Trump não é o Rei do Mundo e os EUA são o verdadeiro estado terrorista, como já apontou Noam Chomsky. Pois bem, quem diria que um aplicativo daria um abalo estrondoso no país imperialista que não consegue viver sem uma guerra.
Nos últimos dias, o nome Liang Wenfeng tornou-se um fenômeno nas redes sociais e na mídia chinesa. Fundador da startup DeepSeek, Wenfeng foi rapidamente alçado ao status de herói nacional, sendo saudado como o “Herói da IA de Guangdong” após sua ferramenta de inteligência artificial conquistar o topo dos downloads da AppStore nos Estados Unidos, superando o renomado ChatGPT, da OpenAI. Este marco não apenas abalou o mercado financeiro americano, mas também reforçou o papel da China como uma potência tecnológica global.
Liang Wenfeng, natural da cidade de Zhanjiang, na província de Guangdong, transformou uma visão ousada em realidade ao fundar a DeepSeek em 2023 na cidade de Hangzhou, um dos maiores polos de inovação tecnológica da China. Com formação em engenharia eletrônica e da informação e uma sólida carreira como cofundador do fundo de investimentos High-Flyer, especializado em análises quantitativas, Wenfeng liderou a criação de um modelo de linguagem que rapidamente se destacou no mercado global.
O impacto da DeepSeek vai muito além do seu sucesso nas lojas de aplicativos. A ferramenta gerou uma reação imediata no mercado financeiro americano, causando quedas acentuadas nas ações de gigantes como Nvidia e Oracle. Com apenas US$ 6 milhões investidos no desenvolvimento de seu modelo, Wenfeng conseguiu não só rivalizar com uma das maiores empresas de IA do mundo, mas também superar a OpenAI em território americano, algo inimaginável há alguns anos. Esse feito posiciona a DeepSeek como um símbolo de uma nova era em que a China não apenas compete no campo da inteligência artificial, mas desafia diretamente a hegemonia tecnológica ocidental.
A aclamação de Wenfeng na China tem sido massiva. Usuários do Weibo, a versão chinesa do X (antigo Twitter), inundaram a plataforma com discussões sobre seu sucesso. Em tópicos virais que acumulam milhões de visualizações, ele foi comparado a outras figuras importantes da inteligência artificial no país, como Yang Zhilin, fundador da Moonshot AI, e He Kaiming, autor de um dos artigos mais influentes em aprendizado de máquina. “O país deve protegê-lo”, escreveu um influenciador de Xangai com mais de 2 milhões de seguidores. O jornal local Yangcheng Evening News descreveu Wenfeng como um “gênio” e “grande deus com fama estrangeira”, refletindo o orgulho nacional pela conquista.
Esse entusiasmo não é apenas sobre o sucesso de um único indivíduo ou empresa, mas sobre o significado maior dessa vitória. Para a China, o DeepSeek representa a capacidade de produzir tecnologia de ponta que pode competir e vencer em mercados onde os Estados Unidos historicamente dominaram. Essa narrativa alimenta a confiança de uma nação que busca consolidar seu papel como líder global em inovação, desafiando o domínio tecnológico que o Vale do Silício construiu ao longo de décadas.
A ascensão de Wenfeng e do DeepSeek também destaca a estratégia da China de apoiar e valorizar talentos locais em setores estratégicos. Ao contrário do modelo ocidental de inovação, muitas vezes impulsionado por uma abordagem individualista e focada no mercado, a China combina esforços estatais, acadêmicos e empresariais para criar um ecossistema favorável ao desenvolvimento de tecnologias disruptivas. Essa abordagem integrada está agora colhendo frutos, como evidenciado pelo sucesso do DeepSeek.
O que torna essa conquista ainda mais simbólica é o momento histórico em que ela ocorre. Os Estados Unidos, que há muito veem a inteligência artificial como uma questão de segurança nacional, estão enfrentando desafios internos e externos à sua hegemonia global. A vitória do DeepSeek é mais do que um marco tecnológico; é um golpe na narrativa de que o Ocidente é o único epicentro da inovação. É um lembrete de que a ordem mundial está mudando e de que a China está liderando essa transformação.
Liang Wenfeng tornou-se um símbolo dessa nova era. Sua história inspira milhões de jovens chineses a enxergarem a tecnologia como uma ferramenta de empoderamento e transformação. Mais do que isso, sua conquista representa um avanço no que muitos veem como uma guerra silenciosa pela supremacia tecnológica. E, enquanto a China celebra seu “Herói da IA de Guangdong”, o mundo observa, ciente de que o futuro da inteligência artificial — e da própria ordem global — pode estar mudando de mãos.