7 Contribuições importantes da África para a civilização global.

Desde os primórdios da história humana, a África tem desempenhado um papel central na trajetória da humanidade. Reconhecida não apenas como o berço da humanidade, mas como sua Mãe, o continente africano é uma fonte rica e vasta de contribuições para a civilização global. Ao longo dos séculos, diversos aspectos da cultura, ciência, tecnologia e sociedade africanas influenciaram e moldaram o mundo em que vivemos hoje. Desde os grandes impérios do passado até as inovações contemporâneas, a África continua a desempenhar um papel significativo no panorama mundial.

Na esfera cultural, nomes como Chinua Achebe, autor nigeriano cujo trabalho seminal “Things Fall Apart” lançou luz sobre a complexidade da sociedade africana pré-colonial, demonstram o impacto duradouro da literatura africana no mundo. Da mesma forma, a música africana, com artistas como Fela Kuti, Miriam Makeba e Youssou N’Dour, tem cativado audiências globais, promovendo não apenas entretenimento, mas também consciência social e política.

Na ciência e na tecnologia, a África tem sido o lar de mentes brilhantes cujas contribuições foram muitas vezes subestimadas. Um exemplo é o Dr. Cheikh Anta Diop, um renomado historiador e cientista senegalês, cujo trabalho revolucionário desafiou concepções eurocêntricas da história africana e influenciou profundamente os estudos afrocentristas. Além disso, cientistas africanos contemporâneos como Neil Turok, originário da África do Sul, estão na vanguarda da pesquisa científica, trabalhando para resolver alguns dos problemas mais prementes do nosso tempo.

Na esfera política e de liderança, figuras como Nelson Mandela, cuja luta incansável contra o apartheid inspirou o mundo inteiro, destacam o papel vital que a África desempenha na busca pela justiça e igualdade. Também não podemos esquecer líderes como Kwame Nkrumah, primeiro presidente do Gana independente, cujas ideias pan-africanistas continuam a ressoar entre os povos africanos e além.

Esses exemplos apenas arranham a superfície das contribuições da África para a civilização global. Desde os tempos antigos até os dias de hoje, a África tem sido uma força motriz de progresso, inovação e inspiração para o mundo todo.

Invenção da escrita

Primeira Grande Contribuicao, a ESCRITA: A

Os hieróglifos, como uma forma de escrita, desempenham um papel crucial na demonstração da antiguidade e da influência da Civilização Africana, remontando aos tempos mais primordiais da história. A Civilização Kemética, com suas raízes na Cultura Ta-Seti, é uma prova inequívoca disso. Segundo o renomado historiador Dr. Theophile Obenga, as origens da escrita no mundo podem ser rastreadas até cerca de 3.400 a.C., quando os núbios pré-dinásticos do Egito, provenientes da cultura Ta-Seti, desenvolveram o que se tornou a primeira forma de escrita conhecida, denominada Medu (ou Metu) Neter, ou seja, a escrita hieroglífica. Esta inovação precede até mesmo o Script Cuneiforme Sumério.

A escrita hieroglífica egípcia, concebida pelos africanos do Egito pré-dinástico, é amplamente considerada como a pedra angular da civilização mundial. Isso se deve ao fato de que todas as principais formas de escrita, incluindo o hebraico, grego, latim e fenício, foram derivadas, em última análise, da escrita egípcia. Sua influência transcendeu fronteiras geográficas e temporais, estabelecendo-se como um pilar fundamental da comunicação escrita em todo o mundo antigo.

Diante disso, é inevitável questionar o curso da história mundial caso os africanos do Egito Pré-Dinástico não tivessem feito essa monumental contribuição para a civilização. A invenção da escrita por volta de 3.400 a.C. não apenas revolucionou a forma como os seres humanos comunicavam e registravam informações, mas também lançou as bases para o desenvolvimento e avanço das sociedades em escala global. Em suma, a contribuição africana para a civilização, exemplificada pela invenção da escrita, é uma peça fundamental na trama complexa e diversificada da história humana.

