A nova cruzada da extrema-direita: Michelle Bolsonaro e Silas Malafaia em campanha messiânica para 2026.

Nos bastidores da política brasileira, uma nova configuração começa a tomar forma. Com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro até 2030, o Partido Liberal (PL) e aliados da direita buscam alternativas para manter sua influência no cenário político. Nesse contexto, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro surge como uma potencial candidata à Presidência em 2026, apoiada por figuras proeminentes do meio evangélico, como o pastor Silas Malafaia. Essa aliança entre política e religião levanta questões sobre os rumos da democracia brasileira e o papel da fé na esfera pública.

Michelle Bolsonaro: A Construção de uma Imagem Política

Desde o início do mandato de Jair Bolsonaro, Michelle Bolsonaro foi apresentada como símbolo de valores tradicionais, destacando-se por sua atuação em causas sociais e seu envolvimento com a comunidade evangélica. Essa imagem foi cuidadosamente cultivada para atrair o eleitorado feminino e religioso, segmentos nos quais Bolsonaro enfrentava resistência. Em 2022, Michelle assumiu papel central na campanha presidencial, utilizando discursos religiosos e referências bíblicas para mobilizar apoiadores. Agora, com a possibilidade de sua candidatura à Presidência, essa construção simbólica ganha novos contornos.

Silas Malafaia: O Pastor na Política

Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, tem sido uma voz ativa na política brasileira, especialmente em defesa de pautas conservadoras. Nos últimos anos, intensificou suas críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF), particularmente ao ministro Alexandre de Moraes, e se posicionou como defensor da candidatura de Michelle Bolsonaro. Malafaia argumenta que Michelle reúne apoio entre bolsonaristas, mulheres e evangélicos, sendo uma opção viável para a direita em 2026. Sua atuação evidencia a crescente influência de líderes religiosos na política nacional.

A Religião como Ferramenta Política

A utilização da religião como instrumento político não é novidade. Nos Estados Unidos, Donald Trump adotou estratégias semelhantes, aproximando-se de líderes religiosos e utilizando discursos messiânicos para consolidar sua base de apoio. No Brasil, a aliança entre política e religião tem se intensificado, com líderes evangélicos desempenhando papéis centrais em campanhas eleitorais e na formulação de políticas públicas. Essa tendência levanta preocupações sobre a laicidade do Estado e os limites entre fé e política.

Os Riscos da Politização da Fé

A crescente politização da fé pode ter implicações profundas para a sociedade. Quando líderes religiosos utilizam sua influência para promover agendas políticas, corre-se o risco de marginalizar outras crenças e opiniões, comprometendo o pluralismo e a liberdade religiosa. Além disso, a instrumentalização da religião pode ser utilizada para justificar políticas discriminatórias e autoritárias, como observado em regimes que utilizam a fé para consolidar o poder. É fundamental que a sociedade esteja atenta a essas dinâmicas e promova o diálogo entre diferentes visões de mundo.

A possível candidatura de Michelle Bolsonaro à Presidência, com o apoio de líderes religiosos como Silas Malafaia, representa um momento significativo na política brasileira. Essa aliança entre fé e política reflete tendências globais e desafia os princípios da laicidade e do pluralismo. É essencial que o debate público considere os impactos dessa confluência e busque caminhos para garantir uma democracia inclusiva e respeitosa das diversas crenças e opiniões.

Um projeto de poder que nunca foi nosso

Para o povo preto, qualquer projeto político baseado na lógica da extrema-direita não é apenas um retrocesso — é uma ameaça existencial. Quando se fala no retorno de figuras como Michelle Bolsonaro e Silas Malafaia ao centro do jogo político, o que está sendo anunciado não é apenas uma disputa eleitoral. É a reativação de uma estrutura que nega nossa humanidade, nossa história e nosso direito de existir com dignidade.

Durante o governo Bolsonaro, vimos o desmonte sistemático das poucas políticas públicas voltadas à população preta. Cortes em verbas para cultura, educação, saúde e programas de promoção da equidade foram justificados por discursos moralistas e religiosos. O movimento negro, já historicamente marginalizado, foi ainda mais empurrado para fora das decisões e da visibilidade. Os quilombolas, os terreiros, os jovens periféricos, os indígenas e toda forma de existência que não se curvasse à pauta da branquitude hegemônica foram tratados como inimigos do Estado. Isso não é exagero. Isso é dado.

E ainda que o atual governo — dito progressista — falhe profundamente ao não priorizar a reparação histórica, ao não colocar pretos em posições de poder reais, ao não avançar em políticas de proteção estrutural, é preciso dizer com todas as letras: a volta da extrema-direita seria devastadora. Porque ela não apenas ignora nossa dor, ela a nega. Ela a debocha. Ela a transforma em piada de internet, em alvo de milicianos digitais, em número de estatística fria, sem alma, sem nome, sem ancestralidade.

Um país que nunca reconheceu oficialmente o genocídio que cometeu contra os africanos e seus descendentes — que sequer tem uma política de indenização histórica — flerta agora com líderes que reforçam a lógica do castigo, da punição, da meritocracia racializada, da religião como dispositivo de controle social. Malafaia é a expressão mais caricata disso: um homem branco, rico, que se diz porta-voz de Deus, mas que jamais defendeu a vida preta com coragem. Que se silencia diante das chacinas e se agita apenas quando seus interesses de classe ou seus aliados de poder estão ameaçados.

O que está em jogo não é apenas um nome em uma urna. É a possibilidade de uma geração inteira de pessoas pretas ver seus direitos ainda mais apagados, sua história mais uma vez reescrita por quem nunca a viveu, sua espiritualidade criminalizada, sua força desmobilizada.

Enquanto não houver um projeto de país que reconheça que as bases da violência estão enraizadas na colonialidade, na supremacia branca e no cristianismo como braço ideológico da dominação, qualquer eleição será apenas a ilusão de um avanço. Mas entre essa ilusão e o pesadelo declarado da extrema-direita, não resta dúvida: resistir é urgente.

Se quiser, posso dar um título pra esse trecho também ou seguir com outros blocos com esse mesmo teor.

Referências:

  • “Bolsonaro cogita Michelle como candidata à Presidência desde que seja nomeado para a Casa Civil” – O Globo  
  • “Silas Malafaia defende candidatura de Michelle Bolsonaro” – YouTube  
  • “Trump e o cristianismo” – IHU Unisinos  
  • “Religião, democracia e extrema direita” – Fundação Heinrich Böll  
  • “Michelle Bolsonaro: A trajetória da primeira-dama que promete Jesus no governo em cruzada por Bolsonaro entre evangélicas” – Terra  
Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

apoia.se