemunho vívido do profundo engajamento com questões filosóficas em culturas não europeias. Essa obra, juntamente com outras como o Livro dos Mortos, revela um interesse sério e contínuo em questões metafísicas, éticas e cosmológicas, que desafiam a narrativa eurocêntrica da história da filosofia.
Portanto, é fundamental desafiar e desmantelar o cinismo racista presente nas instituições educacionais e na sociedade em geral, reconhecendo e valorizando as diversas tradições filosóficas que contribuíram para o desenvolvimento do pensamento humano. Somente através da rejeição do eurocentrismo e da promoção da pluralidade de vozes filosóficas podemos alcançar uma compreensão verdadeiramente inclusiva e abrangente da história da filosofia e da humanidade como um todo.
Da mesma forma, na Índia antiga, as Upanishads exploravam questões metafísicas e ontológicas. Limitar a origem da filosofia aos gregos é perpetuar uma visão eurocêntrica da história intelectual, desconsiderando as contribuições significativas de outras culturas para o desenvolvimento do pensamento humano.
A única coisa que os gregos fizeram foi roubar ensinamentos milenares e dizer que eram seus.
Datação da Terra como tendo apenas 6 mil anos:
A concepção meentirosa fundamentalista que data a Terra como tendo apenas 6 mil anos é um exemplo de interpretação literal de textos religiosos, que ignora vasta evidência científica em favor de crenças dogmáticas. A idade da Terra é estabelecida por uma variedade de métodos científicos, incluindo registros geológicos, fósseis e datações radiométricas, que apontam para uma idade de bilhões de anos. A persistência dessa visão fundamentalista não apenas contradiz o consenso científico, mas também promove uma compreensão limitada e obscura da história natural do nosso planeta, minando a importância da investigação científica e da educação baseada em evidências.
Invenção do pecado como forma de manipulação: A ideia do pecado como uma forma de controle e manipulação remonta a séculos de doutrinação religiosa e opressão institucionalizada. Ao instilar o medo da punição divina, as autoridades religiosas têm sido capazes de exercer controle sobre as crenças e comportamentos das pessoas, consolidando assim seu próprio poder e influência. Essa manipulação emocional, baseada na promessa de recompensas celestiais ou na ameaça de castigos eternos, perpetua estruturas de poder e opressão em diversas sociedades, mantendo as massas submissas e obedientes às autoridades religiosas e políticas.
Expectativa da volta de um messias: A narrativa messiânica, presente em várias tradições religiosas, muitas vezes desvia o foco da responsabilidade individual e coletiva pela transformação social. Ao promover a ideia de que um messias ou salvador virá para resgatar os escolhidos, essa crença incentiva a passividade e a resignação diante dos desafios do mundo atual. Em vez de buscar soluções concretas para os problemas sociais e políticos, muitos se contentam em esperar por uma intervenção divina, negligenciando assim o potencial de ação humana para promover mudanças positivas no mundo.
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Wanderson Dutch.
Wanderson Dutch
Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.