Desenvolvimento da Matemática:

A África emergiu como um epicentro de desenvolvimento matemático, exercendo uma influência profunda e duradoura sobre o panorama global. As civilizações antigas, como o Egito e a Núbia, desempenharam um papel central nesse processo, contribuindo com uma riqueza de conhecimento matemático que transcendia fronteiras geográficas e culturais.

No Egito, por exemplo, os antigos sábios desenvolveram sistemas de numeração complexos e refinados, bem como técnicas avançadas de geometria e cálculo. Os hieróglifos egípcios, frequentemente considerados símbolos místicos, eram, na verdade, expressões matemáticas codificadas que refletiam um profundo entendimento dos princípios matemáticos fundamentais. Além disso, os egípcios utilizavam a matemática de forma prática e aplicada em suas construções monumentais, como as pirâmides, onde precisão geométrica e cálculos matemáticos eram essenciais para garantir a estabilidade e a proporção harmoniosa das estruturas.

Da mesma forma, a civilização núbia, situada ao sul do Egito, desenvolveu suas próprias contribuições distintas para o campo da matemática. Os núbios eram conhecidos por sua habilidade em construir grandes monumentos e sistemas de irrigação, o que exigia um conhecimento sofisticado de geometria e engenharia hidráulica. Além disso, suas práticas agrícolas avançadas demonstravam uma compreensão profunda de conceitos matemáticos, como a medição de áreas de terra e a gestão eficiente de recursos hídricos.

O legado matemático das civilizações africanas antigas não se limitava apenas à sua aplicação prática na arquitetura e engenharia, mas também se estendia ao domínio da astronomia. Tanto os egípcios quanto os núbios desenvolveram sistemas calendáricos precisos, baseados em observações astronômicas meticulosas. Suas pirâmides e templos, construídos em alinhamento com os movimentos celestiais, testemunham a profunda ligação entre matemática, astronomia e espiritualidade nas sociedades africanas antigas.

Assim, é evidente que as civilizações africanas antigas não apenas contribuíram significativamente para o desenvolvimento da matemática, mas também demonstraram uma sofisticação matemática que rivalizava com qualquer outra cultura contemporânea. Seus conhecimentos matemáticos, aplicados em áreas tão diversas como arquitetura, engenharia, agricultura e astronomia, não apenas enriqueceram suas próprias sociedades, mas também deixaram um legado duradouro que continua a inspirar e influenciar o mundo moderno

Medicina:

A história da medicina remonta aos tempos antigos, e o Antigo Egito emerge como um dos pioneiros no desenvolvimento desta disciplina vital. Segundo Chiekh Anta Diop em “Civilization Or Barbarism”, figura seminal na história africana, o primeiro Gênio Polímata do mundo, Imhotep, é reverenciado como o Pai original da Medicina pelos Antigos Gregos.

Imhotep, um visionário egípcio, transcendeu as fronteiras do tempo, sendo reconhecido não apenas como um arquiteto e conselheiro de confiança do faraó Djoser, mas também como um médico e curandeiro extraordinário. Sua sabedoria e habilidades médicas eram tão reverenciadas que os antigos gregos o adotaram como um ícone da medicina, atribuindo-lhe a autoria do primeiro Juramento Médico, uma honra que hoje é amplamente associada ao lendário Hipócrates.

Na verdade, o Juramento de Hipócrates, uma declaração de ética e compromisso moral ainda recitada por médicos em todo o mundo, tem suas raízes no Antigo Egito. O primeiro Juramento Médico, formulado por Imhotep, refletia os princípios da ética médica, incluindo o cuidado aos pacientes, a confidencialidade e a busca incansável pelo bem-estar da humanidade.

A medicina egípcia era notavelmente avançada para a sua época, abrangendo uma ampla gama de práticas e procedimentos, incluindo a realização de cirurgias cerebrais. Os médicos do Egito antigo eram mestres em anatomia, farmacologia e tratamentos curativos, e muitos estudantes de medicina de outras regiões, notavelmente os gregos, buscavam aprender com os sábios egípcios.

Assim, é inegável o legado duradouro deixado pelo Antigo Egito no campo da medicina. As contribuições visionárias de Imhotep e seus contemporâneos estabeleceram os alicerces para o avanço da medicina em todo o mundo antigo e continuam a inspirar e influenciar a prática médica moderna.

