A Epopeia de Gilgamesh: a obra que narrou o Dilúvio Universal séculos antes da Bíblia

A Epopeia de Gilgamesh e os Plágios Cristãos: A Origem Oculta do Dilúvio Universal 🌊📜

Não é novidade para quem acompanha meus conteúdos que eu costumo criticar os contos e mitologias bíblicas. A Bíblia, afinal, é mais uma coleção de saberes acumulados, apropriados e moldados ao longo de séculos, retirados de culturas anteriores e reinterpretados para fins específicos. É fundamental lembrar: o que muitos chamam de “Palavra de Deus” não é um livro divino, mas um compilado estratégico de histórias, muitas delas retiradas da rica tapeçaria cultural da Mesopotâmia, Egito, Grécia e além. 📖✨

Um dos exemplos mais flagrantes disso é a história do Dilúvio Universal. Antes de Noé sequer ser mencionado, já tínhamos o relato de Utnapishtim na Epopeia de Gilgamesh, escrita há cerca de 4 mil anos na antiga Mesopotâmia. Essa obra épica é um verdadeiro tesouro literário, registrado em tábuas de argila com escrita cuneiforme. Utnapishtim, assim como Noé, foi alertado pelos deuses sobre uma inundação que destruiria a humanidade. Ele recebeu instruções detalhadas para construir uma embarcação gigantesca, reunir nela animais e sementes, e salvar o que restava do mundo. Reconheceu algo familiar? Pois é, o “original” estava lá, em solo babilônico, muito antes de ser “adaptado” pelos hebreus. 🤔

Os cristãos: mestres em apropriação cultural?

A Bíblia não apenas “bebeu” da fonte mesopotâmica. Ela também absorveu conceitos, mitos e estruturas narrativas de diversas culturas. O dilúvio é só o começo. A criação do mundo em Gênesis, por exemplo, tem paralelos com o mito babilônico de Enuma Elish, que descreve como o deus Marduk derrotou Tiamat e formou o cosmos a partir de seu corpo. O Jardim do Éden também encontra ecos em mitos sumérios, como o paraíso de Dilmun. Até mesmo os Dez Mandamentos, tão celebrados como uma revelação direta de Deus, mostram influências do Código de Hamurábi, escrito séculos antes. 🏺⚖️

A questão aqui não é simplesmente o ato de se inspirar em histórias anteriores. Isso é natural em qualquer tradição literária ou cultural. O problema está no apagamento deliberado das fontes originais e na transformação dessas narrativas em dogmas sagrados, usados historicamente para justificar opressões, colonizações e controle ideológico. 📌

A queda de Nínive e o resgate de uma história esquecida

Para entendermos como a Epopeia de Gilgamesh sobreviveu ao tempo, precisamos voltar a 612 a.C., quando a cidade de Nínive, última capital do Império Assírio, foi completamente destruída. Após um ataque de três meses liderado pelos babilônios, a cidade foi saqueada, marcando o fim de um império que dominou “os quatro cantos do mundo”. Foi nesse cenário de destruição que a biblioteca do rei Assurbanípal — um visionário que buscou preservar o conhecimento de sua época — foi desenterrada séculos depois, trazendo à luz textos como a Epopeia de Gilgamesh. 📚🔥

Este evento é um lembrete poderoso de como os saberes humanos são frágeis diante de guerras e catástrofes. No entanto, também mostra que mesmo civilizações destruídas deixam legados profundos. O conhecimento dos assírios, babilônios e sumérios influenciou culturas vizinhas, incluindo os hebreus. E foi a partir dessa troca — ou, melhor dizendo, apropriação — que nasceram muitos dos mitos que hoje consideramos “bíblicos”.

