Durante o período da ditadura militar no Brasil, muitas instituições tiveram um papel fundamental na manutenção do regime autoritário e repressivo. Infelizmente, entre essas instituições, encontravam-se também as igrejas, que muitas vezes ofereceram apoio e legitimidade ao governo.
É importante lembrar que, durante esse período, muitas igrejas ainda eram muito influentes na sociedade brasileira e possuíam grande poder de mobilização e persuasão. Além disso, muitas vezes essas instituições se colocavam como guardiãs da moral e dos valores tradicionais da sociedade, o que acabava conferindo ainda mais legitimidade aos seus posicionamentos.
No contexto da ditadura, muitos líderes religiosos apoiaram ativamente o regime. Entre os padres católicos que se destacaram nesse sentido, podemos citar Dom Eugênio Sales, arcebispo do Rio de Janeiro, que chegou a declarar em 1976 que “a situação do Brasil é melhor do que a imprensa noticia”, minimizando assim as violações dos direitos humanos ocorridas durante o regime. Outro padre que apoiou a ditadura foi José Maria Ferreira de Castro, que foi um dos fundadores do DOI-CODI, órgão de repressão do regime.
Além dos padres católicos, também houve pastores evangélicos que apoiaram a ditadura. Um dos exemplos mais notórios é o do pastor Paulo Evaristo Arns, que chegou a celebrar uma missa em homenagem ao torturador Sérgio Fleury, responsável pela morte do jornalista Vladimir Herzog. Outro líder evangélico que apoiou a ditadura foi o pastor Manoel Ferreira, presidente da Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil, que chegou a prestar homenagem ao ditador chileno Augusto Pinochet.
É importante lembrar que, apesar do apoio dado por algumas lideranças religiosas à ditadura, muitos membros das igrejas foram vítimas da repressão do regime. Essa contradição entre o discurso e a prática das igrejas naquele período deve ser objeto de reflexão e crítica por parte de todos aqueles que se preocupam com a defesa dos direitos humanos e da democracia.
A Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que ocorreu em 1964, teve um papel decisivo no golpe militar que se seguiu, ao oferecer argumentos para justificar a deposição do governo João Goulart. Composta em sua maioria por senhoras católicas, a marcha percorreu as ruas de São Paulo pedindo respeito à democracia e às instituições, mas, paradoxalmente, pedindo também a quebra do regime democrático através do impeachment do presidente.
Os organizadores da marcha afirmavam que Goulart seria o representante dos interesses comunistas no Brasil, uma argumentação que se baseava no medo do comunismo que grassava na época, sobretudo após as revoluções chinesa e cubana. No entanto, essa retórica era uma forma de legitimação para o golpe militar que estava sendo arquitetado pelos setores mais conservadores da sociedade brasileira.
Os cartazes da marcha pediam por um “governo honesto” e pelo “respeito à lei”, mas a marcha em si era uma ameaça à democracia, já que propunha a deposição de um presidente eleito democraticamente. Além disso, muitos dos participantes da marcha eram ligados a grupos políticos e econômicos conservadores que estavam insatisfeitos com as reformas sociais e econômicas que Goulart tentava implementar.
É importante lembrar que, embora a marcha tenha sido composta em sua maioria por senhoras católicas, isso não significa que a igreja católica como um todo tenha apoiado o golpe militar. Na verdade, muitos padres e bispos se posicionaram contra a ditadura e sofreram perseguição por causa disso.