Se o bolsonarismo parecia ter perdido o fôlego após os julgamentos e as derrotas recentes, engana-se quem pensa que a extrema-direita brasileira não tem carta na manga. O nome de Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo, surge como a aposta mais sólida de um campo político que não mede esforços – nem limites democráticos – para se manter vivo. Tarcísio não é um outsider improvisado, nem um bufão caricatural como Bolsonaro: ele combina tecnocracia, discurso aparentemente “moderado” e apoio pesado do capital financeiro. E é justamente isso que o torna mais perigoso.
O candidato das elites econômicas
Tarcísio construiu sua imagem na máquina do Estado, circulou por ministérios, foi apresentado como gestor competente, e agora governa o estado mais rico do país. Não tem os arroubos de Bolsonaro, mas carrega consigo a mesma agenda ultraliberal e excludente: privatizações agressivas, desmonte de políticas sociais e submissão completa ao mercado. Em outras palavras, um bolsonarista de gravata e fala mansa, pronto para ser vendido como alternativa “responsável” ao extremismo tosco do ex-capitão.
Nas pesquisas, já aparece competitivo contra Lula. E esse dado, por si só, deveria acender o alerta: a elite encontrou em Tarcísio o rosto palatável para manter os mesmos interesses, sem o desgaste da verborragia de Bolsonaro.
A máscara da moderação
O discurso de Tarcísio é calculado. Ele evita o confronto direto com a imprensa, recorre ao tecnicismo e veste o figurino de gestor pragmático. Mas por trás dessa maquiagem, esconde-se a mesma agenda que ameaça trabalhadores, povos indígenas, quilombolas e qualquer tentativa de soberania popular.
Sob sua gestão em São Paulo, vimos o avanço da privatização da Sabesp, a perseguição a movimentos sociais e a militarização crescente da segurança pública. É uma versão mais sofisticada da velha cartilha da extrema-direita: repressão em casa, entrega de riquezas ao mercado, desmonte de direitos coletivos.
O desafio para a esquerda
A esquerda brasileira, muitas vezes dividida em disputas internas, precisa compreender que Tarcísio representa um inimigo estratégico de maior envergadura do que o próprio Bolsonaro. Enquanto o ex-presidente arrasta consigo a pecha de golpista e inelegível, Tarcísio surge como alternativa “limpa” para setores que jamais aceitarão Lula.
E não se enganem: o arsenal da extrema-direita será mobilizado. Fake news, lawfare, chantagem do mercado, terrorismo digital, violência de rua. A experiência de 2018 mostrou que eles não têm limites. Se o campo progressista não se preparar com organização, narrativa e unidade, corre o risco de enfrentar um adversário letal travestido de gestor eficiente.
Tarcísio de Freitas não é apenas mais um nome no tabuleiro de 2026. Ele é o projeto de poder da extrema-direita em sua forma mais sofisticada. Um Bolsonaro sem as grosserias, mas com o mesmo programa antipopular e entreguista. O verdadeiro inimigo não é só o ex-presidente derrotado nos tribunais, mas aquele que, com fala mansa, tenta conquistar o coração das elites e a mente de um eleitorado cansado da polarização.
A história mostra: subestimar inimigos bem vestidos é um erro fatal. Lula e os setores progressistas não podem cair nessa armadilha.