Arte, Religião e Ciência

A religião, como a conhecemos hoje, teve suas raízes profundamente entrelaçadas com o Antigo Egito, um testemunho vívido das contribuições africanas para a civilização mundial.

Os Textos Funerários Egípcios, meticulosamente inscritos nas paredes dos túmulos dos Faraós durante o Império Antigo, representam os primeiros registros religiosos que delineiam a concepção de vida após a morte. Estes textos, carregados de simbolismo e ritual, oferecem uma visão fascinante da cosmovisão egípcia, onde a jornada espiritual além da vida terrena era central.

Além disso, o Antigo Kemet, nome original do Egito, deu origem à Religião Ausariana, uma das mais antigas tradições religiosas conhecidas. Este sistema de crenças abraçava a ideia de uma Santíssima Trindade, com um filho, Heru (ou Hórus), nascido de uma Imaculada Conceição da união entre sua mãe, Auset (Ísis), e seu pai, Ausar (Osíris). Esta concepção, precursora das ideias cristãs posteriores, reflete a profundidade e a complexidade da espiritualidade egípcia.

Além disso, o Antigo Kemet também foi pioneiro na concepção do monoteísmo, propondo a existência de um Ser Supremo, sem gênero, cuja vontade se manifestava em todas as formas e energias do universo. Esta filosofia teológica foi codificada na escrita Medu Neter, ou “Palavras da Natureza”, que serviu como veículo para transmitir os princípios monoteístas da religião egípcia.

Um dos registros mais significativos dessas ideias está presente na Shabaka Pedra, uma inscrição da 25ª Dinastia que preserva os ensinamentos teológicos e filosóficos da antiga religião egípcia. Estas ideias influenciariam profundamente as religiões posteriores, incluindo o Judaísmo, Cristianismo e Islã, que herdariam conceitos como a trindade divina e a ideia de um único Deus.

Além disso, a natureza metafórica da religião egípcia não apenas proporcionou uma compreensão espiritual do mundo, mas também abriu caminho para o pensamento científico moderno. A Pedra Shabaka, por exemplo, contém conceitos precursoras do átomo e equações matemáticas que antecipam a teoria do Big Bang, uma prova do profundo entendimento científico dos antigos egípcios sobre o universo.

O Dr. Gabriel Oyibo, reconhecido por explicar as equações do Big Bang contidas na Pedra Shabaka, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, demonstrando a relevância e o impacto duradouro das contribuições africanas para a física e ciência modernas. Assim, a antiga religião egípcia não apenas oferecia um código moral, mas também uma cosmologia fundamentada em uma compreensão científica das leis do universo, estabelecendo assim as bases para a física e a ciência contemporâneas.

Comércio Transsaariano: As rotas comerciais transsaarianas foram cruciais para a interconexão entre os povos da África subsaariana e do norte da África. Por meio dessas rotas, uma variedade de bens, como ouro, sal, tecidos e escravos, foram trocados, facilitando o comércio e o intercâmbio cultural entre os diferentes grupos étnicos e culturais da África e do Mediterrâneo.

Desenvolvimento de Tecnologias Metalúrgicas:

A Era dos Metais desvenda uma rica tapeçaria de contribuições da Civilização Africana para o desenvolvimento humano.

Para além da introdução do ferro, uma das mais notáveis conquistas da história da humanidade emerge na forma da metalurgia, representando a sexta significativa contribuição da África para a civilização. A arte de manipular e criar elementos metálicos assume um papel de destaque, impulsionando avanços em diversas áreas.

As ciências metalúrgicas desempenharam um papel fundamental no avanço da humanidade, com metais sendo utilizados tanto em contextos militares quanto agrícolas. Entre os muitos grupos africanos que dominaram essa arte, destacam-se os habilidosos artesãos do povo Edo, cuja maestria na manipulação do latão ficou imortalizada nos renomados Bronzes do Benin. Essas peças são testemunhos vívidos da sofisticação técnica e artística alcançada pelos africanos na metalurgia.

