A ausência de Maat é simplesmente o caos e a eterna ignorância

Na sabedoria ancestral africana, especialmente no Egito Antigo, o conceito de Maat representava a ordem, a justiça e a harmonia que sustentavam o universo e a sociedade. Maat não era apenas uma divindade, mas um princípio essencial que guiava a conduta humana e o equilíbrio do mundo. Quando Maat estava presente, havia prosperidade, conhecimento e respeito mútuo; na sua ausência, emergia o caos, a desordem e, sobretudo, a ignorância. Olhando para os tempos atuais, é evidente que vivemos em uma era onde a ausência de Maat é alarmante, e as consequências disso se refletem nos mais diversos aspectos da vida social e política global.

Nos Estados Unidos, a gestão de Donald Trump trouxe um ciclo de retrocessos que exemplifica essa desconexão com os princípios de harmonia e justiça. Desde sua administração, vimos ataques sistemáticos à diversidade e à dignidade humana. Sua perseguição à comunidade LGBTQIAP+, suas políticas anti-imigrantes — como a recente autorização para deportar rapidamente aqueles que receberam visto sob o governo Biden — e o incentivo ao ódio racial contra os pretos, criaram um ambiente de polarização e medo. Em um mundo onde Maat está ausente, a mentira se torna verdade, e a ignorância é perpetuada como uma ferramenta de poder. A normalização de discursos supremacistas e até mesmo manifestações públicas nazistas nos EUA são evidências de uma sociedade mergulhada em desordem, sem um compromisso com a equidade e a justiça social.

Capa dá Revista Economy 2025

 

Esse mesmo cenário de caos e ignorância se repete no Brasil, onde a ausência de Maat se manifesta de outras formas, como o alarmante índice de analfabetismo funcional, que atinge cerca de 40% da população, segundo pesquisas recentes. A falta de acesso à educação de qualidade cria uma nação onde boa parte da população se informa quase exclusivamente pelo WhatsApp, plataforma que tem sido amplamente utilizada para disseminar desinformação e alimentar ciclos de alienação coletiva. Assim como no Egito Antigo, onde o desconhecimento da Maat significava a perpetuação do caos, o Brasil contemporâneo enfrenta os efeitos devastadores da falta de pensamento crítico e reflexão. Sem conhecimento, as pessoas tornam-se presas fáceis de narrativas manipuladoras que favorecem a perpetuação das desigualdades e das injustiças estruturais.

A desinformação em massa, alimentada pela falta de acesso a fontes confiáveis e por uma cultura que valoriza o imediatismo das redes sociais, se tornou a nova ferramenta de opressão. Governos autoritários e populistas, tanto nos EUA quanto no Brasil, exploram essa ignorância coletiva para moldar a realidade conforme suas agendas, ignorando completamente a necessidade de justiça, verdade e equilíbrio — princípios que seriam garantidos pela presença de Maat.

Se no Egito Antigo, a busca por conhecimento e justiça era vista como um caminho para a elevação da alma e a harmonia do mundo, hoje vivemos em uma sociedade onde a verdade é distorcida, a justiça é seletiva e o conhecimento é cada vez mais acessível apenas para poucos. A ausência de Maat se traduz em fake news, no racismo estrutural perpetuado pelas instituições, na crescente desigualdade social e na desvalorização do pensamento crítico.

É fundamental, portanto, resgatar os princípios de Maat em nosso cotidiano, promovendo a educação, o respeito e a valorização da verdade. Precisamos olhar para a história e aprender com os povos que nos antecederam, compreendendo que sem ordem, sem justiça e sem um compromisso coletivo com a verdade, estamos condenados ao caos perpétuo e à eterna ignorância.

A luta por um mundo mais justo e equilibrado passa pelo resgate da sabedoria ancestral africana. Maat nos ensina que é preciso resistir à manipulação, buscar o conhecimento e agir com responsabilidade, pois só assim poderemos construir uma sociedade onde a verdade prevaleça e a justiça seja acessível para todos.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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