Oito Anos Não São Oito Dias: A Luta das Vítimas de Mariana Pela Justiça Continua.

A tragédia da barragem em Mariana (MG), classificada como um dos maiores desastres socioambientais na história do Brasil, completa oito anos neste domingo, 5 de novembro. No total, cerca de 1,5 milhão de pessoas foram diretamente ou indiretamente atingidas por esse mar de lama, e 19 vidas foram perdidas. No entanto, a Justiça brasileira, infelizmente, não tem correspondido à magnitude da tragédia. Atualmente, 700 mil vítimas ainda enfrentam uma batalha incansável na busca por uma reparação completa pelos danos sofridos.

A espera por justiça tem sido uma provação para essas vítimas, questionando a eficácia do sistema legal do país. Oito anos de espera não se comparam a oito dias; é um tempo prolongado de sofrimento e luta constante. O crime que ocorreu em Mariana trouxe consigo uma carga de dor e desafios incalculáveis. As comunidades afetadas, outrora pequenas e alegres, agora parecem meras sombras de sua antiga vitalidade.

Vera Lúcia Aleixo, uma quilombola de 66 anos que vive na comunidade ribeirinha de Gesteira, em Barra Longa, Minas Gerais, é uma das vozes que ecoam essa angústia. Ela é uma das muitas vítimas do rompimento da barragem de Fundão, que enfrentam as consequências desse desastre até hoje.

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) lidera a campanha intitulada “Revida Mariana” com o objetivo de garantir que esse crime não seja esquecido, apesar da ineficiência do sistema judicial brasileiro em fornecer uma resolução adequada. Mais de 100 entidades da sociedade civil, não apenas no Brasil, mas também no Espírito Santo, na Bacia do Rio Doce e em todo o mundo, se uniram para fazer parte desse manifesto. A luta por justiça e reparação persiste como um grito de resistência contra a impunidade e a negligência que continuam a perpetuar as injustiças sofridas pelas vítimas de Mariana.

Precisamos falar sobre justiça climática. A imensa maioria da sociedade acredita que já foi resolvido o problema, que isso não é mais uma questão central socioambiental do Brasil. No entanto, estamos longe de resolver o que é, sem sombra de dúvidas, o maior crime da mineração na história do mundo. Trata-se de um crime ambiental sem precedentes, um acontecimento que devastou, praticamente, toda a quinta maior bacia hidrográfica do nosso país.

As palavras de Heiter Boza, coordenador nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e um dos porta-vozes da campanha “Revida Mariana,” ecoam como um alerta urgente para a realidade que enfrentamos. Não podemos mais nos permitir a ilusão de que a questão ambiental no Brasil foi solucionada. Ao contrário, o que vemos é um legado tóxico de destruição e negligência, que abrange não apenas Mariana, mas todo o panorama ambiental do país.

A devastação da quinta maior bacia hidrográfica do Brasil, resultante do rompimento da barragem de Mariana, não é um incidente isolado. É um símbolo do desrespeito contínuo ao meio ambiente, à biodiversidade, e às comunidades que dependem desses recursos naturais. A exploração desenfreada de nossos recursos naturais e a ausência de regulamentação adequada têm deixado cicatrizes profundas em nosso país.

A justiça climática não é apenas uma preocupação de ambientalistas e cientistas. Ela é uma questão central para todas as pessoas. Estamos diante de desafios que afetarão a qualidade de vida, a segurança alimentar, a disponibilidade de água e a estabilidade social. Precisamos reconhecer que a justiça climática não se trata apenas de minimizar emissões de carbono, mas também de garantir que as comunidades afetadas por desastres ambientais sejam ouvidas, apoiadas e compensadas adequadamente.

No Brasil, a busca por justiça climática começa com a responsabilização e reparação para as vítimas de Mariana e outros desastres semelhantes. Mas vai além disso. Requer a adoção de políticas ambientais sólidas, regulamentações rigorosas e um compromisso sério com a proteção do nosso patrimônio natural. É hora de reconhecer que a questão ambiental é uma questão de justiça, equidade e sobrevivência, e não algo que podemos mais ignorar.

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Por: Wanderson Dutch

Fonte: Metropoles.

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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