Além disso, a antiga arte egípcia da alquimia, conhecida como o “mistério dos africanos de Kemet” para os povos asiáticos e gregos do mundo antigo, desempenhou um papel crucial na introdução de métodos avançados de metalurgia e química. Os africanos de Kemet, conhecidos pela sua habilidade em manipular metais e produzir compostos químicos, apresentaram ao mundo antigo técnicas até então desconhecidas.

É interessante notar que Chiekh Anta Diop sugere que a palavra moderna “química” tem suas raízes na Civilização Negra do Antigo Kemet (Egito), pois essencialmente significa “a Arte Kemética”, se considerarmos uma tradução moderna. Esta sugestão destaca não apenas a importância da contribuição africana para o desenvolvimento da metalurgia e da química, mas também a influência duradoura que esses conhecimentos exerceram sobre o desenvolvimento humano.

Assim, a Era dos Metais revela não apenas as habilidades técnicas e criativas dos povos africanos, mas também destaca seu impacto profundo e duradouro no avanço da civilização global.

ASTRONOMIA:

A sétima contribuição africana para a civilização resplandece no vasto firmamento da Astronomia.

Os primeiros habitantes africanos, especificamente os núbios de Nabta Playa, que moldaram a primeira dinastia do Egito, ergueram-se como pioneiros ao estabelecerem o primeiro observatório astronômico do mundo. Seu calendário gravado em rochas, antecedendo até mesmo o renomado Stonehenge da Grã-Bretanha, remonta a pelo menos 7.000 a.C. Estes observatórios primordiais eram utilizados para monitorar os ciclos celestes, especialmente as posições da estrela Sirius, para prever os níveis de inundação do Nilo. Da mesma forma, o povo Dogon, do Mali, é reverenciado pelo seu profundo conhecimento astronômico, enraizado na religião estelar do antigo Egito. Surpreendentemente, registros sugerem que os Dogon possuíam um entendimento detalhado do sistema Sirius como uma estrela binária, informações que só foram confirmadas pelos astrônomos ocidentais no século XX.

A antiguidade e a sofisticação desses conhecimentos astronômicos africanos não apenas impressionam, mas também despertam um mistério intrigante, representando uma contribuição essencial para a riqueza do conhecimento humano. Além de erguer o primeiro observatório em Nabta Playa, a África é responsável pelo primeiro zodíaco do mundo, encontrado no antigo Templo Egípcio em Dendera.

O Zodíaco de Dendera, descoberto por Napoleão durante sua campanha no Egito em 1798, é um artefato venerável que remonta aos tempos antigos, quando o Templo de Hathor, conhecida como Het Heru na antiga Kemet, prosperava como um santuário de culto. Este zodíaco primordial, que serviu como uma pedra angular para a astrologia, transmite conceitos espirituais profundos ancorados em dados astronômicos precisos.

Nesse sentido, o Zodíaco de Dendera não é apenas uma representação astrológica, mas um testemunho vívido da Lei Cósmica Universal da Correspondência, proclamando a profunda conexão entre o macrocosmo e o microcosmo, uma crença fundamental na espiritualidade do antigo Egito. Assim, através do Zodíaco de Dendera, a África oferece ao mundo uma visão sagrada do cosmos, enraizada na sabedoria ancestral e na busca pela compreensão das leis universais que regem o universal.

Essas contribuições destacam a importância e a influência duradoura da África na história e na civilização global. Reconhecer e valorizar essas contribuições é essencial para uma compreensão mais completa do mundo em que vivemos e para promover uma apreciação genuína da diversidade e do potencial humano.

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Wanderson Dutch

Wanderson Dutch

Wanderson Dutch é escritor, dancarino, produtor de conteúdo digital desde 2015, formado em Letras pela Faculdade Capixaba do Espírito Santo (Multivix 2011-2014) e pós-graduado pela Faculdade União Cultural do estado de São Paulo (2015-2016).
Vasta experiência internacional, já morou em Dublin(Irlanda), Portugal, é um espírito livre, já visitou mais de 15 países da Europa e atualmente mora em São Paulo.
É coautor no livro: Versões do Perdão, autor do livro O Diário de Ayron e também de Breves Reflexões para não Desistir da Vida.

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