‘Sou rico e estou perdido na vida. Percebi que só queria parecer com Elon Musk, e isso é vergonhoso.’

Vinay Hiremath: O bilionário perdido na névoa do sucesso

A jornada de Vinay Hiremath, cofundador da Loom, é um retrato das complexidades do sucesso moderno. Após vender sua startup por US$ 975 milhões (R$ 6 bilhões) em 2023, Hiremath revelou, em um post honesto, que a “vida tem sido uma névoa”. Ele confessou se sentir perdido, sem objetivos claros e, paradoxalmente, sem motivação, apesar da “liberdade infinita” que sua fortuna lhe proporciona.

Seu relato é uma crítica velada ao modelo de sucesso idolatrado pela sociedade, onde trabalho incessante, dinheiro e status são colocados no pedestal da realização pessoal. Contrariando a narrativa tradicional, Hiremath escreve: “Não tenho os mesmos desejos básicos me levando a ganhar dinheiro ou status. Tenho liberdade infinita, mas não sei o que fazer com ela.” Sua reflexão mostra que, ao alcançar o topo, ele encontrou não o êxtase, mas o vazio.

A Jornada de Hiremath: Um caminho de altos e baixos

Nascido na Índia e criado nos EUA, Hiremath iniciou sua trajetória com um espírito autodidata. Ele abandonou a Universidade de Illinois e, em seguida, embarcou em uma série de experiências em startups que o prepararam para o sucesso. Seu encontro com Shahed Khan em 2012, enquanto trabalhava na Backplane, foi o ponto de partida para a Loom, a plataforma que viria a redefinir a maneira como milhões de pessoas gravam e compartilham vídeos.

A Loom, fundada em 2015, cresceu rapidamente, alcançando 25 milhões de usuários em 400 mil empresas. O sucesso de sua startup culminou na venda para a Atlassian em 2023. Porém, o que parecia o sonho de qualquer empreendedor revelou-se um divisor de águas para Hiremath, que, aos 33 anos, percebeu que o sucesso financeiro não trouxe o propósito que esperava.

O paradoxo do sucesso

O desabafo de Hiremath é emblemático de uma questão maior: a desconexão entre o sucesso material e a realização pessoal. Em uma sociedade que glorifica bilionários e empreendedores de tecnologia, sua confissão soa como um alerta. Ele escreve sobre a ausência de desejos que o movam, descrevendo uma vida em que “tudo parece uma busca secundária, mas não de uma forma inspiradora.” Esse tipo de vazio existencial reflete o preço de uma obsessão pelo trabalho e pela busca por validação externa.

Hiremath não é o primeiro a passar por isso. Histórias de empreendedores que alcançam riqueza extrema, apenas para descobrir que ela não resolve questões internas, são cada vez mais comuns. O que torna sua narrativa única é a coragem de admitir que, mesmo com uma trajetória de enorme sucesso, ele está, literalmente, “perdido na vida”.

 

O que podemos aprender?

A experiência de Hiremath nos convida a refletir sobre a natureza do sucesso. Sua trajetória nos lembra que, sem um propósito claro, mesmo a liberdade infinita pode parecer opressiva. Ela também desafia a visão romantizada de que a realização está necessariamente ligada a conquistas financeiras ou profissionais.

Além disso, sua história destaca a importância de cultivar interesses e objetivos que transcendam o trabalho. Afinal, quando a “corrida” acaba, o que sobra? Para muitos, como Hiremath, a resposta ainda não é clara. Mas, talvez, seja um convite para que todos nós questionemos nossas próprias metas e valores, antes de cairmos na mesma névoa que ele descreve tão bem.

A armadilha de querer ser Elon Musk: O que Vinay Hiremath pode aprender com os grandes mestres orientais

Quando Vinay Hiremath admitiu que “só queria parecer com Elon Musk”, ele expôs não apenas um dilema pessoal, mas também uma problemática cultural maior: a busca incessante por um modelo de sucesso enraizado na imagem de bilionários ocidentais. Elon Musk é, sem dúvida, uma figura icônica, mas sua história, baseada em trabalho extremo, metas impossíveis e exposição pública, não é necessariamente um exemplo universal de realização. Para alguém de origem indiana, como Hiremath, seria natural também buscar inspiração nos ensinamentos dos grandes mestres orientais, que têm explorado o significado da vida, do sucesso e do propósito de maneira profunda há milênios.

A Índia, terra de sábios como Buda, Krishna, Mahavira e Paramahansa Yogananda, oferece uma perspectiva completamente diferente sobre o que significa viver uma vida plena. Esses mestres, em vez de promoverem a acumulação de bens materiais ou a validação social, defendem um caminho de autorrealização, equilíbrio e conexão com algo maior do que o ego.

•Buda, por exemplo, ensinou que o desejo é a raiz do sofrimento. Ele propôs o “Caminho do Meio”, uma vida equilibrada que evita tanto a indulgência quanto a privação. Para alguém como Hiremath, que já acumulou riqueza extrema, o próximo passo poderia ser buscar uma vida equilibrada, em vez de tentar replicar a trajetória de Musk, que é marcada por excessos e competição constante.

•Krishna, no Bhagavad Gita, ensinou a importância de agir sem apego aos resultados. Ele enfatizou que o verdadeiro propósito da vida está no serviço desinteressado e na autorrealização, não na busca incessante por validação externa. Para Hiremath, isso poderia significar redirecionar sua energia para causas que realmente o inspirem, sem a pressão de parecer algo que não é.

•Paramahansa Yogananda, autor de Autobiografia de um Iogue, trouxe os ensinamentos da meditação para o Ocidente e destacou que a verdadeira liberdade não vem de conquistas externas, mas do controle sobre a mente e as emoções. Para alguém que confessa estar perdido, como Hiremath, essas práticas poderiam ser um caminho para encontrar clareza e significado.

•Jiddu Krishnamurti, um dos maiores filósofos do século XX, sempre desafiou as pessoas a questionarem as estruturas impostas pela sociedade. Ele argumentava que o autoconhecimento era a chave para viver uma vida autêntica e livre de comparações. Essa reflexão poderia ajudar Hiremath a abandonar o desejo de ser como Musk e, em vez disso, se reconectar com quem ele realmente é.

Reconhecendo o peso da cultura e da construção de imagem

Apesar de suas raízes indianas, é compreensível que Hiremath tenha se deixado influenciar pela idolatria ocidental a figuras como Elon Musk. Ele cresceu nos EUA, uma cultura que glorifica o bilionário “visionário” como um herói moderno. Musk é o produto dessa narrativa, alguém que não apenas acumula riqueza, mas também a exibe, projetando uma vida de poder e impacto global.

Para alguém como Hiremath, que construiu sua trajetória em meio a essas influências, é natural que tenha internalizado essa visão de sucesso. No entanto, sua reflexão pública, admitindo que esse desejo era “vergonhoso”, já é um passo à frente. Ele reconhece que o caminho que o levou ao sucesso financeiro talvez não seja o mesmo que o levará à realização pessoal.

O aprendizado de reconhecer a insatisfação

Hiremath agora se encontra em um ponto de inflexão. Com dinheiro, tempo e um raro senso de autoconsciência, ele tem a oportunidade de construir uma nova vida, baseada em valores que realmente importem para ele. Sua confissão não é apenas um desabafo, mas também uma lição sobre a necessidade de redefinir o sucesso e, quem sabe, uma inspiração para uma nova fase em sua jornada. Afinal, como ele mesmo parece estar descobrindo, o maior desafio não é ganhar o mundo, mas descobrir o que fazer com ele.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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