Códigos Éticos, Filosóficos e Espirituais de África Antiga

A forma pela qual eu sempre estou falando de África por aqui ou até mesmo nos meus posts no TikTok, no Instagram, é muito simples: Se você concorda que África é o berço da civilização e, que portanto, esse grandiosíssimo continente formou a humanidade, seja em termos matemáticos, científicos, filosóficos e culturais, logo, toda minha análise sobre a sociedade será sempre partindo primeiramente do ponto de vista africano de se pensar a vida. Faz sentido isso pra você?

Pois bem, ao entender África como origem de tudo, é impossível ignorar os códigos éticos, filosóficos e espirituais que emanaram desse continente, moldando não apenas o que chamamos de civilização, mas também nossas relações humanas, nossa forma de interpretar o universo e até mesmo as práticas espirituais que atravessaram milênios. Essas ideias são, na verdade, sistemas complexos e sofisticados que, apesar de frequentemente ignorados pela história oficial, continuam a impactar o mundo de maneira profunda e transformadora.

Representação de MAAT deusa do antigo Egito.

O conceito de Maat: o equilíbrio como fundamento ético

Falei sobre este tema com mais profundidade em artigos anteriores. (Basta clicar aqui para ler) Na filosofia do Kemet (o antigo Egito), o conceito de Maat representa a ordem cósmica e ética que rege o universo. Mais do que uma deusa, Maat é um princípio de equilíbrio, verdade e justiça, algo que deve ser aplicado em todas as esferas da vida. Seguir Maat significa viver alinhado com a natureza, com os outros e com si mesmo, sempre buscando a harmonia.

Esse código ético baseava-se em práticas cotidianas que iam desde ser honesto nas relações interpessoais até proteger a coletividade. Nas cerimônias espirituais, a ideia de pesar o coração contra a pena de Maat simbolizava um julgamento baseado na leveza do espírito – ou seja, em quão alinhada a pessoa viveu com esses princípios.

Ubuntu: eu sou porque nós somos

Talvez esse seja o mais difícil Outro dos maiores legados éticos de África, e que permanece vivo em várias comunidades, é o conceito de Ubuntu. Originado das línguas Bantu, Ubuntu representa a interconexão entre todos os seres humanos. “Eu sou porque nós somos” reflete a ideia de que nossa humanidade só existe através do coletivo. Essa filosofia rejeita o individualismo exacerbado e celebra o papel de cada pessoa dentro de uma comunidade, enfatizando valores como solidariedade, empatia e colaboração.

No mundo moderno, onde a competição muitas vezes é valorizada em detrimento da colaboração, o resgate do Ubuntu é uma resposta poderosa à alienação e ao isolamento que vemos crescer na sociedade.

Relação com a natureza e o espiritual

As tradições espirituais africanas, longe de serem apenas religiões, são verdadeiros sistemas de vida que integram o humano à natureza e ao cosmos. Não há uma separação rígida entre o sagrado e o cotidiano: tudo é espiritual. Essa visão é clara em práticas ancestrais como a veneração aos ancestrais e a relação simbiótica com os elementos da natureza – terra, água, fogo, ar.

Por exemplo, em muitas culturas africanas, acredita-se que os ancestrais não apenas protegem, mas também orientam os vivos, mantendo uma conexão espiritual ativa entre gerações. Esse vínculo reforça o senso de continuidade e pertencimento, uma força que permite resiliência diante das adversidades.

Karma africano: as leis de causa e efeito

Embora a palavra “karma” seja mais associada à filosofia oriental, as culturas africanas também desenvolveram códigos éticos baseados em causa e efeito. O provérbio yorubá “O que você faz volta para você” reflete uma compreensão universal da responsabilidade por nossas ações. Na prática, isso significa que viver em desarmonia, causando dor ou injustiça, inevitavelmente trará consequências, não apenas para o indivíduo, mas também para a comunidade como um todo.

Sabedoria como legado atemporal

Frases como “Quando não há inimigos internos, não há inimigos externos” revelam a profundidade do pensamento africano, que vai além do material e do imediato. Esses ensinamentos, transmitidos oralmente e preservados em símbolos, arte e práticas culturais, são lembretes de que o equilíbrio interno e a harmonia com o mundo são as chaves para uma vida plena.

Resgatando os códigos africanos no presente

Hoje, mais do que nunca, a humanidade precisa se reconectar com esses princípios. Em um mundo fragmentado por desigualdades, crises climáticas e conflitos, os códigos éticos, filosóficos e espirituais de África nos oferecem um mapa para restaurar a harmonia. Entender que África é mais do que o “berço” da humanidade – é também o coração da sabedoria ancestral – nos permite honrar e integrar esses ensinamentos em nossas vidas.

Não posso deixar de mencionar os 7 Princípios Herméticos descritos no Caibalion. Sim, Hermes Trismegisto era africano – ele foi o grande Imhotep e Thoth. Já comentei sobre isso em outros momentos. Clique aqui para saber mais e mergulhar nessa sabedoria ancestral.

Se isso faz sentido pra você, então estamos no mesmo caminho: resgatando e aplicando a filosofia africana como uma bússola ética para a construção de um futuro mais justo, equilibrado e conectado.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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