A Epopeia de Gilgamesh é considerada uma das obras literárias mais antigas da humanidade, datando de cerca de 2100 a.C., na antiga Mesopotâmia. Escrito em escrita cuneiforme sobre tábuas de argila, o épico narra as aventuras do rei Gilgamesh, que governou a cidade-estado de Uruk. Este texto não apenas reflete as crenças, valores e questões existenciais do povo mesopotâmico, mas também lança luz sobre as raízes de muitos dos mitos que mais tarde seriam apropriados e reinterpretados por outras culturas, incluindo os relatos bíblicos.

O Herói Gilgamesh

Gilgamesh é apresentado como um rei semidivino, duas partes deus e uma parte humano. Embora poderoso e admirado, ele é também descrito como arrogante, governando com tirania. O povo de Uruk, exausto de seus abusos, pede ajuda aos deuses, que criam Enkidu, um homem selvagem e forte, para desafiar Gilgamesh.

Após um confronto inicial, Gilgamesh e Enkidu tornam-se grandes amigos. Juntos, embarcam em aventuras épicas, como a derrota do gigante Humbaba e do Touro dos Céus. Porém, essas façanhas chamam a atenção dos deuses, que decidem punir a dupla. Enkidu adoece e morre, deixando Gilgamesh devastado. A partir daí, o épico toma um rumo mais filosófico e existencial

Consumido pela dor da perda de Enkidu e pelo medo da morte, Gilgamesh embarca em uma jornada para descobrir o segredo da imortalidade. Sua busca o leva até Utnapishtim, um homem que sobreviveu a um grande dilúvio e foi agraciado com a imortalidade pelos deuses.

O relato de Utnapishtim é particularmente notável porque descreve um dilúvio universal ordenado pelos deuses para destruir a humanidade. Utnapishtim é instruído a construir uma arca e salvar sua família, animais e sementes, um paralelo inegável com a história de Noé na Bíblia. No entanto, no final, Gilgamesh aprende que a imortalidade é um dom reservado aos deuses, e que ele deve aceitar sua mortalidade, concentrando-se em viver uma vida significativa e deixando um legado para o futuro.

Epopeia de Gilgamesh, em tábua de argila datada de aproximadamente 1200 a.C. a 600 a.C.

Por que tudo isso importa?

Porque estamos falando de um processo de apagamento histórico. O cristianismo, desde sua origem, tem se apropriado de narrativas culturais para construir seu discurso. Ele transformou relatos mitológicos em dogmas, diluindo sua origem para criar uma narrativa única que servisse a seus interesses de poder. Esse processo não foi inofensivo. Ele marginalizou culturas, apagou memórias e perpetuou a ideia de que tudo o que veio antes era “pagão” ou “inferior”.

Ao questionarmos a Bíblia, não estamos apenas criticando um livro, mas enfrentando séculos de dominação cultural e intelectual. 🛡️

A Epopeia de Gilgamesh permaneceu esquecida por séculos até ser redescoberta no século XIX, durante escavações nas ruínas de Nínive, a antiga capital assíria. Lá, os arqueólogos encontraram a biblioteca do rei Assurbanípal, que continha milhares de tábuas de argila, incluindo as que narravam o épico. Desde então, o texto tem sido estudado como uma das obras mais importantes da literatura antiga, lançando luz sobre a história, mitologia e filosofia da Mesopotâmia.

Um convite à reflexão: por que ainda nos calamos?

A verdade é que, para muitos, questionar a Bíblia é desconfortável porque ela ainda é vista como a base da moralidade ocidental. Mas e se, ao invés disso, começássemos a olhar para as fontes originais? E se celebrássemos os assírios, babilônios, sumérios e egípcios como os verdadeiros visionários que ajudaram a moldar o pensamento humano? 🌍✨

Entender a origem dos textos bíblicos não é um ataque à fé de ninguém, mas um convite à honestidade histórica. O dilúvio da Epopeia de Gilgamesh é só um exemplo de como a história foi moldada, adaptada e distorcida. É hora de questionar e recuperar essas narrativas esquecidas. Afinal, quem controla a narrativa controla o poder. E eu, como sempre, prefiro estar do lado de quem questiona. 😉

Wanderson Dutch.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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